É quase impossível resistir-lhes. Estão ali, a dizer olá, tão prontas para o mundo exterior, à espera enquanto se passeiam na nossa cara. A vontade é mesmo unir as unhas e fazer o sebo sair. Mas foque-se nesse "quase" e não ceda à tentação, porque as borbulhas vão vencer a guerra.
Ora mas como se formam as borbulhas? Segundo o dermatologista Luís Uva, diretor clínico da Personal Derma, em Lisboa, quando há um excesso de produção de sebo que obstrui os poros, começa a produzir-se uma inflamação na pele. Daí a razão para que as borbulhas sejam vermelhas, pois há mais sangue a chegar a essas glândulas para a combater. Posteriormente, forma-se pus e a inflamação causa uma infecção.
Mas atenção isto não acontece só a quem tem uma tendência para produzir mais sebo. Embora haja quem tenha os poros mais abertos que outros, ninguém está imune ao aparecimento destas inimigas já que, como explicou o dermatologista, todos temos uma bactéria chamada “p-acnes”, que vive alegremente na nossa pele e se alimenta da secreção produzida pelas glândulas sebáceas. “A nossa pele atua como uma barreira e não permite que essas bactérias entrem, mas quando temos alguma condição, como, por exemplo, a ingestão em excesso de comidas gordurosas ou a aplicação de determinados produtos na cara que obstruem os folículos capilares – e causam o chamado acne cosmético – elas entram para dentro dos poros e vão inflamar e infectar a nossa pele”, explica Luís Uva.
Ao eliminar (aparentemente) a borbulha, espremendo-a, o que acontece é um aumento de pressão no seu interior, que habitualmente provoca a libertação do seu conteúdo (pus, células mortas e bactérias). “Se esprememos uma ferida que está infetada e temos ao lado outras feridas abertas, que são outras borbulhas, vamos estar a propagar essa infecção e a gerar mais acne”, esclarece o dermatologista.
Moral da história? As borbulhas preferem vir mal acompanhadas do que sós. Acresce ainda o facto de que, apesar de poder ter um orifício exterior e sair para fora (passe o pleonasmo), quando se espreme vai estar a empurrar-se o conteúdo para a zona mais profunda da pele, aumentando desta forma a inflamação e agravando a lesão. Com isto evita-se que a ferida se regenere corretamente, e é neste contexto que podem surgir cicatrizes. Comece, por isso, a prestar atenção quando alguém lhe disser “Não faças isso porque vais ficar com marcas!”. Afinal de contas, quem avisa, amigo é.
De acordo com o dermatologista, "as coisas fazem-se no sítio certo e com as condições certas: não se pode espremer em casa. A esteticista, por exemplo, desinfeta bem a pele, abre os poros com vapores para fazer entrar alguns constituintes dentro da tez. De seguida, tira a queratina e o sebo em excesso e aplica um produto com ácido hialurónico, que fecha os poros, impedindo que permaneçam abertos". Por isso mesmo, estamos proibidos e proibidas de espremer as borbulhas em casa. Em especial, por duas razões: não espalhar a infecção e aumentar o acne; assim como evitar uma cicatriz que pode ser causada pelo uso das unhas. "Existem vários tratamentos, não é linear nem fácil”, lembra Luís Uva. O que interessa é que existem e não são poucos. O trunfo para vencer a guerra é ser paciente e persistente. Não olhe para as borbulhas com desdém mas, ao invés disso, ganhe pela inteligência. Afinal de contas, o ser humano tem outras imperfeições mais difíceis de corrigir.
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