Como seres humanos, percepcionamos o mundo exterior através das nossas mentes. Isto não representaria qualquer problema se as nossas mentes simplesmente percepcionassem os objetos como eles são, sem julgamentos e sem preconceitos. Mas a verdade é que a nossa mente opera, muitas vezes, num estado de falsos entendimentos… 

#AlmaYogi: "yogah cittavrtti nirodhah" (cessar as flutuações da mente)
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Para percebermos melhor como funciona a nossa mente e o porquê de interferir com a nossa liberdade, é importante compreendermos que a nossa mente opera em determinado número de estados, e que existem 5 estados fundamentais da mente. A nossa mente pode mudar constantemente o seu foco — da mesma forma que podemos fazer “zapping” na televisão — ou pode ser direcionada e concentrada. Nos primeiros três dos cinco estados, a nossa mente é descrita como distraída; nos últimos dois, é descrita como focada e voluntariamente fixa num objeto ou ponto específicos. 

Desdobrando os cinco estados: 

1 - A Mente Agitada: neste primeiro estado, a nossa mente está agitada e fora de controlo. A nossa atenção salta de ponto em ponto, de uma forma hiperativa — usamos muitas vezes a expressão “monkey mind” para descrever este estado, numa analogia com o macaco, que salta de galho em galho sem parar. Ou mantendo a analogia com a televisão, é como se o botão de mudar de canal tivesse ficado preso e os canais mudassem em contínuo. Quando as nossas mentes estão neste estado, sentimo-nos desintegrados, perdidos…

2 - A Mente Preguiçosa: neste segundo estado, as nossas mentes estão pesadas e preguiçosas. Ou seja, estamos num estado de inércia mental, ao ponto de os nossos movimentos se tornarem difíceis. Quando uma pessoa está de ressaca, por exemplo, está neste tipo de estado mental. Na analogia da televisão, é quando a imagem no ecrã está desfocada. 

3 - A Mente Distraída: no terceiro estado, a nossa mente muda o foco da sua atenção de um ponto para o outro, mas sem a hiperatividade que caracteriza o primeiro estado. Flutua entre momentos em que está atenta para momentos de distração, por vezes estando sintonizada num determinado canal e mudando de repente para outro(s). Devido a este tipo de flutuação na atenção, a mente distraída representa ainda um estado de desintegração. 

4 - Estado Focado: no quarto estado, a mente está focada num único objeto — que pode ser interno ou externo. A televisão mantém-se continuamente num canal e há controlo sobre o ponto de foco. 

5 - Estado de Absorção: o último estado é o mais elevado; aquele em que a nossa mente está não somente focada no objeto, mas também totalmente absorvida pelo mesmo. É como se existisse uma receção direta e pura, em que a própria televisão deixaria de ser necessária. O objeto é visto de forma clara, tal como é efetivamente, sem qualquer das nossas projeções mentais. Aqui não há força ou factor externo que perturbe este foco, e neste estado a mente está totalmente integrada. E este é o estado do Yoga. 

Ou seja, a prática do Yoga como estilo de vida visa focar as nossas mentes, levando-nos a viver num estado de presença, integração e entrega totais. Se quiserem explorar um pouco mais o tema da mente e da reintegração pessoal, recomendo o livro 'Yoga For Body, Breath and Mind', de A. G. Mohan, que serviu de base a este artigo :) É um livro muito prático e fácil de ler que, para além de explorar as temáticas da mente, corpo e respiração (pranayama), também ilustra e desdobra detalhadamente algumas das principais asanas de yoga.

Sara Sá estudou Comunicação Social, mas especializou-se em Relações Públicas e trabalhou 15 anos como tal. A paixão pelo Yoga levou a melhor e, deixando o emprego e vendendo tudo o que tinha, abriu no Porto o MANNA, um espaço onde partilha, com quem por lá passa, a sua filosofia de vida.