Menopausa: o que a define

Menopausa significa literalmente "paragem da menstruação". A palavra é construída a partir do grego meno (mensal) e pausis (parar). As mulheres só se apercebem da ocorrência da verdadeira menopausa até à passagem de um ano desde a data da última menstruação – a data real só pode ser decidida retrospectivamente.

E como pode saber se está na menopausa?

A checklist da chegada da menopausa

Quando passou um ano inteiro desde a sua última menstruação, ocorrendo, em média, em torno dos 51 anos. Mas todas as mulheres têm um cronograma próprio, daí a importância de registar os seus ciclos menstruais. Algumas mulheres param de menstruar aos 40 anos, enquanto outras continuam ainda nos seus 50 anos.

Alguns dos primeiros sintomas que podem começar a acontecer:
  1. Ondas de calor
  2. Suores noturnos
  3. Insónia e despertares noturnos
  4. Alterações do humor / irritabilidade
  5. Problemas de memória ou concentração
  6. Secura vaginal ou atrofia vaginal
  7. Comichão (prurido) vaginal e sensação de queimadura
  8. Cansaço
  9. Tristeza e sintomas de depressão
  10. Alterações no cabelo (queda, cabelo mais seco e fino, cor)
  11. Dores de cabeça
  12. Palpitações cardíacas
  13. Desinteresse sexual
  14. Alterações urinárias (urgência ou incontinência urinária)
  15. Ganho de peso
  16. Relação sexual dolorosa (dispareunia)

E só agora começamos... mas não tem que ser assim.

Não deixem que os vossos ovários mandem na vossa vida

Os 50 são os “novos 50”. Uma nova fase para recomeçar e perceber como traz consigo toda uma sabedoria que a torna uma mulher mais inteligente, consciente dela própria e do que quer para a vida.

Os sintomas da menopausa surpreendem, atrapalham e, francamente, podem ser muito incomodativos. A menopausa faz parte da inevitável transição natural de uma mulher, por isso esteja preparada!

A modulação hormonal pode ser uma dádiva para a maioria das mulheres, mas há várias soluções simples que pode começar a adotar já hoje. A menopausa é, afinal, um processo natural, não um evento médico ou doença que requeira medicação. Na realidade, algumas mulheres produzem todas as hormonas que necessitam e passam assintomaticamente por todo o processo.

Os três grandes sintomas e as suas soluções

A menopausa é diferente para cada mulher e existem muitas razões pelas quais não seja tema para uma conversa aberta. Tanto os sintomas da menopausa podem ser “embaraçosos” para serem discutidos (sim, ainda há muitas mulheres que não falam sobre isto, mesmo entre outras mulheres!) ou, pior ainda, porque a fazem pensar que está a envelhecer. Deixe a negação e vamos às soluções.

  1. Afrontamentos e suores noturnos

Se sentir incómodo com surtos de calor e despertares durante a noite, com o pijama colado ao corpo, existem várias maneiras de controlar a gravidade e a frequência dessas ondas de calor.

  • Melhorar a alimentação. Somos o que comemos. Por isso, nesta nova fase de vida devemos apostar em alimentos que nos ajudam a reequilibrar as nossas hormonas (vegetais de folha verde, alimentos com boas gorduras, como o abacate e as sementes de linhaça, são apenas alguns).
  • Técnicas de redução de stress. Vários estudos demonstram que técnicas de relaxamento e técnicas comportamentais podem ajudá-la a facilitar a transição para a menopausa, ajudando a diminuir as ondas de calor em 90% das mulheres sem recurso a qualquer terapia hormonal.
  • Plantas medicinais: há uma grande variedade de ervas ou combinações, como o Dong Quoi, o alcaçuz e a erva-de-são-cristóvão (black cohosh), que podem ajudar no controlo deste sintoma tão incomodativo.
  • Modulação hormonal com estrogénios: a modulação dos estrogénios é altamente eficaz nas ondas de calor. Eu recomendo apenas estrogénios bioidênticos, em doses individualizadas para cada mulher. Devemos sempre testar os níveis hormonais antes de começar o seu uso.
  • Modulação hormonal com progesterona: foi demonstrado que o creme de progesterona bioidêntica diminui as ondas de calor em muitas mulheres. Em termos bioquímicos, a progesterona bioidêntica é totalmente diferente da progesterona sintética, encontrada na maioria dos regimes convencionais de reposição hormonal e nas pílulas anticoncecionais. Tem muito menos efeitos colaterais quando comparada com as variedades sintéticas.
  1. Falta de desejo sexual

O baixo desejo sexual está associado a níveis baixos de testosterona, portanto, um pouco de modulação hormonal com testosterona (ou o seu precursor, DHEA) pode ajudar.

