Suzanna Hopffer nem sempre se interessou pela área da Beleza. De origem cabo-verdiana, tirou a Licenciatura e Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, mas nunca pensou em associar o seu conhecimento ao serviço da cosmética. Mas foi por aí que os meandros da vida a levaram e, depois de diversas formações e um curso de dermocosmética feito pela Ordem dos Farmacêuticos, é a esta área que dedica grande parte do seu tempo e todo o seu amor. Assim nasceu a página Pele de Pêssego.

Muitos pensam que a formação da Suzanna é uma grande ajuda na hora de ler rótulos e perceber os ingredientes que compõem os produtos de Beleza. Assim como a perceber a pele, o que precisa e as suas reações. É tão linear quanto isto? Conte-nos tudo.

Graças a disciplinas como Anatomia, Fisiologia, Patologia, a minha formação-base permite-me perceber a pele. O seu funcionamento, como alguns pontos se ligam entre si ou como alguns problemas podem refletir-se na pele. Mas não é como se tivesse feito Dermatologia, aí sim, há um aprofundamento e especialização no que diz respeito à pele.

Quanto à leitura dos rótulos, alguns ingredientes são-me familiares, mas sinto que muita coisa fui aprendendo e aprofundando com muita pesquisa e leitura, depois da Faculdade. Isto porque só me interessei pela área muito depois. Embora o curso me tenha dado algumas bases, este não está voltado para a cosmética. Para quem se interessa pelo tema, existe mesmo um curso de cosmetologia, muito mais aprofundado e específico para quem quer ser formulador.

Como surgiu a ideia de criar uma página de Instagram dedicada aos cuidados de pele?

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A ideia veio muito por sugestão e insistência de amigos, pois o aconselhamento, faço-o há já muito tempo fora das redes sociais. As minhas amigas sempre me pediram conselhos sobre o tema, mas nunca me interessou muito, até que acontecia também na farmácia e eu não sabia responder. Foi aí que pensei: "isto não pode ser", e comecei as minhas pesquisas. Uma amiga apresentou-me um blog que foi importantíssimo, o blog da Marta Ferreira, A pele que habito, e entretanto conheci a Ana Alexandre, The Skin Game. A forma como elas explicam as coisas faz todo o sentido para mim, por isso fui lendo e pesquisando.

Comecei a investigar outras fontes e a ler livros, para perceber o funcionamento das coisas, a ordem de aplicação dos produtos, para que serve cada um deles, como se utiliza, etc. Comecei a gostar cada vez mais, e pronto, comecei a Pele de Pêssego com base no aconselhamento às amigas, que correu bem pois começaram a ver resultados e a aconselhar-me a outras amigas. Acrescentando a isto, notei que, sendo cabo-verdiana, senti que no meu círculo e até nos PALOP em geral, faltava alguém que falasse sobre cuidados de pele.

As pessoas sempre tiveram curiosidade em saber o que utilizo na minha pele e, na verdade, ela nem sempre foi assim. Não cuidava dela como cuido agora, antes até lavava o rosto com gel de banho e não usava protetor solar. Só há cerca de três, quatro anos é que comecei a ter cuidados, como usar protetor solar todos os dias e atenção à hidratação. E nesta plataforma vou partilhando o conhecimento e ajudo mais pessoas.

O que acha de haver já uma comunidade grande de "especialistas em skincare"?

Acho que há espaço para todos, considerando que cada um de nós vai sempre ter uma coisa diferente a dizer, vamos e/ou podemos sempre acrescentar. Mas nem sempre isto se verifica. Infelizmente, existem páginas que continuam a perpetuar os mesmos mitos, as mesmas ideologias erradas, a transmitir as mesmas inseguranças quanto aos cosméticos, ao seu uso, funcionalidade e, principalmente, no que diz respeito aos ingredientes. Mas cabe também ao consumidor fazer a sua pesquisa, tentar perceber de onde vem a informação, se está fundamentada e não acreditar em tudo.

