“Ai chega, chega, chega ó minha agulha, afasta, afasta, afasta o meu dedal...”, cantou de cor este refrão? Nós também. É impossível não conhecer uma das cenas mais memoráveis do cinema português, no filme ‘A Canção de Lisboa’, de 1933, pela voz da icónica Beatriz Costa.
Baixinha, morena, de olhar expressivo e sorriso doce, assim era a menina-mulher que cativou os cinéfilos portugueses e deixou um legado na cultura portuguesa. Nascida a 14 de dezembro de 1907, em Mafra, Beatriz Costa começou desde cedo no mundo do espetáculo. Aos 15 anos estreou-se como corista na revista ‘Chá e Torradas’ no Éden Teatro, em Lisboa e, um ano mais tarde, voltou a pisar o palco, desta vez do Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer.
O seu talento, aliado à sua voz, deu-lhe a oportunidade de integrar a companhia do Teatro Avenida, numa digressão pelos palcos do Rio de Janeiro, onde deixou a promessa de um dia regressar.
No mundo da Beleza, Beatriz Costa marcou o estilo da época com o seu característico look de franja curta, que lhe valeu a alcunha “Menina da Franja” até aos dias de hoje.
A atriz seguia à risca as diretrizes de beleza dos anos 30. Para além do cabelo curto, também as sobrancelhas finíssimas marcadas a lápis eram uma referência dos seus visuais sofisticados. Dona de uma beleza inocente, gostava de destacar os lábios com o clássico batom vermelho que faziam pendant com a sua manicura. Os olhos vivaços eram pintados com sombras escuras e um lápis preto na linha d’água, sem esquecer a máscara de pestanas. As boinas eram o seu acessório de eleição. Até ao fim dos seus dias, Beatriz Costa manteve sempre uma aparência imaculada.
Ficará eternamente conhecida pelas suas memoráveis participações nos filmes ‘A Canção de Lisboa’, com a icónica canção ‘A Agulha e o Dedal’ e em “A Aldeia da Roupa Branca”, um grande sucesso de 1939. No mesmo ano, cumpre a sua promessa e regressa ao Brasil, onde conquistou grandes êxitos e passou os melhores 10 anos da sua vida.
Em 1960, depois de uma longa carreira, Beatriz Costa decide abandonar os palcos e a representação para viajar pelo mundo, ou não fosse ela uma viajante incansável dotada de uma admiração incondicional pelos diferentes povos e terras.
Nos últimos anos da sua vida, dedicou-se à escrita de livros sobre as suas memórias. ‘Sem Papas na Língua’ (1975), como era conhecida, foi o seu primeiro livro, best-seller em Portugal e no Brasil. Editou mais quatro livros, ‘Quando os Vascos Eram Santanas... e Não Só’ (1977), ‘Mulheres Sem Fronteiras’ (1981), ‘Nos Cornos da Vida’ (1984) e ‘Eles e Eu’ (1990), também eles enormes sucessos.
Na manhã de 15 de abril de 1996, a cultura portuguesa ficou mais pobre com a morte de Beatriz Costa, aos 88 anos, num quarto do 6º andar do Hotel Tivoli Lisboa, onde sempre vivera. Os seus pertences estão agora expostos no Museu Popular Beatriz Costa, na sua terra natal, a Malveira, que carinhosamente lhe chama de ‘Diva Saloia’. Ainda hoje, é relembrada com grande carinho pelos críticos e o público em geral.
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