A alimentação é como a química: há combinações que ajudam e outras que, digamos, são mais delicadas do ponto de vista da digestão, absorção e optimização da nossa saúde. Sempre soubemos — e suspeitávamos — que era assim, mas os estudos mais recentes nesta área estão a desvendar detalhes que podem mesmo fazer a diferença na forma como encaramos os alimentos e a forma correcta de os comer e combinar. Já reparou que, por vezes, se sente “mais cheio”, “sonolento”, “afrontado” ou “com pouca energia”? Vamos agora perceber alguns detalhes que podem ajudar muito a encontrar o correcto equilíbrio alimentar.

Mastigar bem faz mesmo a diferença

Comecemos pela importância de mastigar devagar e escolher os alimentos certos para certas alturas do dia. De facto, toda a boa digestão começa na boca, no processo de mastigação e emulsão alimentar e, acrescento muitas vezes, até antes de ingerirmos os alimentos, na altura em que estamos a escolher o que vamos comer. Sabia que o correcto processo digestivo deverá contar com pelo menos 10 a 15 mastigações? Sugiro assim começar hoje mesmo com atenção especial a este detalhe. Ingira pequenas porções de cada vez e mastigue bem cada alimento! Verificará que a sua digestão e sensação de bem-estar vão melhorar muito, evitando afrontamentos e desconforto digestivo.

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A ordem certa para comer: legumes, proteína e só depois hidratos

Numa refeição principal que contenha hortícolas, proteína e hidratos e, de forma a minimizar picos de glicemia ou elevação rápida de açúcares na corrente sanguínea, sugiro começar pela salada ou legumes. De seguida, as fontes de proteína como peixe, carne, ovos ou proteínas de origem vegetal e, só depois, terminar com os alimentos ricos em hidratos, como batata, massas ou arroz.

Evitar excessos de alimentos do mesmo grupo e terminar a refeição com um chá digestivo

Tente também evitar, na mesma refeição, misturar alimentos ricos em nutrientes do mesmo grupo, como proteínas ou hidratos. Exemplo: misturar muitas carnes ou diferentes tipos de hidratos. Se acontecer, verificará que a digestão se arrastará por mais tempo, causando inchaço abdominal e desconforto digestivo. A sonolência é também uma consequência comum, devido ao fluxo sanguíneo necessário para acudir a esta sobrecarga digestiva, diminuindo o aporte para outras zonas fundamentais como o cérebro. Sugiro, ainda assim, que se tal acontecer, faça como os povos orientais — chineses e japoneses — que, no final de uma refeição, ingerem um pouco de chá digestivo. Se reparar, por essas terras, as chávenas de chá não são demasiado grandes, são bastante pequenas até, e o chá é servido quente. Ajudará bastante criar este ritual no seu processo digestivo.

"Verifique e afine a sua alimentação ao longo da vida."
Dr Pedro Queiroz.

Combinações inteligentes para absorver melhor os nutrientes

Há nutrientes presentes em certos alimentos que, para optimizar a sua correcta absorção, devemos ter em atenção alguns detalhes. Um dos exemplos clássicos é a combinação de alimentos ricos em vitamina C e ferro. Como a vitamina C potencia, e muito, a absorção de ferro pelo nosso organismo, devemos juntar sempre que possível duas fontes destes nutrientes na mesma refeição. Sugiro, por exemplo, que sempre que comer carne — rica em ferro — procure comer morangos, laranja ou kiwi — ricos em vitamina C — como sobremesa, para melhor absorção destes nutrientes.

Pelo contrário, sabemos que alimentos ricos em cálcio competem com os receptores de ferro do nosso organismo, pelo que devemos evitar juntar, na mesma refeição, alimentos ricos nestes dois nutrientes. Exemplo clássico: um prato com carne e, de sobremesa, um lácteo — como iogurte — rico em cálcio, que acaba por minimizar a absorção de ambos e provocar demoras no processo digestivo.

Ajustar refeições ao seu ritmo e fase da vida

Ou seja, é de facto muito importante a forma como escolhemos, mastigamos, ingerimos e combinamos os alimentos para que possamos ter uma saúde digestiva de ferro e absorver o melhor que os alimentos têm para oferecer. Fazer várias refeições por dia, variando as escolhas alimentares, combinando de forma diferente os alimentos e ajustando-os ao nosso estilo de vida permite uma vida mais saudável e que promove a longevidade. Verifique e afine a sua alimentação ao longo da vida, nas suas diferentes fases, e consiga a cada etapa combinar os alimentos de forma sábia. Conte com o seu nutricionista para adaptar essas escolhas aos seus gostos e preferências, mas sempre tendo em conta o máximo potencial que os alimentos lhe podem oferecer.

Pedro Queiroz é o fundador das Clínicas de Nutrição do Porto e Lisboa e consultor de Nutrição. Mais do que ajudar pessoas a emagrecer, do que ele realmente gosta é de mudar as suas vidas.