
Antes mesmo da chegada, cada hóspede recebe acesso à app do SHA, onde pode consultar a agenda do programa escolhido, fazer ajustes de horários ou reservar momentos de pausa. À chegada à clínica, o check-in é feito com atenção — foi explicado o funcionamento da referida app e como tudo iria decorrer nos dias seguintes. Seguiu-se uma visita guiada pelas generosas instalações: vimos a galeria de arte, a biblioteca (único sítio onde é permitido falar ao telefone), os estúdios de yoga e meditação, a zona de fitness, o circuito aquático, a clínica (dividida por áreas especializadas) e até a capela (SHApel), com missas duas vezes por semana.
Chegada ao meu quarto, esperava-me o primeiro ritual de acolhimento: um chá MU, dois bolinhos sem glúten nem açúcar e uma simpática carta de boas-vindas. A suite — ampla, confortável e com uma incrível vista sobre a baía de Altea — inclui walk-in closet, zona de estar, chaleira com seleção de chás e tapete de yoga. Na confortável cama estavam as almofadas com as características que eu tinha escolhido no questionário geral, enviado previamente à chegada. Apenas um de muitos detalhes de quiet luxury que se viriam a estender a toda a experiência, onde a personalização foi o elo comum.

O arranque clínico (e o primeiro alívio nos ombros)
Na primeira tarde no SHA tive a primeira consulta: Joana André, nutricionista portuguesa residente, definiu o meu plano alimentar de acordo com uma avaliação clínica e também com os meus objetivos. Elegemos em conjunto o menu Kushi, o mais restritivo dos três disponíveis e baseado nos princípios da alimentação macrobiótica. O objetivo era claro — desinflamar, regular a microbiota e iniciar uma perda de peso sustentável. Música para os meus ouvidos. Ainda sinto o peso no corpo e nos ombros que a pandemia e a menopausa me trouxeram, quase em simultâneo (ninguém merece, eu sei). A ideia de ter aqui um pontapé de partida para regular o peso, aumentar a motivação e melhorar a saúde geral deixou-me muito animada, pois, já tendo enveredado várias vezes por esforços nesse sentido, o máximo que consegui perder (e ganhar de novo) foi 1 kg. A Dra. Joana deu-me valiosos insights e truques alimentares para implementar já em casa no final do programa e, para ajudar à tarefa, ainda me ofereceu um belíssimo livro de receitas do SHA.
Não menos importante foi a completa e cuidadosa consulta de Medicina Revitalizante com a Dra. Mariel Silva, onde foi anotado o meu historial clínico e o meu estado geral presente. A especialista em medicina do envelhecimento saudável integra a equipa multidisciplinar do SHA e, tal como todos os médicos e especialistas da clínica, tem um impressionante currículo onde, no caso dela, se destaca a dedicação ao importante estudo das sirtuínas — proteínas que desempenham um papel crucial na resposta do organismo a diversos tipos de stress e que estão associadas a processos inflamatórios e ao envelhecimento. Ser atendida por alguém que avalia a saúde e o bem-estar até este detalhe é outro campeonato. Numa outra nota, reparei várias vezes ao longo destes dias que há sempre uma grande atenção e esforço permanente de todos os profissionais que nos atendem em recomendar e encaminhar — nunca de forma forçada — para outras especialidades, consoante são detetadas necessidades específicas. É o verdadeiro sinónimo de uma medicina holística integrada, de que tanto ouvimos falar mas que pouco se experiencia na prática.
Comer bem, viver melhor

