A exposição do projeto +Mulher já não é recente, mas eu quase senti vergonha de como é que um projeto desta magnitude me escapou no momento em que foi lançado ao mundo, como não li sobre o mesmo, como me passou impune. Depois acalmei e pensei: chegou no momento certo e, numa pesquisa rápida pelo Google, pude constatar que a presença do mesmo na Marina de Oeiras tinha acontecido há poucos dias, por isso, se não soube do mesmo antes, aproveito este segundo momento para continuar a falar de um projeto que junta em imagens, beleza, empoderamento, reconhecimento da história de cada mulher, e que dignifica e normaliza aquilo que o mundo vê como “imperfeições”.
Das imagens captadas pela lente da fotógrafa Dai Moraes surgem mulheres fotografadas com uma beleza única, a sua, que se despem de preconceitos e expõem o que trazem de mais íntimo na sua história pessoal e no corpo. Ali estão, inteiras, magníficas, captadas na beleza de um olhar que mostra a todos como cada uma, na sua singularidade, tem beleza em si, num testemunho poderoso de auto-estima e aceitação, quebrando o estigma de que só mulheres perfeitas podem viver assim, em poderosas imagens por inteiro, em roupa interior sensual, a falar abertamente de como agradecem ao seu corpo, como reconhecem poder na sua história, de como têm orgulho em si e nas suas histórias de superação.
E é assim, naquele desfilar de imagens que nos dão a conhecer 10 mulheres de diferentes idades, raças e tipos de corpos, que ficamos a conhecer a história da Andreia, que teve uma doença inflamatória intestinal crónica e auto-imune, e que utiliza o saco de ostomia como parte de si, ao qual agradece o renascimento para a vida e a libertação de ficar restringida entre quatro paredes, sendo o mesmo sinónimo de liberdade.
Ou a Inês, que em 2018 sofreu queimaduras em 65% do corpo e teve de amputar uma perna devido a um incêndio rural do qual acabou sendo vítima. Com os seus enormes olhos castanhos e o cabelo que lhe cai em cascata pelos ombros, não consigo deixar de ficar fascinada por esta morena cheia de luz, cujo discurso me faz querer conhecê-la melhor, sentir-me envolvida no seu otimismo e gosto pela vida, sem deixar que o facto de se movimentar numa cadeira de rodas, ou ter menos um membro, a demova desta dádiva que é estar viva.
Ou a Solange, de uma beleza que transparece ao primeiro frame, que foi operada 12 vezes à barriga no curto espaço de oito meses, para tratar um cancro, e que reconhece hoje que as marcas que ficaram são sinais de luta, mas principalmente de vitória.
Ou ainda a Sofia, outro exemplo de superação oncológica, de quem só retenho os olhos doces e o sorriso sincero de gratidão, enquanto conta como tinha três tumores malignos na mama, que hoje estão curados através de um processo de quimioterapia e de reconstrução mamária.
E as histórias continuam, das 10 escolhidas, retratadas pelo olhar de uma fotógrafa que quis mostrar a singularidade de cada uma destas mulheres, fazê-las sentirem-se bonitas com a lingerie da Dama de Copas nos seus corpos, que são exemplos de superação, de amor próprio, de força e de acolhimento, numa sessão boudoir que lhes restituiu a sensualidade e lhes resgatou a auto-estima.
As histórias da Catarina, da Lu, da Tatiana, da Dina, da Solange, da Inês, da Sofia, da Andreia, da Ana, estão disponíveis para serem conhecidas em maior profundidade no Youtube, mas expostas aos olhares de todos os que passem pela Marina de Oeiras para que parem, leiam e lhes reconheçam a Beleza que cada uma possui nas fotografias que as retratam. Porque há Beleza na imperfeição, sempre houve. É isso que nos torna únicos.
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