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A testosterona é produzida em níveis mais baixos nas mulheres do que nos homens. Muitas das minhas pacientes ficam surpreendidas quando falo sobre como a testosterona é importante para as mulheres – principalmente para o desejo sexual. Para as mulheres, a testosterona desempenha um papel importante, ao ajudar o corpo a produzir estrogénio. Para além de aumentar o desejo sexual, melhora os níveis de energia e contribui para uma maior massa muscular e óssea.

Muitas mulheres passam por uma diminuição do apetite sexual durante a perimenopausa e com a chegada da menopausa, mas não tem que passar por isso:

  • Verifique os níveis hormonais. Os androgénios são hormonas associados à líbido; no entanto, níveis decrescentes de estradiol (E2) também podem afetar o potencial de excitação sexual de uma mulher, a lubrificação vaginal e a qualidade do orgasmo. Teste e reequilibre as suas hormonas junto do seu médico.
  • Reserve um tempo para si e para o seu parceiro. Todos estamos em permanente mudança e o tempo passa sem muitas vezes nos permitirmos passar algum tempo para nos conectarmos com os nossos parceiros. Relembre a paixão que nutrem um pelo outro.
  1. Os despertares noturnos

Sabe aquela sensação de despertar várias vezes durante a noite e não conseguir voltar a adormecer? E de acordar com o pijama colocado ao corpo, de tão transpirada que está? E é aqui que surgem muitos dos quadros de insónia e a dependência de antidepressivos e medicamentos para dormir. O medo da insónia pode torná-la infeliz e afetar mesmo o seu humor. Algumas soluções:

  • Desenvolva hábitos de sono saudáveis: estabeleça uma rotina consistente para dormir, evite refeições apimentadas e cafeína, e evite as luzes azuis (telemóveis, ecrãs da tv e computadores) pelo menos uma hora antes de dormir.
  • Progesterona bioidêntica: a melhor maneira de avaliar se pode ou não beneficiar da modulação hormonal é primeiro fazer uma medição da progesterona e de outras hormonas, através de um perfil hormonal. Mas a insónia que se tem instalado é provavelmente culpa da progesterona. Na realidade, da falta dela. A progesterona é considerada a nossa hormona calmante. Ela ajuda-nos a dormir porque produz um metabólito (ou subproduto) chamado alopregnanolona, que interage com o GABA, um recetor no cérebro. O GABA é um neurotransmissor calmante.
O nosso corpo é um laboratório

A bioquímica do nosso corpo apenas define parte de quem somos. Mas se as nossas hormonas estiverem em equilíbrio, vamos ter os ingredientes certos para a nossa felicidade.

A interseção das nossas escolhas de vida, comportamentos, objetivos, emoções e equilíbrio hormonal, estão conectados. E cultivarmos a felicidade das pequenas coisas está associado a benefícios surpreendentes para a nossa saúde. Reduz o cortisol (a hormona do stress), aumenta a imunidade, diminui as taxas de doenças e melhora a longevidade.

Como médica, sou apaixonada por partilhar com os meus pacientes todo o conhecimento que pode ajudar mulheres (e homens) a reencontrarem-se, mas enquanto pessoa que também vive num corpo feminino, também eu passo pelas oscilações hormonais.

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Deixo-vos hoje alguns dos meus segredos de que não abdico para manter as minhas hormonas sob controlo:

  1. meditação todas as manhãs antes de saltar da cama,
  2. jejum intermitente (que vou ajustando conforme os meus projetos profissionais/ vida social),
  3. trabalho em equilíbrio com o tempo passado com a família e amigos,
  4. ginásio e andar de bicicleta (que vou gerindo de acordo com os meus níveis de energia... se estiver cansada, respeito o meu corpo e faço apenas uns alongamentos em casa),
  5. experimentar receitas saudáveis na cozinha com os amigos (sim! podemos partilhar receitas deliciosas e fit)
  6. e fazer sestas ao fim-de-semana (quem não gosta?).

Estamos num processo contínuo de mudanças, e mantermos as hormonas em equilíbrio é sempre um trabalho em evolução. O que funcionou há 10 anos para me manter em equilíbrio não funciona tão bem agora, por isso temos que manter a mente aberta e ouvirmos o que nosso corpo nos diz todos os dias. Convido-a a fazer isso também!

Sei que, às vezes, a nossa vida agitada pode resultar num total esquecimento de cuidar de uma das coisas mais importantes de todas: de nós mesmas! E para as mulheres que se aproximam dos 50: que venha a segunda primavera! Celebrem, pois uma fase maravilhosa está a chegar.

A Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livro “Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.