Um dia, algures, li ou ouvi uma frase que era mais ou menos isto: “Não podemos controlar as situações e circunstâncias em que a vida nos coloca, mas podemos, sim, controlar a forma como reagimos a essas situações”. Pego nesta ideia como mote para falarmos de formas simples de controlar os níveis de stress e ansiedade nas nossas vidas.

Antes de partirmos para as dicas, é importante apenas perceber (de uma forma muito resumida) como funciona o nosso sistema nervoso. Este tem dois “modos”:

  1. o chamado modo “fight or flight (“luta ou foge”), que é a nossa resposta ao stress e que ativa o SNS (Sistema Nervoso Simpático);
  2. e o modo rest and digest (“descanso e digestão”), que acontece quando estamos relaxados, ativando o SNP (Sistema Nervoso Parassimpático).

Ambos são igualmente valiosos e importantes no funcionamento do nosso sistema nervoso. No entanto, o stress e as exigências contínuas da vida moderna fazem com que tenhamos períodos prolongados de “fight or flight”, aumentando as nossas hormonas do stress e, consequentemente, os níveis de stress e ansiedade que, com o tempo,  podem resultar em muitos outros problemas, como insónias, ataques de pânico, Síndrome do Intestino Irritado (SII), problemas de digestão, mente confusa, falta de concentração, entre muitos, muitos outros.

#AlmaYogi: os 8 pilares do Yoga (parte 1) – Yama
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O que podemos fazer para não vivermos em constante estado de alerta e num modo de fight or flight contínuo? Deixo aqui sete dicas simples e práticas para contrariar essas reações, que resultam numa acumulação de stress e ansiedade no nosso dia-a-dia, mas que podem ser atenuadas ou até mesmo eliminadas se praticarmos o que as referidas dicas nos aconselham.

  1. RESPIRAR, tão básico e tão importante! A respiração é o que nos mantém vivos, é o processo através do qual recebemos prana, a energia vital do Universo, através da inspiração, e libertamos apana, tudo aquilo que em nós é tóxico e não nos serve. Sempre que te sentires acelerada, com “a cabeça a mil” ou facilmente irritada, simplesmente pára e volta à tua respiração. Bastam três a cinco minutos de respiração consciente para ativar o SNP. Procura uma respiração tranquila e ritmada. Sabias que quando respiramos de forma mais rápida e superficial estamos a comunicar ao nosso corpo que eventualmente não estamos seguros e precisamos de estar em alerta?
  2. JOURNALING e AFIRMAÇÕES. Aqui falamos na importância de reconhecer os nossos pensamentos e reações, e verbalizá-los. Já aqui escrevi sobre journaling e aproveito para sugerir voltar a esse artigo para mergulhar um pouco mais nesta prática, para mim uma das mais poderosas para uma vida mais consciente e tranquila. Sobre as afirmações, elas podem fazer parte da prática do journaling ou serem uma prática independente. Basicamente, consiste em reconhecer os nossos pensamentos, cortar com eles e transformá-los em pensamentos positivos e gentis, exprimindo-os em afirmações que nos empoderam, como por exemplo “Eu sou forte e capaz de afastar todos os meus medos e bloqueios”.
  3. MASSAGEM. Presenteia-te, de vez em quando, com uma massagem relaxante. O teu corpo agradece e o teu sistema nervoso mais ainda ;) Massagear o corpo ativa pontos essenciais, que nos conduzem mais rapidamente a estados de relaxamento, de rest and digest (SNP). Se ou quando não tens disponibilidade para fazer massagens com terapeutas, podes fazer a ti mesma. Não precisas de nenhuma técnica específica, deixa-te simplesmente levar pelos teus sentidos, aplica um pouco de óleo natural e sê gentil; é o suficiente para usufruíres dos benefícios de uma auto-massagem – que pode ser uma massagem aos pés, às mãos, na cabeça ou algo mais completo, chegando a várias partes do corpo. Sugiro que pesquises por massagem abhyanga na internet.
  4. JEJUM e MUITA ÁGUA. Pode parecer contraditório, mas fazer jejum pode ser uma das formas mais eficazes de acalmar e potenciar uma maior clareza mental. Aqui é importante ter algumas precauções e não levar o jejum ao extremo. Por um lado, não deve ser feito de forma regular, e por outro lado, se nunca fizeste, deves procurar aconselhamento terapêutico. Nesta minha temporada de recolhimento, fiz um jejum à base de sumos verdes extraídos a frio, com acompanhamento terapêutico, e senti inúmeros benefícios imediatos. Quando comemos, uma grande energia é canalizada para digerir a comida. Com o jejum à base de sumos, os nutrientes e minerais dos sumos são mais rapidamente absorvidos, exigindo menos energia, que pode ser canalizada para desintoxicar, curar e reequilibrar o nosso corpo. Durante o jejum, tal como fora dele, é importante que nos mantenhamos bem hidratadas, nunca esquecendo que uma grande parte de nós é água.
  5. OFFLINE. É certo que a internet, os smartphones e as redes sociais, têm vantagens e já (quase) não sabemos viver sem eles. Mas é importante saber desconectar para reconectar. É importante estabelecer limites para a utilização do mundo digital e dos nossos telemóveis ou iPads, sobretudo depois de chegarmos a casa. Aproveita para estar mais presente nos momentos em família, dedicar tempo à leitura de livros, fazer a tua auto-massagem e os teus rituais de self-care, para praticar o journaling, quem sabe até escrever cartas ou postais a amigos (já pensaste quando foi a última vez que fizeste isto?... ou, se calhar, nunca? ☺️). O mundo não vive só na internet...
  6. APRENDER ALGO NOVO. Percebi recentemente que se estamos dedicadas a aprender algo novo, a nossa atenção passa a estar bastante mais focada no processo de aprendizagem e, ao mesmo tempo, mais desfocada de problemas e situações que poderiam ativar o nosso modo fight or flight. Tenta desafiar-te e procurar novas atividades que te obriguem a concentrar na aprendizagem das mesmas, como aprender a tocar um instrumento musical, a pintar, a costurar, a aprender jardinagem ou outras tantas coisas novas que facilmente vão surgir se estiveres recetiva a isso!
  7. YOGALast but not least, pratica yoga. Dedica algum tempo do teu dia (ou da tua semana, é suficiente) para a prática de asanas, mas lembra-te sempre que o yoga não é só a prática física no tapete. O Yoga é uma prática para a vida. Sê gentil contigo mesma e com os outros, procura não julgar, aceitar a impermanência, desapegar... lê os meus artigos sobre os 8 pilares do yoga segundo Patanjali, se te interessares sobre este tema.

Em tudo e para tudo, sê gentil! Esta é a minha principal dica.

Sara Sá estudou Comunicação Social, mas especializou-se em Relações Públicas e trabalhou 15 anos como tal. A paixão pelo Yoga levou a melhor e, deixando o emprego e vendendo tudo o que tinha, abriu no Porto o MANNA, um espaço onde partilha, com quem por lá passa, a sua filosofia de vida.