
Um pequeno-almoço delicioso com leite e cereais ou um pedaço de queijo e um iogurte no lanche da tarde, pode parecer uma boa (e inofensiva) ideia, mas pouco tempo depois, começam os sinais - inchaço, desconforto abdominal, náuseas...O que parecia um simples hábito alimentar pode estar a ser o culpado por aquele mal-estar que insiste em aparecer e não sabe porquê.
A intolerância à lactose é mais comum do que se pensa e, muitas vezes, os sintomas passam despercebidos ou são confundidos com outras condições. Para que não restem dúvidas, conversámos com a Dra. Cláudia Silva (@claudia.silva_medica.familia), médica de medicina geral e familiar, que respondeu a todas as questões sobre o tema.
O que é a intolerância à lactose e como afeta o organismo?
A intolerância à lactose é uma condição clínica em que o corpo tem dificuldade em digerir leite ou produtos produzidos com leite (laticínios). A lactose é a principal forma de açúcar no leite. Normalmente, o nosso corpo produz uma proteína chamada "enzima" que decompõe este açúcar. No entanto, nas pessoas com intolerância à lactose, o corpo ou não produz quantidade suficiente, ou a enzima não funciona corretamente. Além disso, algumas infeções ou "fragilidade" do intestino podem dificultar este processo.
Quais são os sintomas mais comuns de intolerância à lactose?
- "inchaço" abdominal
- cólicas
- gases
- diarreia
- em alguns casos, náuseas
- no adolescente, ocorrem com mais frequência vómitos
A intolerância à lactose pode surgir em qualquer idade? O que causa essa mudança no organismo?
A intolerância à lactose pode surgir em qualquer idade, mas é mais comum em adultos. Estima-se que mais de metade dos adultos tenham esta enzima, a lactase, em défice. A redução da capacidade de digerir a lactose também pode ter causa genética (neste caso, pode manifestar-se desde a infância), ocorrer quando existem doenças intestinais e em pessoas com "intestinos mais sensíveis".
Existem diferentes níveis de intolerância?
Sim. Algumas pessoas podem mesmo tolerar lactose sem sintomas em alguns momentos. Outras podem ser altamente sensíveis e experimentar sintomas mesmo com pequenas quantidades. A tolerância à lactose é bastante variável, e o grau de sintomatologia depende de vários factores, não só relacionados com a quantidade deste açúcar que se consome mas também com o funcionamento e "sensibilidade" do intestino.
Como se diagnostica a intolerância à lactose?
Em consulta, a minha avaliação começa por entender os sintomas e em que momentos surgem - para isto, tem interesse o diário alimentar, em que a pessoa regista o que comeu e como se sentiu. Se a pessoa já excluiu lacticínios da sua dieta (e isto é comum, principalmente com o leite), a ausência de sintomas também acaba por ajudar no diagnóstico.
Também avalio se existem sintomas graves, ou sintomas e/ou sinais de alarme, que necessitam de avaliação endoscópica e/ou de exame de imagem para excluir patologias que precisem de intervenção. Depois disto, se existir critério, o diagnóstico de intolerância à lactose pode ser feito por meio de diferentes testes, incluindo o teste de hidrogénio expirado ou o teste de tolerância à lactose.
Que alimentos podem substituir os laticínios sem comprometer a nutrição?
De acordo com vários fatores, como o estado de saúde da pessoa e a severidade da intolerância, no geral o tratamento passa por um ou vários destes passos:
- comer menos alimentos lácteos (e isto pode incluir produtos que no rótulo tenham "subprodutos do leite", "leite em pó" , "lactose", "soro de leite" ou whey);
- encontrar fontes não lácteas de nutrientes (como cálcio e vitamina D) e proteínas - de forma ajustada às necessidades individuais;
- tomar um suplemento de enzima para ajudar a digerir alimentos lácteos.
Caso o tratamento passe por substituir os laticínios, o plano nutricional poderá incluir alimentos fortificados com cálcio e alimentos ricos em cálcio, como vegetais de folhas verdes escuras, nozes e sementes. O consumo de suplementos de cálcio e vitamina D pode ser necessário, dependendo da dieta do indivíduo - isto deve ser avaliado individualmente em consulta.
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