Durante anos cresci com as pessoas a dizerem que, de rosto, era igual à minha mãe. Nem imaginam como aquilo me enchia de orgulho. Até porque desde sempre me lembro de olhar para a minha mãe e de lhe ver Beleza. Apesar de distintas em altura e no formato do corpo, era no rosto que lhe ia buscar os genes, onde predominam os olhos grandes e as pestanas enormes. Até hoje, pestanas infinitas é um dos traços físicos que mais prezo em mim. Os meus filhos também as herdaram, o que muito me enche de orgulho. Aqueles bambi eyes não enganam ninguém. São “meus”, vêm da minha linhagem feminina e devo-os – devemo-los – todos, à minha mãe.

Foi ela que vi, durante anos a fio, a arranjar-se diariamente antes de sair de casa para o trabalho. E se ela entrava cedo... não havia hora que a demovesse de dar e mostrar o seu melhor, de fazer magia com as sombras, o lápis de olhos, o rímel e os batons, e de revelar a sua mais pura essência feminina. Chegava a ser hipnotizante, vê-la naquele ritual em frente ao espelho, em que lentamente enaltecia e destacava, ainda mais, tudo aquilo que era bonito nela.

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Ainda hoje, ao fim de tantos anos, ela consegue ter essa qualidade de transformação. De saber o que a favorece, de ter amor-próprio e, apesar da passagem do tempo e das transformações naturais do corpo, não deixar de continuar a investir em si, de se maquilhar e arranjar o cabelo, de ir à manicure, de se sentir bem.

Lembro-me de ser miúda e de ficar fascinada com as fotografias que via da sua juventude, de como me parecia uma diva de cinema, os traços finos, os lábios naturalmente carnudos, o olhar infinito. Mal eu sabia que, também ela, tal como eu, se sentiu um patinho feio durante demasiado tempo, desajustada, ou de como sofreu por ser diferente dos demais. Apenas retive como o cuidarmos de nós nos faz ficar mais bonitas aos nossos olhos e aos olhos dos demais, que o amor-próprio é a base da Beleza, e que saber quais são os nossos pontos fortes, enaltecendo-os, é ser inteligente.

E se herdei dela os olhos grandes e expressivos, ou as pestanas quilométricas, espero também herdar a genética que lhe permitiu chegar aos 65 anos com uma pele do rosto praticamente livre de rugas. Deve ser da boa disposição e da gargalhada calorosa que leva para a vida. Até porque, como diz o ditado, “se tivermos rugas, que seja de sorrir”.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.