Devemos lavar a vagina ou apenas a vulva?
A higiene da zona íntima deve ser feita apenas externamente. Entendemos por vagina a zona interna e por vulva e períneo a zona externa. Os duches vaginais não são recomendados, por alterarem o equilíbrio normal da flora vaginal.
Com que frequência devemos fazê-lo?
A higiene da zona íntima deverá ser realizada em média duas vezes por dia. A regra é “nem de mais, nem de menos”, mas nos dias de ginásio, da menstruação ou em condições específicas, poderá ser necessário um maior número.
Precisamos de um sabão específico?
A higiene íntima deve ser realizada idealmente apenas com água ou com um produto com características específicas e adaptadas à zona íntima. O pH vaginal é diferente do pH da pele do restante corpo, pelo que deverá ser respeitado.
Se optarmos por um produto, o que devemos procurar?
Mediante a situação específica e a idade da mulher, o produto de higiene íntima indicado poderá ter características diferentes. Uma menina antes da menarca apresenta um menor nível de estrogénios, tal como a mulher na menopausa. A produção de ácido láctico está dependente da quantidade de lactobacilos presentes na flora vaginal da mulher, e este número depende do nível de estrogénios existente. Quanto mais estrogénios, maior o número de lactobacilos, maior a produção de ácido láctico e por isso menor o pH da vagina (mais ácido). Durante a menstruação o pH pela presença de sangue tende a ser mais elevado.
Mas o mesmo produto pode não funcionar para todas...
As mulheres são diferentes, e vivem diferentes fases da vida. Para além da importância de adaptar a escolha do produto à idade e às condições presentes na altura, não nos podemos esquecer que uma mulher poderá adaptar-se muito bem a um certo produto, e outra a outro produto, por exemplo com características mais ou menos hidratantes. Algumas mulheres preferem simplesmente a utilização de água apenas na sua higiene íntima. Devem ser evitados produtos muito agressivos para a pele e mucosa.
Depois das relações sexuais, devemos ter algum cuidado especial?
A higiene íntima deve ser realizada após a relação sexual. Uma das razões é o facto de o sémen apresentar um pH mais alcalino, o que poderá condicionar alterações do equilíbrio do pH vaginal. Urinar após as relações sexuais também é muito importante, por forma a evitar as infeções urinárias na mulher.
E antes?
Antes das relações sexuais, a decisão já se torna mais como uma opção pessoal e não tanto uma recomendação. Fica ao critério de cada mulher e casal. Após as relações sim, existe a recomendação de ser realizada a higiene e a micção.
E durante a menstruação, devemos reforçar a limpeza?
Durante a menstruação a higiene deve ser reforçada, de forma a evitar odores desagradáveis. No entanto, sempre com o bom senso de “nem de mais nem de menos”.
Devemos fazer alguma alteração na nossa higiene íntima caso usemos pensos, tampões ou copos menstruais?
Os cuidados a ter durante a menstruação com a utilização dos pensos higiénicos e tampões são essencialmente a necessidade de serem trocados frequentemente, não ficando períodos longos com o mesmo penso/tampão. Existem algumas mulheres que poderão fazer alergia aos pensos/tampões mais habitualmente utilizados. A opção de pensos e tampões em algodão poderá diminuir as queixas de irritação.
O copo menstrual, desde que a mulher se adapte à sua utilização, é uma ótima alternativa, que para além de ser ecológica também é uma excelente nos casos de intolerância aos outros métodos. Dependendo da anatomia de cada mulher, o copo menstrual, como tem diferentes opções de tamanhos, poderá ser utilizado por mulheres que ainda não iniciaram a vida sexual.
Toalhitas íntimas: sim ou não?
As toalhitas devem ficar reservadas para situações excepcionais, como costumo dizer, em SOS. Por rotina não devem ser utilizadas, por serem mais agressivas e poderem causar irritações da zona íntima.
Todas as vaginas têm odor? Isto é, uma vagina saudável pode ter cheiro?
Todas as vaginas têm odor e uma vagina saudável tem cheiro. Mas tem um cheiro que as mulheres não se queixam como desagradável e intenso como por exemplo, o “cheiro a peixe”, característico da vaginose. Nestes casos em que o cheiro é fétido, já não se considera normal, e o corrimento deve ser observado para se tratar de forma dirigida.
Ainda sobre o odor, existem sprays femininos e desodorizantes. Qual é a opinião da Dra. sobre estes produtos?
Em algumas mulheres com odor fisiológico mais intenso, estes produtos são úteis e ajudam no seu controlo.
Devemos ou não dormir com roupa interior?
Sem dúvida que dormir sem roupa interior é benéfico. A vagina é uma mucosa, e é importante não estar sempre tapada. Para além de dormir sem roupa interior, a utilização no dia-a-dia de roupa mais larga também é benéfico.
A qualidade da nossa roupa interior pode influenciar a nossa higiene e saúde geral da vagina?
A qualidade da roupa interior é importante, e de preferência devemos utilizar no nosso quotidiano roupa interior de algodão. O algodão, para além de causar menos sintomas irritativos, também tem um poder de absorção superior aos outros tecidos utilizados na confeção de roupa interior. A presença de corrimento vaginal na mulher é normal, podendo a quantidade variar de mulher para mulher. A roupa interior de algodão, ao ter um maior poder de absorção também vai condicionar maior conforto à mulher durante o dia. Costumo dizer que a utilização de rendas, sedas e fio dental deve ser reservada para dias especiais!
Hoje em dia há uma série de novos produtos para a vulva no mercado, de iluminadores, a séruns... Como é que devemos reagir perante estes novos produtos?
Penso que deveremos ter uma atitude open mind! A mulher moderna gosta de tratar de si, de se sentir bonita e cuidada. Numa perspectiva de saúde, a utilização de hidratante para a vulva é muito importante de forma a prevenir sintomas causados pela pele seca como prurido e irritação. Como costumo dizer às minhas doentes, pomos creme na face, nas maminhas, na barriga, nas coxas, etc.. E na vulva?
Que sinais é que nos podem indicar que a nossa higiene íntima não é a correcta e de que devemos consultar um ginecologista?
Na presença de sintomas como irritação, comichão vulvovaginal, corrimento com cheiro intenso ou fétido ou corrimento mais abundante e de características diferentes do habitual, a avaliação por um médico é importante. Estes sintomas poderão surgir por exemplo após a toma de antibióticos, ou outras situações que podem propiciar um desequilíbrio da flora vaginal e/ou na sequência de uma higiene íntima não correcta.
Sabemos que se tivermos os cuidados base de uma higiene íntima adequada, a utilização de roupa interior de algodão, dormir sem roupa interior, evitar o uso de pensos diários por rotina… que contribuímos para um equilíbrio saudável da flora vaginal e prevenimos sintomas desagradáveis.
#MirandaEsclarecida ?
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