Na minha opinião, cada um faz o seu trabalho e o seu melhor. Cada um vai destacar-se porque somos todos diferentes, temos todos visões e experiências diferentes e vamos todos abordar os assuntos de formas únicas. Desde que as pessoas sejam formadas, saibam do que estejam a falar, pesquisem, estudem, leiam, eu não estou preocupada. Só me preocupam páginas que se acham especialistas "por osmose", isso sim, já acho preocupante.

Considera que há ainda muita contra-informação ou desinformação na área da Beleza?

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Ainda há muita desinformação em relação a algumas questões. Por exemplo, o natural versus os chamados químicos, digo "chamados" porque para mim tudo é Química, ou seja, o natural versus o sintético. Os parabenos, as fragrâncias, os conservantes, são outros temas no seguimento.

Outra questão que tenho observado muito é a de exporem a lista de ingredientes e demonizarem alguns deles. Muitos querem fazer-se passar por cosmetologistas ou formuladores, e julgam o produto só pelos seus ingredientes, o que é completamente errado. Uma coisa é a lista de ingredientes, outra a performance do produto.

Falando da minha comunidade, um mito ainda muito vincado é que as pessoas de pele mais escura não necessitam de usar protetor solar, o que é um erro crasso, infelizmente alimentado até por médicos. Para além do risco de cancro, resultam também manchas difíceis de disfarçar.

Em que é que a 'Pele de Pêssego' se destaca dos demais?

As pessoas relacionam-se muito comigo. Olham para mim e dizem: "Quero ter uma pele igual à tua". E isso não é algo que me deixe muito à vontade, pois cada pele é uma pele. Penso que o 'Pele de Pêssego' se vai destacando mais pela comunidade africana — mas não só — que me segue e está a ganhar um gosto pelos cuidados de pele. A maioria dos produtos e publicidade parece estar direcionada para peles brancas, o que muitas vezes acaba por afastar as pessoas de pele negra. Em resultado disto, acabam por não saber se podem ou não usar aquele tipo de produtos.

Como tenho pele negra e sou farmacêutica, acho que vou conquistando a confiança e despertando o desejo das pessoas de cuidarem da sua pele, o que para mim tem sido espetacular, tenho obtido um feedback maravilhoso.

Embora o meu objetivo seja direcionado para todos, foco principalmente nos PALOP, para começarem a cuidar da pele, especialmente a usar protetor solar. Já muitos seguidores e pacientes de aconselhamento dizem: "Estou a adorar a minha pele", e é isso que me faz feliz, ver as pessoas felizes na sua pele.

Para além das dicas na 'Pele de Pêssego', a Suzanna cria rotinas de pele especializadas e personalizadas. Como funciona?

Neste momento, estou numa fase de transição mas, basicamente, consiste em duas avaliações, onde são abordados os hábitos e produtos que a pessoa utiliza e, consoante o objetivo e a necessidade, crio uma rotina. Atualmente faço-o por videochamada e envio de fotografias, e de seguida envio uma rotina que deve ser feita no mínimo dois meses. Depois disso, há uma reavaliação para perceber como está a correr, se é necessário alterar alguma coisa, de forma a atingir o objetivo pretendido.

Falando de redes sociais, quais os planos para o futuro?

Gostava de crescer mais, muito mais. Conseguir chegar a mais pessoas, principalmente à população negra ou descendente ou ascendente, pois sinto que é um público que ainda tem muitas dúvidas com passos básicos. Mas claro que falo para todas as comunidades, pois sou contra qualquer exclusão.
Pretendo que o 'Pele de Pêssego' seja uma biblioteca, uma base de dados, uma referência para qualquer pessoa que procura informação em dermocosmética e cuidados de pele. Educativo, elucidativo, simples, divertido e prático, é assim que quero que seja visto. Quanto a formações, vou fazer um programa de especialização em dermocosmética e gostava de fazer um curso de formulação (não vou dizer que nunca pensei em ter a minha marca). Gostava também que a pele negra não fosse esquecida no mundo da Beleza.

Inclua este passo no seu ritual de Beleza!

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