Após dar à luz, é normal sentir o que se chama de "baby blues". Os níveis hormonais oscilam após o parto, desencadeando altos e baixos emocionais, ansiedade, dificuldades para dormir e muito mais. Se esses sintomas persistirem por mais de duas semanas, sim, pode ser depressão pós-parto (DPP). É o momento de pedir ajuda. Você não é uma super-mulher!

A DPP é um tipo de depressão que muitos pais enfrentam após terem um bebé. É uma experiência comum e afeta mais de uma em cada sete mulheres no primeiro ano após o parto. E sim, também pode afetar pais e parceiros.

É importante pedir ajuda assim que perceber que pode estar deprimida, para que possa procurar tratamento e iniciar o seu caminho de recuperação. Dessa forma, vai poder sentir alegria novamente e aproveitar a experiência de ser mãe. Com o apoio adequado, a maioria das mulheres recupera completamente.

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Os Sintomas

A chegada do seu lindo bebé pode encher a sua nova vida com alegria, mas também a pode deixar completamente sobrecarregada e exausta. Todas essas emoções são completamente normais! E não importa como se sente, o que é importante lembrar é que trouxe uma nova vida a este mundo e isso é incrível. Parabéns, mamã! Mas agora é o momento de também cuidar de si.

A DPP é muito mais intensa do que esses “baby blues” iniciais do pós-parto. Pode ter episódios de choro excessivo, afastar-se de amigos e familiares ou de outras situações sociais. Pode até ter pensamentos de prejudicar a si mesma ou ao seu bebé.

Outros sintomas incluem:

  • - dificuldade em criar vínculos com o bebé
  • - raiva
  • - irritabilidade
  • - dificuldade em tomar decisões
  • - oscilações de humor intensas
  • - extrema falta de energia
  • - ansiedade
  • - ataques de pânico.

É importante conversar com o seu parceiro ou um amigo próximo se estiver a passar por esses sintomas. A partir daí, marque uma consulta com o seu médico para discutir opções de tratamento. Se não tratada, a DPP pode durar meses, dificultando o cuidado consigo mesma e com o seu bebé. Por isso, vamos às respostas e soluções.

Porque se sente assim?

Não há uma única causa para a depressão pós-parto, mas a genética, mudanças físicas e questões emocionais, podem desempenhar um papel importante.

  1. Genética: estudos mostram que ter um histórico familiar de depressão pós-parto - especialmente se for grave - aumenta o risco de sofrer desta condição.
  2. Oscilações hormonais: após o parto, uma queda dramática das hormonas estrogénio e progesterona no corpo pode contribuir para a depressão pós-parto. Outras hormonas produzidos pela glândula da tiróide também podem diminuir drasticamente - o que pode fazê-la sentir-se muito cansada, letárgica e deprimida.
  3. Questões emocionais: quando está privada de sono e sobrecarregada, pode ter dificuldade em lidar até mesmo com problemas pequenos. Pode estar ansiosa em relação à sua capacidade de cuidar de um recém-nascido. Pode sentir-se menos atraente, lutar com a sua identidade ou parecer-lhe que perdeu o controle sobre a sua vida. Qualquer um desses problemas pode contribuir para a depressão pós-parto. A maioria das mulheres passou por isso e infelizmente muitas vezes em silêncio, por acharem que isso as tornava más mães. Seja honesta e simplifique. Quantos seres humanos você conhece que não se sentiriam tristes e exaustos com noites consecutivas sem dormir?
  4. Deficiências nutricionais: vitamina D, ferro, EPA/DHA. A gravidez é extremamente exigente com as necessidades micronutricionais da mãe e do bebé. E sim, sei que fez certinho todos os suplementos que a sua obstetra lhe prescreveu, mas já foi fazer análises no pós-parto para verificar se tem carências nutricionais? Não se esqueça de tomar conta também de si!
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Então, como a podemos apoiar como uma nova mãe?

Tem continuado a nutrir o seu corpo durante o período pós-parto? É um dos momentos mais desafiantes. As suas hormonas ainda se estão a ajustar, o padrão de sono está alterado e ainda está a recuperar da gravidez e do nascimento do seu bebé.

A abordagem tradicional para o cuidado pós-parto avalia as novas mães às 6 semanas pós-parto e deixa-as seguir em frente. Como se desejasse boa sorte. Você consegue!

