Esta semana não resisti a escrever sobre este tema. A menopausa é uma fase marcante na vida de qualquer mulher, marcada por alterações hormonais significativas que podem afetar profundamente vários aspetos da sua saúde, incluindo o desejo sexual. A redução da libido é uma queixa comum nas minhas consultas durante e após a menopausa, muitas vezes resultante do declínio dos níveis de estrogénio e testosterona, que ocorrem no processo natural de envelhecimento.

O "match" hormonal

A conexão emocional e a atração entre homem e mulher, assim como o desejo sexual, estão intimamente ligados a vários fatores, incluindo o contacto visual, a comunicação e a linguagem corporal. O contacto visual é uma das formas mais poderosas de criar e fortalecer a ligação emocional entre duas pessoas, pois ativa áreas do cérebro associadas ao reconhecimento e à empatia, promovendo sentimentos de intimidade e confiança.

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Além disso, a atração física e o desejo sexual também são influenciados por sinais inconscientes, como o cheiro (feromonas), o tom de voz e a proximidade física. Estes elementos, combinados, contribuem para a química entre duas pessoas, que vai muito além de uma mera atração física, envolvendo uma complexa interação de fatores emocionais e biológicos que alimentam o desejo sexual.

No contexto da menopausa, onde as oscilações hormonais podem alterar o desejo sexual, esses fatores podem assumir ainda mais importância na manutenção da intimidade e da conexão entre parceiros.

A trend do ananás invertido, que brinca com a ideia de novos encontros e conexões, pode ser vista sob uma nova perspetiva: os "matches" e as sensações de atração que uma mulher experiencia pelo parceiro ou potencial parceiro podem ser diretamente impactados pelas oscilações hormonais características da menopausa, refletindo o quão complexa e interligada é a relação entre hormonas, desejo sexual e interação social.

Entender a baixa libido sexual na menopausa

A menopausa traz naturalmente consigo uma série de mudanças hormonais. A queda dos níveis de estrogénio e testosterona afeta diretamente o desejo sexual e pode levar à secura vaginal, desconforto durante o sexo e diminuição do prazer. Além disso, fatores como o stress, distúrbios do sono e alterações na imagem corporal podem agravar ainda mais a situação.

A libido, no entanto, não é apenas uma questão hormonal. Está profundamente ligada à saúde geral, incluindo fatores psicológicos, emocionais e físicos. Assim, abordar a baixa libido durante a menopausa requer uma estratégia multifacetada.

A abordagem da Medicina Funcional

A medicina funcional integra uma abordagem 360º, procurando tratar a mulher como um todo, em vez de se focar apenas nos sintomas. Ao abordar a baixa libido na menopausa, é importante considerar vários aspetos da saúde da mulher, desde o equilíbrio hormonal até à nutrição, saúde mental e bem-estar físico. Alguns dos passos importantes incluem:

  • Modulação Hormonal: Um dos primeiros passos na medicina funcional para tratar a libido baixa é avaliar e medir os níveis hormonais através de análises ao sangue ou à urina. A modulação com hormonas bioidênticas, como o estrogénio e a progesterona, pode ser considerada para restaurar o equilíbrio e melhorar o desejo sexual. A testosterona, uma hormona “mais masculina”, embora menos falada, também desempenha um papel importante na libido feminina.
  • Nutrição e Suplementação: A dieta desempenha um papel crucial na saúde hormonal. Alimentos ricos em fitoestrogénios, como as sementes de linhaça, podem ajudar a equilibrar os níveis hormonais. A suplementação com vitaminas e minerais essenciais, como o zinco, magnésio e vitaminas do complexo B, também pode ser benéfica. Além disso, os ácidos gordos ómega-3, encontrados em peixes gordos, podem melhorar a lubrificação vaginal e a saúde cardiovascular, ambos importantes para a função sexual.
  • Gestão do Stress e Sono: O stress crónico pode aumentar os níveis de cortisol, prejudicando ainda mais a libido. Técnicas de gestão de stress, como ioga, meditação e terapia cognitivo-comportamental, podem ajudar a reduzir o cortisol e melhorar o bem-estar geral. Um sono de qualidade é essencial para o equilíbrio hormonal. Mulheres que não dormem habitualmente não têm uma boa libido sexual.
  • Exercício Físico: A atividade física regular melhora a saúde cardiovascular, aumenta os níveis de endorfinas, melhora a imagem corporal e promove a autoestima, fatores que podem influenciar positivamente a libido. A melhoria da autoimagem, um corpo mais tonificado e a libertação de endorfinas durante o exercício são fatores que devem ser relembrados sempre que falamos de longevidade e sexualidade.
  • Saúde Mental e Emocional: A relação entre saúde mental e libido é inegável. Sentimentos de ansiedade, depressão ou baixa autoestima podem suprimir o desejo sexual. A terapia individual ou de casal pode ajudar a abordar estas questões, melhorando a comunicação e a intimidade.
  • Cuidados Vaginais: A secura vaginal, comum após a menopausa, pode tornar o sexo desconfortável e reduzir o desejo sexual. Cremes hidratantes vaginais e lubrificantes à base de água podem ser soluções eficazes. Em casos mais graves, a terapia com laser vaginal ou a terapia estrogénica tópica devem ser consideradas. Este tema tem de ser falado; já passou o tempo em que era tabu.

Fora de brincadeiras

A trend do ananás invertido pode parecer uma simples brincadeira, mas pode ser vista como um lembrete da importância de cuidar de todos os aspetos da nossa saúde, especialmente durante a menopausa. Assim como esta tendência sugere a abertura para novas conexões, cuidar da libido durante a menopausa exige uma abordagem holística que integre corpo, mente e espírito.

Ao adotar novas práticas, as mulheres podem não só melhorar a sua libido, como também experienciar uma menopausa mais saudável e feliz nos seus relacionamentos. Have fun!

A Dra Andreia de Almeida, é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livro “Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.