Desde que me conheço, sempre fui abonada de pelo, mas nos últimos anos a questão ganhou força – no sentido literal da palavra. Percebi, recentemente, que tive parte da culpa nisso, pois a toma regular de colagénio e de suplementos para cabelo e unhas incentiva o crescimento capilar do pelo na generalidade e pelo corpo todo – e não apenas o cabelo que queremos mais comprido, forte e resistente.

Isso fez com que os pelos dos braços aumentassem de tamanho, tornando-se assustadoramente mais compridos e escuros, e levando-me a ter vergonha de andar de manga curta. Já para não falar nas pernas, cada vez mais fortes e resistentes e a crescerem a uma velocidade vertiginosa.

#ÀFlorDaPele: como melhorar a auto-estima depois dos 40?
#ÀFlorDaPele: como melhorar a auto-estima depois dos 40?
Ver artigo

Os velhos métodos de depilação a cera, ou de máquina de extração – as famosas depiladoras elétricas tão vulgarmente utilizadas no início dos anos 2000 – que nos deixavam as pernas cheias de pelos encravados, que rapidamente infetavam e nos provocavam dores excruciantes; ou a cera a quente, que nos fervia quase a alma e cuja utilização frequente levou muito boa gente a ter problemas de varizes e derrames mais cedo que era expectável; ou as famosas bandas frias, que todas experimentámos em casa com resultados mais ou menos fiáveis e mais ou menos medonhos; já para não falar do creme depilatório… tudo métodos já obsoletos, de tão conhecidos serem, e que obrigavam a uma logística feminina complicada. Estava farta deles todos e ansiava por me ver livre do problema sem algo que me exigisse muito esforço, que me provocasse dor (fator preferencial) e, acima de tudo, que não me custasse um rim.

Claro que já tinha ouvido maravilhas da depilação a laser mas, para ser sincera, sempre achei que não seria uma das suas contempladas. Com uma condição de pele delicada, sensível, e que exige cuidados extra, sempre tive a ideia (errada) e pré-concebida de que o laser não era indicado para mim, com uma ictiose congénita, onde a vermelhidão, a hipersensibilidade e a descamação fazem parte do meu dia a dia. Sempre achei que uma fonte de calor como o laser poderia provocar-me lesões irremediáveis e, como tal, era melhor estar sossegada e manter-me fiel ao que sempre fiz – mesmo que isso não me trouxesse grandes resultados.

#ÀFlorDaPele: não faz depilação a laser? Isso é tão 2013!
créditos: Christopher Campbell / Unsplash

Até que, há duas semanas, decidi fintar o receio e entrar na Clínica do Pelo, mesmo ao lado do meu trabalho, e pedir informações, expondo as minhas condicionantes. Fui atendida por uma senhora que após a exposição dos meus receios, me disse que a depilação a laser não tem contra-indicações – mesmo em casos de condições de pele mais delicados. É feita em pessoas com psoríase, por exemplo, não sendo, no entanto, aconselhada a grávidas. Que poderíamos fazer um pequeno teste rápido nas zonas onde gostaria de fazer e ver se havia algum tipo de reação. Foi assim que, numa hora de almoço, fiz um teste no braço e numa parte da perna, rezando para que não me arrependesse da decisão tomada, de forma a poder voltar dali a 24 horas para depilar as pernas completas e as virilhas, assim como os braços. E assim foi. Para além de não me ter doído absolutamente nada, a minha pele não fez qualquer tipo de reação. Não ficou quente, nem vermelha, nem queimada. Na minha cabeça tinha imaginado os piores cenários e, afinal, foi tudo tão rápido, eficaz e indolor, que me pareceu magia. Eu já sabia que tinha uma incrível capacidade de resistência à dor, mas nunca esperei isto: umas pequenas picadinhas elétricas, muito suaves e nem sempre constantes.

Fiquei excitadíssima. Ansiava que as 24 horas do teste passassem rápido, de forma a permitir-me voltar e deitar-me naquela marquesa, desta vez para o tratamento total. Nesse mesmo dia passei no supermercado e comprei aloé vera – condição fundamental para aplicar após o tratamento e, no tão desejado dia, de manhã e no duche matinal, depilei as zonas a depilar a laser com a famigerada gillette – condição imposta pelas técnicas para uma depilação eficaz. Fazer a depilação com a lâmina antes das sessões a laser.

Na hora do almoço lá estava eu, novamente, e excitadíssima por começar. E foi assim que as duas técnicas da Clínica do Pelo (com a maior paciência do mundo comigo) começaram por desenhar a lápis branco as zonas onde o laser iria incidir e passar, delineando o meu corpo como um mapa mundi a percorrer. Começaram pelos braços, primeiro um, depois o outro, passando para as virilhas, coxas, joelhos, pernas, e deixando-me mais lisinha que um pêssego careca.

#ÀFlorDaPele: o corpo no verão
#ÀFlorDaPele: o corpo no verão
Ver artigo

Adorei a sensação, confesso. Adorei a ideia de me ver livre de pelos e de só ter de voltar para nova sessão daqui a mês e meio. “Mês e meio!” – pensei – “Quem é que aguenta mês e meio sem se depilar?”. É um mundo novo pra mim. Tão novo que, claro, os meus fortes e resistentes pelos decidiram contrariar a tendência e já estão a pespontar, dando um ar de sua graça – para minha desgraça. Mas calma, é mesmo assim – segundo me explicaram. Dentro do folículo capilar existem como que dois pelos, o que já está à superfície e um segundo dentro do mesmo folículo. Com a depilação a laser, elimina-se o primeiro e nos próximos dias é natural que o segundo apareça – que é o que está a acontecer – caindo também e permitindo que o folículo “morra”. É normal precisarmos de cerca de cinco sessões para ter isto controlado e ficarmos livre de pelos para “quase-todo-o-sempre” e é só nisso que me foco. O ficar livre de pelos para “quase-todo-o-sempre”, mesmo que o “quase-todo-o-sempre” signifique que tenho de fazer uma sessão de manutenção uma vez por ano. Caraças, compensa – e muito! – o investimento.

Quatro dias depois da primeira sessão a laser, vim de férias com a família. Tenho pelos a aparecer por todo o lado, que caem quando lhes toco, de forma completamente indolor e deixando-me a alternar entre o fascínio e o estarrecimento, como se estivesse a presenciar magia. É uma sensação completamente nova para mim e só penso: “Como é que eu resisti durante tanto tempo?”.

Tenho nova sessão a meio do agosto. Espero que os meus fortes pelos não queiram ficar presos a métodos antigos e lutem até ao fim com vigor e resistência. Eliminá-los-ei sem dó nem piedade, com o laser a ser um poderoso aliado – que nem um sabre de luz – enquanto deixo de lado os suplementos vitamínicos e o colagénio que promovem o crescimento capilar. Prefiro ter rugas a ter pelos e, quem sabe, se o próximo preconceito a destruir a seguir ao laser, não será o botox?

Quem disse que não posso ter o melhor de dois mundos?

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.