Quando é que te apaixonaste pela Beleza?
Aconteceu muito cedo, eu costumava passar os verões com a minha avó na Áustria e ela tinha uma boutique de Moda, desenhava roupa. Eu sentava-me no chão, ao lado das costureiras e lia as revistas dela, a Vogue Itália e a Vogue Paris, e era fascinada pelos rostos das modelos, mais do que pela Moda. Eu era uma rapariga “rechonchuda” [risos] e não me identificava com a parte física das modelos, mas sim pela beleza dos seus rostos. A minha avó tinha um toucador e eu ficava a vê-la a arranjar-se e a colocar os seus produtos de Beleza da Estée Lauder, da Elizabeth Arden... o seu Chanel Nº 5... Foi ela que, aos 13 anos, me comprou a minha primeira linha de cuidados de rosto, os 3 Passos da Clinique, e me ensinou a tomar conta da minha pele.
E como aconteceu tornares-te Directora de Beleza numa revista?
Quando era teenager, devorava as revistas todas de Moda e era obcecada pela secção de Beleza. E usava todo o dinheiro que tinha ganho nos trabalhos de Verão, a fazer baby-sitting ou a servir à mesa, em produtos de Beleza. Até fazia de conta que tinha uma loja, com prateleiras cheias de produtos! Queria muito tornar-me maquilhadora, mas percebi que nunca iria ser tão boa quanto uma Charlotte Tilbury ou a Pat MacGrath, por isso decidi que a melhor maneira de trabalhar rodeada de produtos de Beleza seria trabalhar numa revista. Por isso, candidatei-me a um estágio na Marie Claire inglesa e fui para Londres. Comecei na recepção e depois fui assistente do departamento de Moda. Lembro-me que ia de autocarro para o trabalho e, todos os dias, quando atravessava a ponte, olhava para o rio e dizia para mim: “Um dia vais ser Directora de Beleza da maior revista inglesa”, era uma espécie de mantra, muito antes de se falar ou de aparecerem os livros sobre a Lei da Atracção. A verdade é que acabei por me tornar Directora de Beleza da Glamour UK, que era, de facto, a maior revista feminina de Inglaterra, e ocupei o cargo durante 11 anos.
Em que é que isso influenciou a forma como vês a Cosmética e, agora, a criação desta linha de tratamento?
Enquanto fui Directora de Beleza tive a oportunidade de entrevistar os maiores cientistas, dermatologistas, maquilhadores, e isso deu-me um grande conhecimento sobre a indústria e muita experiência a compreender a Cosmética. Na Glamour, apesar da abordagem a produtos de luxo, eu tentava sempre oferecer às leitoras opções mais baratas e práticas. A escolha de um produto mais barato ou mais caro nem sempre tem que ver com a capacidade financeira: a prioridade das pessoas pode simplemente não ser essa e, desde que haja uma garantia de qualidade dos produtos, não há razão para não fazermos com a Beleza aquilo que fazemos com a Moda: alternar cosméticos mais caros com mais baratos.
Como e quando começou este projecto em parceria com a Primark?
Foi há cerca de dois anos, eu já fazia consultadoria à Primark, mais a nível de maquilhagem, e um dia disse-lhes: “Adoro a maquilhagem, mas por que não fazem nada com a linha de tratamento?” Eles disseram que os produtos de tratamento não eram o foco deles naquele momento mas, algum tempo mais tarde, regressaram ao tema e disseram que gostariam de avançar. Inicialmente percebi que apenas iria estender o meu trabalho de consultadoria ao tratamento, mas eles disseram: “Não! Queremos fazer contigo”. Eu fiquei “Wow!”, e pensei: "Isto é incrível, podemos mesmo fazer a diferença”. Estávamos a viver uma altura em que havia um pouco o estigma de “poderá uma linha de tratamento barata ser boa?”, mas marcas como The Ordinary, por exemplo, vieram provar que as pessoas depositam confiança nos seus produtos. E foi assim que tudo começou.
Conta-nos mais sobre a tua ideia por trás desta linha.