Mas diga-me, quantas de vocês, às seis semanas pós-parto, se sentiram assim: "Eu consigo! Nada demais. Estou a sentir-me ótima. Estou a dormir, a alimentar-me bem, faço exercício e não sinto desconforto no meu corpo." Eu suponho que nenhuma... E isso é totalmente normal. Acabou de passar pela coisa mais difícil: trouxe um bebé ao mundo.

É por isso que defendo que todas as recém-mamãs precisam de apoio. Seja às 6 semanas, 12 semanas, 6 meses ou 2 anos pós-parto. Na minha abordagem funcional, eu apoio com suplementos de vitaminas, nutrientes e muito amor e positividade.

Suplementos: os essenciais

  • Óleo de peixe: os ácidos gordos ómega-3 podem estar mais baixos em mulheres com DPP. Pode aumentar o consumo de ómegas com uma dieta rica em peixe, vegetais verdes e nozes, mas também tomar sob a forma de suplemento. Dose: 1-3 g/dia (DHA e EPA combinados).
  • Ácido fólico: É uma das vitaminas do complexo B e pode obtê-lo através de alguns alimentos, como lentilhas, espinafres e brócolos, ou de suplementos de folato/metilfolato. Dose: no mínimo 400 mg de folato por dia.
  • Vitamina D3: dose 2.000 - 5.000 UI diariamente, dependendo dos níveis de vitamina D no corpo da mulher.
  • Ashwagandha (withania somnifera): Esta é uma pequena planta que tem sido usada há séculos para tratar a ansiedade. É tomada em cápsulas, chá ou tintura. A ashwagandha pode ajudar o corpo a resistir a fatores externos de stress. Ainda não foi muito estudada em mulheres que amamentam, mas pode ser utilizada individualizando a cada caso.
  • Melissa (melissa officinalis): pode ser tomada como extrato ou chá. A melissa pode ser uma planta útil para a ansiedade e problemas de sono.
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Reequilibrar as hormonas

Antes de engravidar: este é o seu cérebro com hormonas. Pós-parto: este é o seu cérebro sem hormonas. Hormonas equilibradas: este é o seu cérebro no ponto certo.

Os neurocientistas sempre se interessaram pelo efeito das hormonas sexuais no cérebro, estrogénios, progestagénios e testosterona. Aqueles de nós que praticam Endocrinologia Funcional, como eu, têm um interesse particular na progesterona e nos seus metabólitos cerebrais, as moléculas que o cérebro produz a partir da progesterona.

A progesterona e o seu metabólito cerebral, a alopregnanolona, parecem tornar o cérebro menos irritável. E a queda de progesterona no final do período menstrual pode ter um papel na TPM em algumas mulheres vulneráveis, mas também no pós-parto. A progesterona é a hormona mais abundante na gravidez e alguns acreditam que a sua queda dramática após o parto possa ter um papel na DPP.

Para a maioria das mulheres com depressão pós-parto, os sintomas parecem desaparecer em semanas ou meses, mas algumas beneficiam da psicoterapia ou dos antidepressivos comuns. No entanto, isso pode levar semanas até ter uma diferença mensurável. Até agora, as terapias focadas na depressão pós-parto foram baseadas nos mesmos princípios e medicamentos da depressão que ocorre em homens e mulheres que não passaram recentemente por uma gravidez. No entanto, ao observar a ligação entre a queda de progesterona e o seu metabólito cerebral alopregnanolona, verifica-se que muitas mulheres com DPP apresentam baixos níveis de progesterona no pós-parto. Este é então o momento de avaliarmos como estão os seus níveis hormonais.

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Ajude ou peça ajuda

Todos nós estamos preocupados que as mulheres com depressão pós-parto sejam diagnosticadas, recebam tratamento, tenham apoio familiar e recebam a melhor terapia. As consequências para o novo bebé e para a família de uma mãe que está retraída, e possivelmente suicida, são muito significativas.

Se você ou alguém que ama está a sofrer com DPP ou está em risco, existem muitas opções e alternativas poderosas aos antidepressivos prescritos. É importante ressaltar que, em alguns casos, a causa da depressão é definitivamente um desequilíbrio bioquímico, e a medicação antidepressiva é o melhor tratamento.

O seu corpo é lindo e forte! Mas se se sente em baixo, entenda que precisa de ser apoiada para ajudar esse bebé maravilhoso a crescer e a prosperar.

A Dra Andreia de Almeida, é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livro “Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina