Não sendo nenhuma guru em felicidade e tendo eu própria enfrentado um ano bastante desafiante, sendo este o último texto de 2022, achei que faria sentido escrever algo que representasse uma mensagem de esperança, mas aquela esperança alcançável e tangível. E escrever sobre felicidade tem tanto de bonito quanto de desafiante, porque a felicidade não é algo que possa ser mensurável, quantificada e terá sempre variáveis que alteram de pessoa para pessoa. A escritora Pearl S. Buck, tinha uma frase muito curiosa que só muito recentemente me deparei com a mesma e consegui integrar plenamente em mim: “Muitas pessoas perdem as pequenas alegrias enquanto aguardam a grande felicidade”.

Quantos(as) de nós não suspendemos momentos e vivências de felicidade à espera “do” momento ideal? E isso, tanto pode significar guardar a nossa melhor lingerie para aquela noite no qual depositámos tantas esperanças e que, afinal, saiu gorada, como deixar de comer aquela fatia de bolo que nos faz salivar a alma, ou acharmos que só vamos ser realmente felizes quando fizermos aquela viagem às Maldivas e dermos um mergulho nas águas quentes e transparentes com direito a foto no feed do Instagram. Mas… e quanto se perdeu nos "entretantos" da vida? E se nunca formos (nesta vida) às Maldivas? E se aquela pessoa especial em quem pensámos quando comprámos aquela lingerie nunca aparecer?

Não nos permitimos a ser felizes? Boicotamos a nossa felicidade, achando que não temos direito a ser felizes se esses momentos nunca se realizarem?

A felicidade é, acima de tudo, uma atitude e não dependerá tanto das circunstâncias específicas, mas da forma como lidamos com as mesmas. Segundo o escritor e orador Tal Ben-Shahar, conhecido pelo curso de “Psicologia Positiva” que ministrou na Universidade de Harvard - e com livros editados em todo o mundo nas áreas da psicologia positiva e liderança, tais como, “Aprenda a ser feliz. O curso de felicidade da Universidade de Harvard” - a felicidade é uma combinação de cinco fatores essenciais: bem-estar espiritual, intelectual, relacional, físico e emocional. Porque altos e baixos todos temos, dia maus todos temos, é como lidamos com eles, de forma consistente enquanto estado de espírito, que nos motiva a ser felizes todos os dias. Se é uma forma de resiliência? Sim, é. Por isso, escolha ser feliz e se não sabe como, dou-lhe algumas pequenas dicas – fáceis de pôr em prática – para que comece a ver por si próprio que a escolha de ser feliz começa de dentro para fora.

Escolha sorrir

De acordo com os últimos avanços da neurobiologia, o sorriso ativa a felicidade no cérebro. De alguma forma, o seu corpo assinala à sua mente que está feliz. O seu cérebro reage ativando essa emoção. O que pensa influi de forma direta sobre como sente as coisas, por isso, eleve a sua frequência e tente evitar pensamentos negativos. Se isso passar por desligar a televisão e não querer ver/ouvir notícias tristes, não se recrimine por isso. É o seu corpo a pedir o abrandamento e a desconexão de algo que o intoxica.

Se sentir vontade de chorar, chore

Há quem nunca chore por considerar que se trata de um ato de fraqueza e, por esse motivo, reprime as emoções. O que a maioria desconhece é que essa repressão emocional tem repercussões na sua saúde física, levando muitas vezes à manifestação física sobre a forma de doença. No livro, “A linguagem que o corpo fala. Autocura com Medicina Energética” de Ellen Meredith, a autora refere como a dor e os sintomas que o corpo nos dá são mensageiros para algo que se encontra reprimido no nosso inconsciente ou que provoca dor na nossa alma. “O nosso corpo tem a capacidade inata de se curar, de se adaptar e de funcionar sob diversas circunstâncias. Mais ninguém o cura: nem o médico, nem o xamã, nem o terapeuta de energia, nem a pessoa amada, ou a medicação. Quando nos curamos, não estamos a atacar as doenças: estamos a encontrar alívio. Não estamos a erradicar a doença; estamos a redefinir o bem-estar e a vivê-lo. Não estamos apenas à procura da ausência de dor ou de sintomas; estamos a ouvir e a responder à dor e aos sintomas em reconhecimento do que estão a comunicar.” Se isto tudo não lhe disser nada, deixo-lhe ainda outro conselho que a minha professora de consciência sistémica diz nas suas aulas: “Permita-se chorar. Chorar é digno.”

