
Acabei o dia de ontem a comer batatas fritas e mousse de chocolate e a questionar-me se ainda sou saudável. Por ter ganho uma inflamação do menisco no pulso, tive de abrandar nos treinos e continuo a comer a mesma quantidade de comida. Inevitavelmente, começo a sentir-me disforme.
É que, de repente, tornei-me esta pessoa que tem de acordar antes do sol nascer e treinar cinco vezes por semana para se sentir bem consigo mesma. Passou a ser vital. O hábito de comer bem e treinar tomou conta de mim. Mesmo havendo os momentos do pão de Deus com queijo e do bombom com o café, sei quem eu sou na minha essência. Ou, pelo menos, sabia. Tenho a certeza absoluta de que, há três semanas, se tivesse acabado de comer batatas fritas e mousse de chocolate, continuaria a sentir-me muito bem comigo mesmo.
Bastou tirar o treino de membros superiores, ter semanas com feriados, uma Páscoa com mais doces a sobrarem para os dias seguintes, no meio de uma dieta hipercalórica para bulking, para afrouxar a minha autoestima.
"Tornei-me esta pessoa que tem de acordar antes do sol nascer e treinar cinco vezes por semana para se sentir bem consigo mesma."
O corpo, o hábito e a exceção
Demorei 36 anos a começar o hábito de treinar e comer bem e, nos últimos 12 anos desses 36, sentia-me uma farsa. Fui professor de yoga e nunca consegui o hábito de praticar, como os meus colegas. Mesmo tendo como missão ensinar um estilo de vida saudável, nunca o abracei completamente para mim. Ok, que eu era vegetariano; ok, que treinei muitas vezes sozinho. Mas não era um hábito.
No dia em que finalmente olhei para mim e vi alguém que estava a acordar todos os dias às 6h da manhã para treinar às 7h, acreditei que houvera formado um hábito que me definiria. E, desde aí, o hábito fez o meu corpo transformar-se. Não só o treino diário, mas também a dieta saudável e rica em proteína. Tenho fotografias em que me sinto “capa da Men’s Health”. Já sou isto há cinco anos e sinto que é a minha vida desde sempre, mas não deixa de ser curioso como é que três semanas de hábitos violados me fazem sentir inseguro.
É claro que, durante cinco anos, não treinei cinco vezes por semana diligentemente. É claro que não comi exemplarmente todos os dias. Houve muitas exceções. Só que três semanas são uma exceção muito longa. Longa ao ponto de sentir que contaminou o hábito. Mas será que o eclipsou?
Graças a Deus, tenho consulta com o nutricionista muito em breve.
Além de discretamente estar a gerir e a criar para a sua própria marca de Moda (shhhh...), Bruno Reis é o responsável pelo Marketing e Comunicação de marcas de Beleza. Entre a criatividade e a estratégia, já foi actor, professor de yoga, gestor de redes sociais, fotógrafo e director de casting.
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