O que é a Síndrome do Ovário Poliquístico (SOP)?

Ainda há muito que não sabemos sobre a SOP. É basicamente um distúrbio metabólico, com vários desequilíbrios hormonais. Na verdade, é uma das formas de desequilíbrio hormonal mais comuns em mulheres em idade reprodutiva, provavelmente afetando cerca de 5 a 15% das mulheres.

Existe alguma controvérsia em torno dos critérios diagnósticos e existem diferentes maneiras de fazer esse diagnóstico, pelo que não temos uma ideia clara de quantas mulheres estão afetadas exatamente. O principal distúrbio hormonal que observamos na SOP são os níveis de androgénios acima do normal nas mulheres. Podemos pensar nos androgénios como as "hormonas masculinas", sendo os desequilíbrios dessas hormonas (como a testosterona, a DHEA, etc.) os responsáveis ​​por darem algumas das características masculinas. Como mulheres, normalmente temos essas hormonas, mas na SOP tendemos a ver níveis mais elevados.

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Para além dos desequilíbrios hormonais, podem estar também associados (nem sempre!) ovários poliquísticos, quando a mulher tem uma série de quistos sob a superfície da cápsula ovariana e não ovula corretamente. O que acontece é que os ovários desenvolvem esses pequenos folículos, mas os ovúlos nunca saem numa ovulação mensal regular.

Mas há algo maior a entender sobre esta síndrome: a SOP é na verdade um problema hormonal associado à resistência à insulina, promovendo ganho de peso e obesidade na maioria das pessoas que o apresentam e, em muitas mulheres, aquela temida figura em forma de maçã. São muitas destas mulheres que têm problemas em perder peso.

Como pode saber se tem SOP?

Existem alguns sinais específicos que o seu médico pode procurar para diagnosticar a Síndrome dos Ovários Poliquísticos. Uma das razões pelas quais a SOP muitas vezes pode não ser diagnosticada é porque nem todos os sinais e sintomas detalhados a seguir estão presentes em todas as mulheres com SOP. Além disso, existem quatro critérios diagnósticos diferentes, pelo que muitas vezes há mulheres com várias queixas, mas não são diagnosticadas.

Sinais Comuns
  • Excesso de pêlos em lugares que não queremos, como no queixo, face, seios/mamilos ou barriga. Isso pode ser causado por androgénios elevados e é chamado de hirsutismo. Está presente em cerca de 50 a 80% das mulheres com SOP.
  • Acne, que se pode manifestar na face ou noutras zonas do corpo, como costas ou peito.
  • Períodos menstruais com mais de 35 dias de intervalo, podendo apontar para alguns problemas de ovulação.
Os diferentes tipos de mulheres com Síndrome do Ovário Poliquístico

Existem quatro fenótipos principais ou tipos de paciente com SOP:

  • SOP clássica: sinais clínicos de acne ou hirsutismo (excesso de pêlos) ou evidência bioquímica de níveis elevados de androgénios – hiperandrogenismo (testosterona alta) + alterações do ciclo menstrual (oligomenorréia) + ovário poliquístico ao exame ecográfico.
  • 2º fenótipo de SOP: evidência clínica ou bioquímica de hiperandrogenismo + oligomenorréia, mas que nesta apresentação não apresenta evidência clínica no exame ecográfico da confirmação de quistos ováricos.
  • 3º fenótipo de SOP: quadro ovulatório com ciclos menstruais regulares normais, mas as mulheres têm uma apresentação clínica ou bioquímica de hiperandrogenismo + evidência na ecografia de ovário poliquístico.
  • 4º fenótipo de SOP: apresentação não hiperandrogénica (sem sinais clínicos de excesso de hormonas “masculinas”), mas as mulheres têm alterações do ciclo menstrual + evidência ecográfica de ovários poliquísticos.

Como podem ver na lista acima, existem variações na apresentação do SOP, pelo muitas vezes a maioria das mulheres com SOP passam sub-diagnosticadas.

Como gerir e tratar estas mulheres

Agora, a parte boa sobre como podemos controlar os sintomas de SOP. Quando comecei na minha abordagem mais convencional no tratamento do SOP, aprendi duas coisas: primeiro perguntamos a uma mulher se ela quer engravidar ou não. Se ela não quiser engravidar, prescrevemos a pílula anticoncecional (se me acompanham na minha abordagem funcional, provavelmente sabem como me sinto em relação à pílula anticoncecional).