Centre-se no presente

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No aqui e no agora. Não nos momentos felizes que já viveu no passado, porque isso provoca depressão, nem aqueles que anseia vir a viver no futuro, porque isso provoca ansiedade. Por fim, se não consegue estar no presente e a sua mente vagueia entre o passado e o futuro, não está na realidade em lado nenhum e não se permitirá a viver as coisas maravilhosas – por mais pequenas e insignificantes que sejam – que tem ao seu redor. Um bom exercício para conseguir ter esse centramento e começar a aprender a apreciar a felicidade à sua volta é, todos os dias de manhã, quando se levanta, colocar bem os seus pés no chão e “enraizar” no agora, no novo dia que começa. Agradecer por essa oportunidade, porque todos os dias de vida são uma nova oportunidade e depende de si fazer dela o melhor que estiver ao seu alcance. Se começar por aceitar que mesmo os momentos menos bons são formas de aprendizagem e ver neles sempre um desafio pelo qual necessitava de passar, será certamente mais feliz na forma como encara os momentos menos bons que lhe chegam.

Escolha os seus objetivos para o dia

Reveja o dia que tem pela frente, defina as suas prioridades e identifique as possíveis dificuldades que encontrará. Quando se está no controlo do que está para vir, é mais fácil não perder a calma ou deixar o stress tomar conta. Estará preparado para se manter atento aos seus objetivos.

Abrande

Levantar-se 15 minutos mais cedo permite-lhe fazer as coisas em ordem e sem pressas. Se conseguir medite, tome um banho, tome o pequeno-almoço sentado como merece. Fique longe de fontes de stress e ansiedade, tais como mensagens no seu telemóvel, ruído excessivo (use auscultadores e música silenciosa). Escolha a calma como a sua primeira opção para enfrentar as coisas. Esta intenção é fundamental para o seu bem-estar.

Tenha um diário da gratidão

Torne este exercício uma prática diária. Pode ser um pequeno caderno onde aponte notas, mas faço-o de forma regular e todos os dias. Há sempre algo pelo qual tem motivos para agradecer. Tem uma casa para onde regressar ao final de um dia de trabalho? Agradeça. Tem trabalho? Agradeça. Tem saúde? Agradeça. Consegue ver um pôr do sol? Agradeça. Tem água potável? Agradeça. Por mais ridículo que considere a ideia, verá que tem sempre motivos pelo qual deve ser grato(a) e isso, também é felicidade! Nós é que muitas vezes nos esquecemos dela, porque damos as coisas por adquiridas.

Mude a sua perspetiva e será mais feliz

"Pare por um momento e pense no significado e no objetivo do que faz, quer seja ajudar os seus filhos com os trabalhos de casa, lavar a loiça, rever as contas com o seu parceiro, cuidar de um pai ou mãe idoso, negociar com um cliente, ou conseguir que um projeto difícil seja feito no trabalho. Não deve levar muito tempo, apenas alguns minutos de consciência, e mesmo assim pode fazer uma enorme diferença (...). Quando o que fazemos tem significado e propósito, o caminho para superar as dificuldades torna-se menos assustador. Muitas vezes, a ligação ao seu propósito é a chave para distinguir entre fragilidade e anti-fragilidade, entre desmoronar e crescer, entre desespero e otimismo". Do livro “Seja Mais Feliz. Aprenda a ver a alegria nas pequenas coisas para uma satisfação permanente” de Tal Ben-Shahar.

Por fim, deixo apenas uma nota sobre um estudo desenvolvido em Harvard sobre a felicidade, que teve uma duração/pesquisa de 75 anos, envolvendo mais de 600 pessoas onde, de dois em dois, eram monitorizadas, com entrevistas e exames médicos. Nele foram tidos em conta fatores como sucesso, dinheiro, status, emprego, mas também, feita a pergunta essencial de: “Se hoje fosse investir no seu melhor “eu” futuro, onde colocaria o seu tempo e energia?”

E a resposta não se fez esperar: nas relações interpessoais. Ou seja, quem criou laços fortes com outros seres humanos ao longo do tempo em que durou a pesquisa, viveu mais e melhor. A felicidade da nossa vida está, acima de tudo, no afeto trocado e dividido, partilhada e construída com outros seres humanos.

Por isso lembre-se, sucesso de verdade é ser feliz! Faço disso o seu mantra para 2023!

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.