Ao mesmo tempo que fiquei incrivelmente contente, também lhes transmiti que tinha algumas questões que, para mim, eram essenciais: não trabalhar com fórmulas pré-existentes; ter uma palavra quer no design gráfico, quer na nomenclatura, nas embalagens... tudo, basicamente! Também não queria potes, para evitar a questão da contaminação, não queria fragrância nem óleos essenciais, para minimizar o risco de alergias, e também porque tinha em mente o cliente típico da Primark: uma pessoa que possivelmente vive com outras pessoas e que na mesma casa-de-banho partilha produtos e o espaço disponível. Também queria que fosse neutro em questões de género, ou seja, indicado para mulheres mas também para homens; e, claro, sem ftalatos, sem parabenos, sem sulfatos e absolutamente 100% Cruelty Free. Esta última questão é muito importante para mim e, diga-se, a Primark já é 100% Cruelty Free em todas as frentes, não apenas nesta linha. Há uma coisa que a maioria das pessoas não sabe: quando muitas marcas reivindicam serem isentas de crueldade para os animais, estão a referir-se apenas ao produto final, a fórmula final não ter sido testada em animais. Mas o que realmente importa, e o que consegui com esta gama, foi garantir que nenhum dos ingredientes, desde a sua origem, tenha sido testado em animais. Estas foram algumas das razões que levaram a que demorasse dois anos a desenvolver este projecto com a Primark, estas coisas levam tempo.
A linha é então muito abrangente, de homens a mulheres, de mais novos a menos novos?
Sim, completamente. Eu tenho a sorte de ter seguidores muito participativos, e esta linha foi feita em colaboração com a Primark mas, de certa forma, é o resultado da colaboração das pessoas que me seguem e que me inundam diariamente de perguntas. Eu pensei cada um dos produtos para servir a maioria das preocupações que me chegam, e isso inclui desde um creme oil-free, para quem tem a pele mais oleosa, até um stick anti-pontos-negros, como a linha Plump and Glow, e a Maximum Moisture que também pode ser usada em peles mais maduras. Com a Primark eu teria mesmo de fazer uma linha que servisse todos os clientes.
Como conseguiram ter essa garantia de qualidade em produtos entre 4 e 6 euros?
A Primark não gasta muito dinheiro em publicidade e, por outro lado, também vendem nas suas próprias lojas, e por isso não se coloca a questão da distribuição. Os custos de marketing são baixos por esta razão e também não gastam muito com o packaging, apenas o essencial. E, por último, têm escala, com a quantidade imensa de lojas que têm em todo o Mundo.
Fala-nos um pouco da linha e dos seus ingredientes.
São 20 produtos divididos em cinco linhas: Sleep Spa, Pore Balance, Pump & Glow, Maximum Moisture e Pollution Solution. Inclui todos os ingredientes nos quais acredito e que sei serem eficazes: niacidamida, ácido salicílico, lácteo e PHA, ácido hialurónico... Para mim, o importante é serem eficazes, mas gentis com a pele, de forma a manter sempre intacta a barreira de protecção natural da pele. Queria que as pessoas pudessem misturar os produtos das diferentes linhas, de acordo com as suas necessidades. Por isso é que as embalagens são muito explicativas, sem serem chatas. Na Primark, o sistema tem de ser prático, é “self-service” e rápido, não temos ninguém a explicar-nos o produto durante meia hora, por isso as pessoas teriam de ter a capacidade de tomar decisões de forma rápida.
Qual foi o maior desafio técnico?
As texturas. Não serviria de nada eu dizer que os produtos são incríveis e baratos, mas depois a experiência sensorial não corresponder. É isso que faz com que tenha uma sensação de “luxo”, é em conta mas ainda assim um prazer para os sentidos. Andei para trás e para a frente até encontrar as texturas com as quais fiquei satisfeita.
E os produtos mais inovadores, quais são?
A Maximum Moisture Mark é incrível: é feita com uma nova tecnologia, que é exclusiva da linha e que vem da Coreia. Usa umas fibras que “incham” quando em contacto com a pele, para que não aconteça aquela coisa que todos odiamos — ter uma máscara de tecido a cair-nos do rosto. Na linha Sleep Spa também há uma máscara para os olhos, que pode aplicar-se nas pálpebras e que faz com que realmente pareçamos mais descansadas na região ocular, ao acordar.
E já estás a pensar no que virá a seguir?
Claro que sim, tenho muitas ideias, mas irá tudo depender de como corra com estes produtos primeiro.
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