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Se ela quiser engravidar, dá-se metformina. A metformina é um sensibilizador de insulina, para aqueles com resistência à insulina, frequentemente observada em diabetes / pré-diabetes / síndrome metabólica. A metformina pode ajudar as mulheres com SOP a ovular e a melhorar a homeostasia (equilíbrio) da glicose e da insulina, auxiliando no processo de perda/gestão de peso.

Por outro lado, mulheres que estão a tentar engravidar também podem ser encaminhadas para um endocrinologista especialista em fertilidade para terapia hormonal e/ou tratamentos de fertilização in vitro (FIV). No que diz respeito à medicina mais convencional, essas são as principais opções de tratamento.

Mas segundo uma abordagem da Medicina Funcional, e na minha experiência clínica, existem muitas soluções naturais, incluindo suplementos nutricionais e correções de lifestyle que podem ajudar a controlar os sintomas da SOP, como:

  • Dieta low carb: a dieta é a primeira coisa que eu recomendo a mulheres com SOP. Recomendo uma dieta rica em vegetais, rica em fibras e pobre em processados. É importante não diminuir muito os hidratos de carbono, porque as supra-renais e a tiróide precisam deles para o funcionamento adequado (daí que cada mulher deva ser avaliada). Se reduzirmos a carga glicémica da nossa alimentação, em 7 dias podemos reduzir significativamente os níveis de testosterona.
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  • Jejum intermitente: 60 a 80% das mulheres com SOP são resistentes à insulina, mas nem todas. O jejum intermitente é uma ótima terapia de primeira linha para pacientes com ovários poliquísticos. Quando olhamos para a literatura, não há muita literatura sobre SOP e jejum intermitente, mas existem tantos estudos randomizados (que mostram os benefícios do jejum intermitente em termos metabólicos), que considero benéfico usá-lo para a SOP.
  • Exercício: apenas uma caminhada rápida de 20 minutos por dia pode resultar numa perda de peso de 7%. Mesmo em meninas adolescentes com SOP, a perda de peso corrige menstruações irregulares, normalizando os níveis de androgénios. Estudos descobriram que, por exemplo, o ioga foi mais eficaz do que outras formas de exercício para melhorar a resistência à insulina na SOP.
  • Berberina: um bioativo encontrado em várias plantas, que demonstrou ajudar a regular os açúcares no sangue. Quando tomado por 12 semanas, reduz o peso em pacientes obesos e também ajuda a ativar a termogénese (produção de calor), auxiliando na perda de peso, na redução da proporção cintura-anca e na regulação hormonal em pacientes com SOP. Dose recomendada: 500 mg, três vezes ao dia.
  • Mio-inositol: O inositol é uma vitamina do complexo B conhecida por melhorar a sensibilidade à insulina. Foi demonstrado que em mulheres com SOP reduz a testosterona livre em mais de metade. Dose recomendada: 2 gramas, uma ou duas vezes por dia.
  • Crómio: é um mineral que atua como sensibilizador de insulina, o que significa que ajuda a reverter a resistência à insulina e reduz os níveis séricos de insulina e glicose quando estão altos, auxiliando na perda de peso e controlo do apetite. Dose recomendada: de 200 a 1000 mcg (microgramas) por dia de picolinato de crómio, de acordo com o perfil do paciente. Alimentos ricos em crómio incluem ovos, nozes, feijão verde e brócolos.
  • Vitamina D: é uma vitamina lipossolúvel, presente em ovos e peixes. Existe uma deficiência em vitamina D em 44% das mulheres com SOP. Dose recomendada: no mínimo de 2000 UI por dia, de acordo com os níveis avaliados nas análises de sangue.
  • Outros suplementos: óleo de peixe, ácido lipóico, óleo de onagra, bem como outros nutracêuticos com ação anti-inflamatória, auxiliam no reequilíbrio hormonal.
Há solução

Embora cheia de complexidades, a Síndrome do Ovário Poliquístico responde muito bem a uma combinação de plano alimentar direcionado, exercícios, técnicas anti-stress, suplementos e outras recomendações personalizadas de estilo de vida. Infelizmente, a abordagem mais comum é pobre no que respeita a mudanças na nutrição, nutracêuticos e intervenções no estilo de vida, sendo muitas vezes dito às mulheres com SOP para se exercitarem mais e comerem menos – o que erra completamente o alvo, deixando-as frustradas e confusas.

Se suspeita que pode ter SOP, é importante encontrar alguém com experiência no tratamento desta complexa síndrome.

Existem muitas maneiras diferentes de reequilibrarmos os nossos níveis hormonais, pelo que procurar aconselhamento para determinar o que é certo para si pode ser um dos primeiros passos. Quando as nossas hormonas estão fora de sintonia, até as coisas simples parecem intransponíveis.

Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. É a autora de “Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.

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