No SHA, a nutrição é entendida como parte essencial do processo de recuperação e equilíbrio. As refeições são naturais, alcalinas e adaptadas às necessidades individuais, tendo por base ingredientes de origem vegetal e, pontualmente, marinha. Evitam-se alimentos processados, valorizam-se produtos locais, sazonais e de cultivo biológico, e combinam-se os princípios orientais da macrobiótica com as recomendações da Organização Mundial da Saúde e da Harvard Medical School. Nada, mesmo nada, é deixado ao acaso.
Nesta clínica existem três menus ou "dietas" disponíveis e cada cliente, após a consulta de nutrição, tem a indicação de qual deverá ser o seu: o Kushi, o mais restritivo, indicado para quem pretende controlar o peso ou desintoxicar. Isento de glúten, sal, óleo, farinhas e frutos secos, inclui algas, sopas e purés com propriedades purificantes. O Biolight é uma opção intermédia, que permite um maior equilíbrio, incluindo peixe, frutos secos, azeite e até pequenas quantidades de massa. Por fim, o SHA Menu é a proposta mais gourmet, pensada para quem deseja aprender a comer de forma saudável sem abdicar da variedade, da criatividade e de um toque sofisticado — inclui entrada, prato principal e sobremesa saudável.
Ao longo da semana, a alimentação foi realmente uma das melhores surpresas. O restaurante SHAmadi, onde são servidas todas as refeições, reflete bem o espírito do SHA: silêncio, discrição e um sentido comum de propósito. O meu menu Kushi, isento de sobremesas e servido em pequenas porções, revelou-se espantosamente delicioso, saciante e equilibrado.
Durante a estadia, participei também num workshop de cozinha, onde pusemos literalmente as mãos na massa. Com o bem disposto chef Rubén Calvo, um ex-segurança privado que "tropeçou" no SHA e por cá deu um novo rumo à sua carreira, aprendemos a preparar uma excelente paella vegetariana e um delicioso brownie de alfarroba — duas receitas que juntam sabor e saúde, como é regra por aqui. Falámos sobre os princípios base da alimentação SHA, aprendemos a escolher os utensílios ideais (na cozinha do SHA usam-se os Rolls Royce dos tachos e panelas, em titânio, considerado o material mais seguro em termos de prevenção de toxicidade por contágio) e discutimos algumas técnicas simples que podemos replicar em casa. Foi um dos momentos mais descontraídos, saborosos e úteis de toda a semana. O melhor de tudo? Todas as receitas estão disponíveis até ao dia de hoje na app do SHA.
Dica: um dos rituais mais curiosos das principais refeições é o shot de vinagre de cidra de maçã — servido antes do almoço e do jantar — que ajuda na digestão e tornou-se um hábito que trouxe comigo e ainda não abandonei.
Os diagnósticos e terapias avançadas

O SHA baseia o seu método clínico em nove áreas fundamentais:
nutrição saudável, terapias naturais, medicina preventiva e de envelhecimento saudável, estética avançada, estimulação cognitiva, saúde emocional, bem-estar e equilíbrio interior, desempenho físico e aprendizagem de novos hábitos através da Healthy Living Academy. O meu diagnóstico de medicina preventiva foi, em si, uma autêntica experiência inesquecível e imersiva: fui levada para uma minimalista mas acolhedora sala branca, que mais parecia saída de um filme futurista onde, de equipamento em equipamento, fui medida e analisada até à obtenção de uma completa avaliação corporal e cognitiva.
Nessa sessão, foi feito um mapeamento do campo eletromagnético do meu corpo — uma abordagem científica que permite avaliar o estado de saúde energética, detetando possíveis desequilíbrios. A partir desta leitura, são sugeridas estratégias terapêuticas específicas. Também fiz testes de composição corporal, de stress oxidativo e uma bateria de avaliações cognitivas. Descobri, por exemplo, que a minha capacidade de "rendering" mental — o tempo de resposta cognitiva — podia estar a precisar de descanso. Spoiler: estava mesmo.
Posteriormente, numa consulta subsequente de Medicina Revitalizante, foram-me apresentados os resultados desta avaliação e, em função disso, decididos ou alterados os tratamentos da minha agenda. Confirmei o meu interesse na chelation therapy, que ajuda a eliminar metais e elementos tóxicos do organismo e na ozonoterapia. Tenho de destacar este último tratamento, realizado ao segundo dia da estada, porque teve um efeito notório quase imediato. Foi, sem dúvida, o protocolo que mais diferença imediata me causou: uma sensação de leveza, o "levantar" de cansaço mental e físico e, note-se, esse bem-estar perdurou de forma intensa durante semanas — atrevo-me a dizer que ainda dura. Vou sem dúvida procurar repetir este tratamento, no SHA de preferência mas, se necessário, em Portugal. Já o tratamento de quelação, que consiste num protocolo médico que utiliza substâncias quelantes (como o EDTA) para remover metais pesados e toxinas do organismo. Foi-me administrado por via intravenosa, enquanto relaxava numa confortável poltrona. Todos nós, ou a grande maioria da população ocidental, temos a presença de metais como como chumbo, mercúrio ou cádmio no organismo, podemos agradecê-lo à exposição a alimentos que contêm estes alimentos (olá, salmão de viveiro, com mercúrio) ou objetos que utilizamos no dia-a-dia (olá tachos e panelas com superfície anti-aderente). Estas substâncias não são eliminadas de forma natural pelo nosso organismo e, é sabido, "agarram-se" aos nossos órgãos e até aos neurónios, contribuindo para o declínio progressivo de funções motoras e até cognitivas. Achei ótima a ideia de me ver livre de alguns desses elementos tóxicos, através deste procedimento que também é explorado em contextos de medicina preventiva e anti-envelhecimento.
Excelência técnica e humana

Entre todas as atividades e tratamentos que realizei, mais de duas dezenas, tenho ainda a destacar a sessão de crioterapia, num equipamento que mais parecia uma cápsula que me ia levar a Marte, onde me esperavam 2 minutos e pouco a uma temperatura (negativa) de 120 ºC. Não achei possível que aguentasse tanto tempo mas a experiência da terapeuta revelou-se extremamente efetiva e o resultado ainda mais: fiquei num estado de clareza mental e leveza corporal que se somaram - e potenciaram - a totalidade do programa.
As duas sessões com uma personal trainer são também dignas de referência — uma de avaliação e outra de alongamentos. Em ambas, senti uma abordagem verdadeiramente individualizada: exigente, mas respeitadora dos limites e escuta ativa das expetativas e preocupações. Parece tão simples - e aqui no SHA é-o, sem dúvida mas, porque será tão difícil encontrar noutros sítios quem nos ouça, conduza e respeite nesta área específica do fitness?
Nas terapias orientais, não posso deixar de destacar outras três experiências memoráveis: a massagem Thai, a terapia Psamo e a Shirodara. Pode parecer exagerado da minha parte mas, acreditem, não sou de exageros e já tenho anos suficientes destas andanças, em todos os cantos do Mundo para dizer que foram das melhores experiências que já tive e com uma qualidade de execução rara. Se aqui e ali, num ou noutro spa, nos sentimos a levitar depois de um tratamento, no SHA senti isso várias vezes ao dia, todos os dias. Até o Watsu que, se tivesse de eleger um único tratamento para levar para uma ilha deserta, seria este, foi realizado com mestria, rigor e entrega.
A avaliação final ou, como tudo flui (dentro de um roupão branco)

Foram três dias e meio intensos, entre terapias, consultas e momentos de pausa. O que o SHA oferece vai além do wellness de superfície: há uma verdadeira estrutura clínica, protocolos bem afinados e uma escuta ativa das necessidades individuais.
Não é uma experiência acessível a todos — mas, sabendo o que sei agora, voltaria a fazê-la sem hesitar. Os efeitos físicos, mentais e emocionais estenderam-se muito para lá dos dias passados em Alicante.
É importante referir que, durante esses dias, perdi cerca de 3 kg — um dos objetivos com que cheguei e que se revelou extremamente motivador. A perda de peso aconteceu de forma surpreendentemente fácil, apesar da grande restrição calórica.
A elegância no detalhe, rigor no cuidado e uma visão holística do bem-estar: o SHA não é apenas um spa e é muito mais do que uma clínica. É um patamar de excelência na área da saúde e do equilíbrio físico e emocional. Entre as consultas, diagnósticos e tratamentos, explorei várias vezes o circuito de águas interior, com piscinas aquecidas, sauna, banho turco, plunge pool e zonas de contraste térmico. A plunge pool de água gelada foi uma descoberta: voltei a ela várias vezes ao longo da estadia, evoluindo dos joelhos até à imersão total durante vários minutos — algo impensável para mim em toda a minha vida, sou conhecida (e gozada) por passar um verão a molhar-me apenas até às canelas. Este tipo de terapias — silenciosas, sensoriais e contínuas — marcam o tom da experiência e são, a banda-sonora terapêutica que acompanhou toda a minha experiência no clínica no SHA. Obviamente está tudo planeado desta forma mas a vivência é natural e espontânea: se preferirmos ir até à suite descansar 45 minutos entre marcações, podemos fazê-lo. No meu caso e, ao longo dos 3 dias e meio de programa, só o fiz uma vez. Afeiçoei-me aos espaços tranquilos das zonas de tratamentos, nos 3 pisos encontramos salas de espera confortáveis, sempre servidas por água e chás e por staff discreto mas atento. Lembro-me que ainda não era o final do primeiro dia e eu, sentada num desses espaços à espera do próximo tratamento, sorri para dentro enquanto observava aquele tranquilo vai-vém de clientes oriundos de todos os cantos do mundo, de todas as realidades sociais e financeiras, unidos por um propósito de saúde e um roupão branco. Era como se fossemos todos passegeiros da mesma classe, numa nave espacial gigante e todas as preocupações tinham ficado na Terra.
Se o "Céu" fosse assim, a eternidade seria muito convidativa. Aqui a diferença é que podemos ir, voltar e e regressar ao SHA, sempre que quisermos.

- Viajámos até ao SHA e realizámos toda a experiência descrita, a convite do mesmo.
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