Bastou olhar para os produtos que tinha sobre o lavatório da casa de banho para perceber que o desafio de passar uma semana inteira sem usar plástico em qualquer momento da minha rotina de Beleza não ia ser tarefa fácil.
Falamos cada vez mais sobre sustentabilidade, consciêncialização e desperdício, mas só quando somos confrontados com o assunto é que percebemos a dimensão do problema, e concretizamos o quanto o plástico monopoliza praticamente tudo o que utilizamos no nosso dia-a-dia. O creme hidratante que estava a utilizar? Estava numa embalagem de plástico. O sérum? Bem, o frasco era de vidro, mas o (conveniente) doseador... era de plástico. O produto de limpeza? Também.
A indústria da Beleza já começou a despertar para o assunto, e hoje há uma série de marcas que oferece soluções para uma rotina cada vez mais livre de plástico. Mas já será efectivamente possível fazê-lo? Para perceber se este é um cenário utópico ou, de facto, exequível, fiz a experiência durante uma semana.
Rosto
A primeira barreira aconteceu aqui, nos cuidados de rosto. "Adiós, creme" bem podiam ter sido as minhas palavras depois de uma busca infrutífera por um que não contivesse plástico na sua embalagem. Acabei por usar apenas ampolas (de vidro, claro), e o óleo facial de Tulsi da Skin Regimen. Para hidratar os lábios recuperei a clássica Vaselina, no seu formato de sempre, a redonda caixa metálica.
Maquilhagem
A maquilhagem é quiçá o território mais pobre no que diz respeito a produtos sem plástico, distinguindo-se a Lush como uma das marcas com mais oferta. Foi nela que me apoiei para conseguir uma base e um batom - note-se que a marca também comercializa iluminadores e correctores sem quaisquer plásticos. Usei a base Lush Slap Stick, em forma de ovo, que apliquei pelo rosto como se tratasse de uma base em bastão, já que a textura é muito semelhante. No meu caso, que prefiro texturas mais líquidas e coberturas leves, esta acabou por não ser a mais indicada - a própria marca categoriza-a como tendo cobertura média, pelo que deverá funcionar melhor em quem favoreça esse tipo de acabamento. Ainda assim, é de aplaudir o facto de estar a usar uma base sem qualquer packaging.
Já o batom foi uma agradável surpresa. A Lush comercializa as balas, ou seja, as barras dos batons - estes compram-se sem qualquer embalagem. Neste caso, pus a teste o Dubai, um vermelho vibrante. Para usar o batom é necessário descascá-lo (uma vez que está envolto em cera) e colocá-lo numa embalagem vazia de batom. Aproveitei o facto de ter acabado um batom de cieiro nessa semana e coloquei-o nesse recepiente - limpei qualquer vestígio do produto antigo e introduzi a nova bala. O batom é cremoso e a cor perfeita. E a embalagem do meu produto terminado não teve de ir parar ao lixo.
Os olhos foram um desafio difícil de superar. Por estes dias, a máscara de pestanas desapareceu da minha rotina, bem como o eyeliner - até os em formato de lápis têm tampas de plástico. Valeu-me o revirador de pestanas, que admito ter usado com mais fé e atenção.
Estava preparadíssima para dizer que não precisei de deixar de usar cotonetes - insubstituíveis para quem não é uma ninja do eyeliner - já que os existem feitos de bambu e não plástico, e encontram-se não só em lojas de especialidade, como já em quase todos os grandes supermercados, mas a verdade é que, não ultrapassada a falta do eyeliner, não foram necessários.
Para desmaquilhar, optei por usar a manteiga desmaquilhante de camomila, da The Body Shop, um produto capaz de dissolver toda e qualquer maquilhagem (sim, até a máscara de pestanas quando a há) e que tem a vantagem de ter uma embalagem de metal.
Cabelo
Depois de ter experimentado champô sólido, esta foi, sem dúvida, a mudança mais fácil de todas. A versão sólida de champô é em tudo similar a um sabonete, basta adicionar água e passar pelos fios e couro cabeludo. Neste caso, alternei entre o champô de gengibre e o de menta, da Castelbel, indo a minha predilecção para o segundo, pela fragrância e sensação de frescura.
O meu cabelo exige algo mais do que um champô, sendo a utilização de uma máscara capilar uma obrigatoriedade pelo menos uma vez por semana. Neste caso, e apesar de já existirem marcas que comercializam condicionadores e outros produtos semelhantes, optei por usar o velhinho óleo de coco (contido num frasco de vidro e tampa de metal). Repliquei um método que já havia experimentado há uns anos e que se revelou, uma vez mais, vencedor: apliquei o óleo no comprimento do cabelo seco (nada de o colocar na raíz!) e dormi com o cabelo envolto numa toalha. No dia seguinte, lavei-o pela manhã.
Corpo
É incrível como a utilização de um sabonete para o corpo parece, de repente, algo tão arcaico - quase como se a civilização conhecesse um gel de duche desde sempre. O processo de adaptação estranha-se, mas facilmente recuperei as memórias de infância que tenho dos tempos em casa dos meus avós. Utilizei um sabonete clássico, da Claus Porto.
No que toca a hidratação, foi difícil encontrar texturas leves de cremes corporais cuja embalagem não fosse dependente do plástico. Felizmente, fiz esta experiência durante uma semana em que as temperaturas estavam mais baixas das que agora se apresentam, pelo que encontrei o conforto na consistência untuosa da manteiga corporal Gordíssimo, da Benamôr, cuja lata de metal é de tal forma mimosa que seria impossível desfazer-me dela findo o produto.
Veredicto
Com a consciencialização do impacto do plástico e do desperdício causado pela indústria da Beleza, é espectável que as marcas comecem a utilizar packaging mais consciente. Mas, por enquanto, adoptar uma rotina livre de plástico ainda envolve esforço e dedicação - muitos dos produtos são vendidos apenas online ou em lojas de especialidade. No caso de skincare, essa mudança exige também, pelo menos por enquanto, um investimento financeiro superior.
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