Quando a internet quase foi abaixo com a notícia da operação plástica que mudou para sempre o nariz do actor José Fidalgo, a grande maioria das reacções manifestava um certo direito de propriedade de algo que nunca lhe pertenceu. O nariz do José Fidalgo foi como um ente querido cuja vida havia sido colhida demasiado cedo. Como uma Princesa Diana, princesa do povo, adorada, cobiçada, admirada, invejada, e que agora nos era retirada, assim de repente. Não estávamos preparados.

Sendo o José Fidalgo um dos homens mais bonitos que conhecemos e que guardamos como referência de masculinidade, não esperávamos uma correção ao proeminente nariz que, apesar de proeminente, era o exemplo de como algo imperfeito consegue desenhar um rosto cheio de personalidade, dimensão, carisma e sex-appeal.

#ÁguaPelaBarba: e de um dia para o outro, fez-se um novo rosto
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De repente, fomos confrontados com a possibilidade de estarmos a assistir à fragilidade e insegurança de um homem que, não se sentindo confiante com uma parte do seu corpo, foi ao médico e mudou-a. E na possibilidade de ser uma insegurança, nitidamente há aqui um grande desfasamento de realidades: a de um homem que duvida de si e dos seus encantos e atributos; e a de um homem inatingível, adorado por todos e tido como uma das maiores referências de beleza e alvo de grande desejo sexual.

Depreendo daqui que a insegurança e a dúvida são intrínsecas ao ser humano, independentemente de sermos mais ou menos bonitos. E que a auto-confiança será sempre uma escolha. E é claro que todas as experiências que temos até à adolescência moldam muito os níveis-base de cada um.

Aquilo que não quisemos foi colocar a hipótese de estarmos perante uma evidente manifestação de self-care, da parte de alguém que se adora e que finalmente teve a oportunidade de corrigir e mudar algo que o incomodava, para se adorar ainda mais. Seja uma ou a outra hipótese, acabamos sempre por olhar para esta operação plástica como um acto de fraqueza. Talvez por acreditarmos que um homem deve ser corajoso e confiante, mas que não deve demonstrar instabilidade nem dúvida para com um atributo físico.

Entretanto, o actor já veio manifestar publicamente que a operação se deveu a problemas respiratórios, o que me leva a outra questão: o que é que se faz com um novo nariz no rosto, que nem sequer se pediu? Habitua-se e já está? Quero acreditar que, já havendo confiança com um velho nariz proeminente, certamente haverá confiança para se receber um novo nariz arrebitado. É tudo uma questão de encaixe.

Aqui o povo é que não está muito confiante. Mas o luto faz-nos destas coisas.

Além de secretamente estar a construir a sua própria marca de Moda (shhhh...), Bruno Reis é o responsável pelo Marketing e Comunicação de marcas de Beleza. Entre a criatividade e a estratégia, já foi actor, professor de yoga, gestor de redes sociais, fotógrafo e director de casting.