
Quando, aos 40 anos, comecei a frequentar consultas de anti-ageing, estava longe de pensar que tinha ganho acesso ao exclusivo Clube da Juventude de Adquiridos. Apenas quem tem dinheiro para estas consultas pode aceder ao conhecimento superior e à expertise destes médicos únicos que prometem redesenhar-nos o estilo de vida e abrir as portas para a juventude eterna.
Os escolhidos da medicina anti-ageing
Estes médicos foram "os escolhidos", eleitos para cumprir a função mais nobre de todas: otimizar o funcionamento do ser humano a um nível superior de performance física e mental. Inicialmente, preferi ser acompanhado por médicos homens, pensando que existiria uma empatia de género. Outro homem saberia, teoricamente, o que é envelhecer no corpo de um homem. Estava redondamente enganado.
A primeira experiência: médico ou comissionista?
Numa especialidade com poucos médicos homens em Portugal, tive duas experiências infelizes. Na primeira, o doutor insistia em prescrever manipulados sem fundamentos claros. O momento mais flagrante, que me fez abandonar definitivamente as consultas, ocorreu quando sugeriu tomar algo para hipertrofia muscular, apesar de eu estar numa dieta hipocalórica. Depois de um mês sem resultados, questionei-o por e-mail, e a resposta foi evasiva: “pode ser por causa disso, mas também pode não ser”.
Antes, já me tinha convencido a trocar a proteína habitual por aminoácidos manipulados, argumentando que, sendo vegetariano, iria assimilar melhor estes nutrientes. Ora, os aminoácidos não são mais que constituintes das proteínas. Ingeri-los isoladamente ou em alimentos completos é essencialmente o mesmo, só o preço muda. Ficou claro que estava diante de um comissionista interessado apenas em encher os bolsos. Além disso, a farmácia e o laboratório de análises tinham obrigatoriamente de ser os indicados por ele.
Segunda tentativa: consultas em piloto automático
Na segunda experiência, deparei-me com um médico que apenas monitorizava superficialmente os valores dos exames. Tratou-me sempre como se fosse a primeira vez, obrigando-me a procurar os exames enviados previamente por e-mail enquanto ele parecia desligado e distraído. O mínimo que se espera nestas consultas é atenção aos valores anteriores para comparações relevantes.
Este médico trabalha numa clínica associada a um grande nome da especialidade, mas limitava-se a repetir frases encapsuladas, mal construídas e difíceis de compreender. Por exemplo, explicou que eu precisava de suplementação com iodo porque nos países com maior longevidade há maior consumo de peixe, algo aconselhável dada a minha dieta vegetariana.
"Fiquei com a sensação de que estes médicos entram na medicina anti-ageing seduzidos pela ideia de prosperidade inesgotável."
Medicina de luxo ou oportunidade fácil?
Fiquei com a sensação de que estes médicos entram na medicina anti-ageing seduzidos pela ideia de prosperidade inesgotável. Estas consultas são caras, não comparticipadas, e o mesmo acontece com suplementos e hormonas prescritos. Pagar por uma necessidade é diferente de pagar por um luxo. Talvez por serem poucos, os médicos homens sentem-se especiais, únicos e impunes.
Mulheres médicas e o contraste evidente
Curiosamente, as mulheres nesta área são empáticas, comunicam eficazmente, são organizadas e demonstram genuíno interesse. São visivelmente mais esforçadas. Não esperava, porém, experienciar pessoalmente uma desigualdade de género tão evidente na medicina atual.
Empatia de género, foi o que eu disse?
Além de discretamente estar a gerir e a criar para a sua própria marca de Moda (shhhh...), Bruno Reis é o responsável pelo Marketing e Comunicação de marcas de Beleza. Entre a criatividade e a estratégia, já foi actor, professor de yoga, gestor de redes sociais, fotógrafo e director de casting.
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