Em vez de começar por aplicar qualquer tratamento tópico da prateleira do supermercado, sugiro começarmos por fazer uma pergunta: “Porquê? Por que motivo, de repente, a sua pele está a explodir?”

Quando chegamos à raiz do problema, podemos descobrir o melhor plano de ação. E, melhor ainda, evitar que essas borbulhas apareçam no futuro.

Acne: um problema, muitas causas

O acne é uma doença de pele complexa com muitos fatores-gatilho: alguns internos (como a genética ou dietas), alguns externos (rotinas inadequadas de cuidados da pele, medicamentos), alguns ambientais (clima, poluição, disruptores endócrinos ou toxinas) e alguns erros no lifestyle (como, por exemplo, fazer exercício regularmente com maquilhagem).

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Portanto, se formos pensar sobre isto, qualquer um de nós pode estar em risco de desenvolver acne em qualquer fase da vida. Normalmente não há apenas uma causa para a nossa pele estar literalmente a explodir. Pode haver uma série de razões (sendo especialmente verdadeiro se já tivermos uma predisposição genética) e é aí que começa o caminho: encontrarmos a causa-raiz do acne.

Estas múltiplas interações e fatores do acne devem ser tratados de forma diferente do que possa ter feito no passado. Em vez de tentar todos os cremes do supermercado, aplicando camadas de químicos ou ácidos para controlar a produção de oleosidade, o acne deve ser tratado com cuidado, focando na inflamação, na função de barreira da pele e no reequilíbrio de dentro para fora.

Mas hoje vou dedicar este artigo ao acne das mulheres que decidem (finalmente!) interromper a pílula.

O acne pós-pílula

Sejam quais forem os motivos pelos quais iniciou a pílula, provavelmente vai-se sentir muito melhor quando a interromper. Melhor humor, mais energia, mais desejo sexual e ciclos menstruais reais. Bem-vinda a uma nova fase da sua saúde feminina!

No entanto, muitas mulheres podem desenvolver problemas como acne, tensão pré-menstrual (TPM) ou amenorréia (falta de menstruação) por vários meses. A interrupção da pílula é um caminho que pode levar o seu tempo, mas com as ferramentas e o acompanhamento certo irá reequilibrar novamente o seu ciclo menstrual.

A verdade é que a pílula é muitas vezes utilizada para controlar o acne, principalmente na adolescência, e as mulheres continuam anos sem parar a tomá-la.

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As moléculas esteróides nos métodos hormonais contracetivos das pílulas na prática até funcionam extremamente “bem” para “limpar” o acne. Vejam qual deles está na fórmula da vossa pílula. Tanto o etinilestradiol (estrogénio sintético) quanto as progestinas, como a drospirenona e a ciproterona, suprimem fortemente a oleosidade da pele. Na verdade, a ciproterona suprime a produção de sebo para “níveis infantis”, o que é um pouco assustador quando refletimos um pouco sobre isso... os adultos devem ter maior produção de sebo na pele do que as crianças, por isso é uma situação anormal.

Em resposta a essas hormonas sintéticas, a nossa pele tem que se autorregular, aumentando os estímulos para maior produção de sebo, e essa estimulação vai continuar mesmo depois de parar a pílula. O resultado... maior produção de sebo e uma pele ainda mais oleosa do que já teve antes.

Ao mesmo tempo, parar de tomar a pílula pode levar os nossos ovários a produzirem temporariamente mais androgénios, hormonas responsáveis pelo acne quando em desequilíbrio.

O duplo golpe de parar a pílula

A acne pós-pílula é o resultado de:

  1. recuperar o sebo à medida que o seu corpo se livra de um fármaco supressor de sebo;
  2. reequilibrar os androgénios à medida que os ovários voltam a ficar ativos.

São esses dois processos os “culpados” do acne.

Felizmente, nem tudo parece mau. Os ovários também devem começar a produzir as hormonas estrogénio e progesterona, que são ótimas para a nossa pele e para o bem-estar e saúde femininas.

