A correlação entre ser solteiro e ser saudável deveria ser estudada com bastante devoção e profundidade, pois acredito piamente que uma fortalece a outra. Quanto mais saudável, menos hipóteses de contrair matrimónio. Sou saudável crónico pelo menos há 20 anos, desde que me tornei vegetariano.
Os hábitos sadios foram-se acumulando ao longo da vida e orgulho-me da rebeldia incorrigível que é dormir oito horas, acordar às seis da manhã, beber dois litros e meio de água e ir ao ginásio todos os dias, não fumar e não usar drogas.
Um primeiro encontro costuma ser uma prova de fogo. Basta que seja um jantar para ficar logo revelado em três tempos que não consumo álcool, nem carne nem peixe. Não que faça questão de fazer um statement, mas basta a situação de ter de se pedir vinho (que é algo que se escolhe a dois) para ficar logo tudo dito.
E assim começa o breve questionário que me irá catalogar imediatamente como uma ave rara. Há 20 anos que passo por isto e há 20 anos que o sentimento de desconforto e constrangimento é igual. OK, nos anos 2020 a literacia para hábitos de vida saudáveis aumentou bastante e confesso que atualmente sinto um maior à-vontade a expor o tema.
Mas quanto se trata de conhecer uma pessoa num contexto mais íntimo e romântico, porque é que eu é que tenho de me sentir a ovelha negra? Acho curioso como é que, na adolescência, os rebeldes eram os que fumavam e bebiam, mas nos tempos que correm, quando ser adulto é “fumar e beber”, o rebelde é quem se deita e levanta cedo; o rebelde é quem bebe o sumo verde todos os dias; o rebelde é quem não falha a ida aos treinos; o rebelde é quem não ingere açúcar. Ser saudável é ser-se rebelde. E afirmo “ser-se” em vez de “ser”, porque é uma relação connosco mesmos, mais do que com os outros.
Comprometi-me com um estilo de vida que me dá energia, que me faz sentir leve e bem-disposto, que me faz saudável e me dá mais anos de vida. Tenho de me sentir mal por isso? Claro que me sinto solitário, mas estou bem com as escolhas que fiz e não sinto que esteja a restringir-me de qualquer coisa que seja.
Nas minhas relações passadas, aconteceram duas coisas:
a) desleixava-me muitas vezes por contágio dos maus hábitos do namorado, o que me deixava frustrado e também afectava a minha autoconfiança;
b) a tomada de consciência de nunca chegar a conseguir partilhar o prazer de algo verdadeiramente íntimo, que é gostar de viver e de me sentir pleno, em cada refeição que fazíamos.
Perante isto, tornou-se imperativo sentar-me à mesa num date com alguém que procure, como eu, ser saudável, alguém que cumpra com os seus próprios compromissos. Alguém que não só me faça sentir bem pelas escolhas que tomei para mim, mas também seja conhecedor dessas escolhas e me mostre novas realidades. Alguém que eu admire e que se queira juntar comigo neste plano estratégico de beleza e longevidade que é a minha vida. E eu sei que ele anda aí. Estou pronto para viver um “fast and furious” biológico e integral!
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