Ao tentar fugir aos embalamentos excessivos de produtos que duram um, dois meses, comecei há mais de dois anos a minha demanda por um desodorizante com menos impacto ambiental. Sorte das sortes, encontrei logo um que adorei: a pedra de alúmen. Depois disso, veio um pós-parto onde as hormonas trocaram as voltas à minha experiência tão boa e tive de encontrar uma alternativa. Voltei a encontrar opção. Por isso, hoje deixo algumas sugestões na procura de um desodorizante com menos impacto no planeta.

Deixo apenas a nota de que, por não se tratar de um produto de enxaguamento, não me centrei na questão da biodegradabilidade dos ingredientes.

Pedra de alúmen

Não, não contém cloreto de alumínio, que é o que assusta a maioria das pessoas quando lêem a palavra “alúmen”. O cloreto de alumínio é a substância que era utilizada em alguns anti-transpirantes e que se pensa – sem evidência comprovada até à data – que poderá ter efeitos adversos, nomeadamente cancerígenos. Na realidade, esta pedra de alúmen apenas contém alúmen de potássio (caso seja o produto puro) ou 'ammonium alum' (uma versão sintética que, honestamente, a nível ambiental, não me parece má ideia, dado que o alúmen de potássio não é uma matéria-prima renovável).

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A pedra de alúmen que utilizo é da Biork e vem envolvida num “frasco” de cortiça portuguesa. O melhor: dura seguramente mais de dois anos, dado que utilizei desde Janeiro de 2019 até Setembro do mesmo ano e ainda nem gastei 1/4 da pedra. Uma vez que a cortiça ganha sal com o uso, pode optar-se por retirar logo a pedra da cortiça e guardar num frasco que exista por casa (e colocar a cortiça no compostor) ou limpar bem a pedra depois de utilizar (deve ser molhada antes de passar nas axilas), antes de colocar no suporte de cortiça.

Outra opção é comprar apenas numa simples embalagem de cartão, como as famosas pedras hemostáticas das marcas portuguesas 444 ou Cutoline, que os pais e avós utilizavam depois de barbear. Estas duas últimas opções são mais económicas, mas o formato é menos ergonómico para utilização nas axilas do que o Biork.

Desodorizante em stick (embalado em cartão)

Existem algumas marcas no mercado com opções de embalamento simples, em cartão, fácil de reciclar.

Uma das que experimentei e adorei foi o desodorizante de lavanda da Ben & Anna, que também deve ser humedecido antes de aplicar, o que pode levar a que o cartão perca a forma e torne a utilização mais difícil, pelo que sugiro que seja logo retirado da embalagem quando comprado, encaminhando-se a embalagem para o ecoponto azul.

Existe também da Kutis (achei que esfarelava muito) e da WeLoveThePlanet (nunca experimentei).

Desodorizante em lata

Depois de gostar tanto do de lavanda, que também dura muito (utilizei de Setembro de 2019 até Setembro de 2020, e vai precisamente a meio), quis experimentar o de lima, em versão lata. Para mim, tem algumas vantagens. A primeira é não ter de molhar o desodorizante para aplicar. A segunda é poder reutilizar a lata, sendo que o alumínio é muito fácil de triar e reciclar, até porque o alumínio reciclado tem muita procura, por ser mais barato do que alumínio virgem.

Como desvantagem, terá a duração mais curta. Estou a utilizar há cerca de um mês, por isso não consigo dizer quanto tempo exatamente dura. Estimo que uns quatro a seis meses. Mas tem a textura mais cremosa, pelo que dura menos que a versão em stick (em bom rigor, o produto também tem menos gramagem).

Outra marca que tem esta opção é a WeLoveThePlanet, embora nunca tenha experimentado.

Desodorizante sólido (sem embalagem)

Nunca experimentei (ainda tenho os três anteriores para terminar, pelo que não estará para breve experimentar), mas recebo constantemente bom feedback de alguns.

Vantagem imediata: não existir qualquer tipo de embalamento ou existir apenas para o transporte, sendo descartado (para reciclagem) quando abrimos o produto. Um dos que me chega com melhor feedback é o Aromaco, da Lush. Existe também uma opção da Lamazuna, outra da Pachamai (que se pode comprar com uma lata de transporte ou apenas o refill) e ainda uma outra da Banbu.

Desodorizante refill

Será uma opção menos eficiente do que todas as apresentadas até aqui, por ser líquido e, como tal, durar menos tempo, ser mais pesado e mais volumoso no transporte. Têm a vantagem de, pelo menos, não termos de descartar a cada dois meses toda uma embalagem com roll-on. Isto assumindo que quem lê esta rubrica não utiliza desodorizante de aerossol – se utilizam, leiam o que deixo abaixo.

Encontram opções de refill dentro das marcas Respire , Weleda, Salt of the Earth ou Coslys.

Aerossol

Tópico com rasteira, porque não vou apresentar opções de desodorizante em aerossol. Vou, sim, explicar o problema ambiental que os mesmos geram (ainda hoje em dia).

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As embalagens de aerossol utilizavam CFC (clorofluorcarbonetos), que também eram utilizados nos eletrodomésticos de refrigeração e que são agora proibidos na União Europeia. Passou então a utilizar-se GLP (gás liquefeito de petróleo) que, embora melhor porque não transforma ozono em oxigénio, permitindo que a camada de ozono continue a filtrar devidamente os raios solares, ainda assim continua a ser um derivado do petróleo.

Têm vindo a surgir inovações no que diz respeito a aerossóis mais responsáveis ambientalmente. Não é por acaso que a gigante Beiersdorf se tornou, este ano, acionista da Salvalco, uma empresa de engenharia do Reino Unido que desenvolve válvulas de aerossol – Eco-Valve – para fabrico de embalagens com propulsores mais sustentáveis.

A tecnologia está em constante evolução e trará, acredito, solução para muitos dos problemas ambientais que enfrentamos. Mas, para já, o melhor é mesmo evitar os aerossóis e apostar numa das opções acima referidas. Se não for possível, pelo menos encaminhemos as embalagens de desodorizante para a reciclagem.

Catarina Barreiros formou-se em Arquitetura, foi stylist de moda, tirou um Mestrado em Gestão, trabalhou em Marketing Digital e, no meio de voltas e contravoltas, descobriu na sustentabilidade a base da sua vida, primeiro privada e depois profissional. No projeto "Do Zero", explora a temática a fundo e encontra respostas para perguntas que não sabia existirem... será que precisamos mesmo de usar papel higiénico?