
Os patches ou packs de óleo de rícino (ou castor oil patches, como são conhecidos) tornaram-se virais nas redes sociais nos últimos tempos. As internautas aplicam este produto na zona abdominal durante a noite, com a promessa de múltiplos benefícios como reduzir o inchaço, ajudar na digestão ou ter um efeito detox. Mas será que existem evidências científicas que comprovem a eficácia desta técnica? Estivemos à conversa com Rute Pereira (@rute_pereira_terapeuta), especialista em Medicina Tradicional Chinesa e Medicina Natural, que desmistificou todas as questões sobre este tema.
É verdade que os patches ou packs de rícino podem trazer-nos estes benefícios e outros?
O óleo de rícino tem várias propriedades já estudadas e comprovadas. Extraído das sementes trituradas da planta ricinus communis, é um óleo rico, com elevada viscosidade e estabilidade, o que lhe confere propriedades cosméticas, farmacêuticas e industriais.
Estas são lhe atribuídas pela composição rica em ácido ricinoleico, com propriedades bio-activas (ou seja, ações a nível celular). Ações essas que se podem traduzir em benefícios anti-inflamatórios e analgésicos, modulação das prostaglandinas, os principais mensageiros da inflamação; efeitos antimicrobianos, contra algumas bactérias e fungos; efeitos laxantes, por aumento da estimulação dos movimentos peristálticos do intestino.
Estes efeitos do ácido ricinoleico, tornam-no num possível aliado para o combate a obstipação, á inflamação crónica e também à dor. A sua utilização em patches ou packs, ainda não tem estudos científicos credíveis associados, mas aparenta uma boa capacidade de condução de outros princípios ativos através da pele e, acima de tudo, estando indicado para utilização em cicatrizes e estrias. E aqui, sim, temos estudos mais importantes e credíveis: nutrição, regeneração e antienvelhecimento.
Qual é a forma correta de utilizar os packs?
Como ainda não existem muitos estudos sobre a utilização correta desta técnica e, sendo que não são a panaceia para todos os males (nem devem ser usados como tal), eu recomendo prudência na sua utilização. Existem pessoas sensíveis ao óleo de rícino e a utilização dos packs por um longo período de tempo (durante a noite, por norma), pode causar indisposição, mal-estar digestivo, cólicas ou até diarreia.
Recomendo antes a massagem com óleo de rícino amornado na zona do ventre. Esta deve ser feita no sentido dos ponteiros do relógio e de fora para dentro, até à sua total absorção. Pode começar por 3 a 5 noites por semana, para perceber se não existem efeitos indesejáveis. A partir daí, pode testar para os patches, que, mesmo assim, devem ser usados sempre com prudência, durante uma semana seguida no máximo.
Podem ser usados noutras partes do corpo?
Sim. Nomeadamente, nas zonas lombar e a cervical para atenuar a dor, em cicatrizes já em fase seca ou em estrias recentes.
Os packs de óleo de rícino podem ser feitos em casa ou devem ser feitos com utensílios específicos?
Podem ser feitos em casa, sim, mas são tão baratos que não vale muito a pena o trabalho. De qualquer forma, podemos adquirir compressas em TNT (tecido não tecido), impregná-las com o óleo e colar na barriga com adesivo.
Qual a rotina certa de utilização?
Devido a falta de estudos científicos de grande dimensão ou credibilidade, ainda não existe uma rotina correta de utilização. No entanto, como disse acima, não recomendo que seja usados mais do que uma semana seguida.
Quanto tempo pode demorar a sentir diferenças no organismo?
O óleo de rícino tem uma ação potente e, dependendo das necessidades do organismo. Tanto se pode notar resultados desde a primeira noite, como demorar mais tempo, pois os organismos não são todos iguais e, mais uma vez, existem poucos estudos neste sentido.
Existem contra-indicações para a utilização do óleo de rícino?
Já foram reportados efeitos secundários graves como cólicas severas, vómitos e diarreias com a ingestão de óleo de rícino. Contudo, com a utilização dos patches ainda não foram reportados casos documentados, porém a sua elevada absorção pela pele, pode causar estes riscos. Desaconselho a utilização destes a pessoas que tenham doença inflamatória do intestino, doença de Crohn, colite ulcerosa, doença do cólon irritável e, claro, doença oncológica de qualquer órgão digestivo, contudo, pode consultar o seu médico.
Em jeito de conclusão, eu diria que é fundamental utilizar estes patches com muita consciência e atenção, refletindo sobre a sua eficácia e necessidade em detrimento de outros tratamentos mais estudados e recomendados em primeira linha.
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