O processo de sintomas pós-pílula pode durar de seis a doze meses, e o acne pós-pílula atinge o pico cerca de seis meses sem a toma. Muitas mulheres não conseguem superar este tempo de espera mas, depois disso, a sua pele deve começar a melhorar.

Se tem tendência para ter acne, ou se já sofreu de acne da última vez que tentou, pare de tomar a pílula e comece um plano natural preventivo, pelo menos um mês antes de parar de a tomar. Esse passo deve reduzir a gravidade do acne pós-pílula.

Tratamento do Acne

O tratamento convencional inclui a pílula, espironolactona (AldactoneⓇ) e isotretinoína (roacutanⓇ), muitas vezes associado a imensos efeitos secundários. O mecanismo de ação da isotretinoína é alterar a expressão do ADN, e pode causar efeitos colaterais graves, como depressão, doença inflamatória intestinal e osteoporose. São escolhas, mas defendo sinceramente que devem ser muito bem ponderadas em cada mulher. Mas há outras opções.

A abordagem da Medicina Funcional foca-se em:

  • tratar a inflamação de base com as mudanças alimentares certas;
  • identificar desequilíbrios hormonais associados (como a síndrome do ovário poliquístico);
  • escolher os suplementos certos para ajudar o corpo a reequilibrar-se.

Mas vamos ser mais práticos.

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Diferentes tipos de acne
As soluções:
  • Parar qualquer açúcar: para reduzir uma hormona chamada fator de crescimento da insulina, ou IGF-1, o grande responsável pela “perfect storm” do acne.
  • Evitar laticínios de vaca, para reduzir a inflamação — mulheres que bebem menos leite são menos propensas a sofrer de acne.
  • Resolver problemas digestivos — o acne pode ser causado por deficiências de ácido do estômago, SIBO (síndrome do supercrescimento bacteriano no intestino delgado) e outros problemas digestivos.
  • Abordar a intolerância à histamina — evitar alimentos com alto teor de histamina, como alimentos fermentados e queijo.
  • Picolinato de Zinco — entre 15-50 mg. Funciona reduzindo a queratina e, portanto, mantém os poros abertos. O zinco também elimina bactérias, reduz inflamações e regula as hormonas androgénicas.
  • Berberina — um antibiótico natural, elimina as bactérias que causam acne. Também reduz a inflamação e o IGF-1. Num ensaio clínico, em apenas quatro semanas a berberina melhorou o acne em 45%.
  • DIM (diindolilmetano) — um fitonutriente derivado de vegetais como os brócolos. Pode ser tomado na forma de suplemento.

Mas temos que gerir expectativas. Mesmo com o melhor tratamento, o acne pode levar seis meses para melhorar. E lembre-se: quando interromper a pílula, a sua pele poderá ficar no seu pior estado após cerca de seis meses, mesmo quando está pronta para desistir e voltar a tomar a pílula. Dê tempo ao seu corpo para se reequilibrar e não se vai arrepender.

Ainda confusos?

O acne pode afetar qualquer um de nós em qualquer fase da vida e pode ser uma condição devastadora. Da minha experiência clínica com os meus pacientes, entendo que as consequências do acne podem estender-se muito além dos sintomas físicos.

Ao longo dos anos, tenho trabalhado junto de pacientes que procuram tratar o acne sem ser pelos métodos mais comuns da pílula, toma de antibióticos ou medicamentos, procurando encontrar o seu equilíbrio. Temos normalmente que começar por encontrar a causa do acne e qual o distúrbio hormonal associado (síndrome do ovário poliquístico, menopausa, etc).

Mas de uma coisa tenho a certeza: grande parte do processo passa por mudanças na dieta e no estilo de vida, juntamente com a suplementação nutricional adequada. Espero com este artigo ter partilhado o meu conhecimento e experiência com aqueles que estão a sofrer com este problema.

A Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livro Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, dedicado à saúde feminina.