
Tenho 42 anos e só há relativamente pouco tempo é que devo ter ultrapassado o choque da puberdade, em que, de um momento para o outro, o meu corpo foi atacado por uma “virose” pilosa. Durante muitos anos, entre várias experiências, nunca soube bem o que fazer com o excesso de pelos nas pernas, com a sua escassez no peito ou com os mal semeados que insistem em aparecer nos ombros. A única certeza que tive espontaneamente foi acerca da minha monocelha. Assim que encontrei uma pinça no necessaire da minha mãe, fui direto ao espelho e desenhei as mesmas sobrancelhas que ainda exibo hoje. Limito-me a arrancar minuciosamente os pelos a mais, acima do nariz. Quanto mais natural, melhor. No entanto, confesso que, depois de tantos anos, tenho curiosidade por saber como seria a minha imagem se nunca tivesse arrancado um único pelo. É que, entretanto, deixaram de se desenvolver. Só um é que insiste em recrescer duas ou três vezes por ano. Resta-me uma fotografia de 1999 para matar saudades.
Pestanas
As minhas pestanas sempre marcaram presença e sempre desenharam muito bem os meus olhos azuis. Mas só no ano passado notei que perdi o comprimento e a densidade de outros tempos, quando experimentei o sérum Borboleta que as ressuscitou. Bastou um mês para ver a diferença e usei-o até terminar. Agora, quero fazer o mesmo com as sobrancelhas, pois quer-me parecer que vou conseguir preenchê-las mais sem ter de recorrer à caneta Boy da Chanel que comprei no ano passado.
Barba
Tenho sorte com a minha barba, pois, não sendo rija e cerrada, ainda consegue preencher bem o rosto e dar-me um toque extra de virilidade. Sei bem da dificuldade que é, para a maioria dos homens, ter de rapar pelos rijos, que deixam a pele inflamada. No meu caso, safo-me bem em espalhar a espuma do champô (ou do sabão) no pescoço e passar a lâmina, todos os dias. Quando me quero mimar, vou ao barbeiro da Claus Porto, na Rua do Carmo em Lisboa, para a experiência de toalhas quentes, que me deixa a barba cheirosa, hidratada e bem desenhada. Tenho-a usado desde os 27 anos e nunca mais a tirei. Há dois anos, fiz uma pausa para experimentar um pico de jovialidade e leveza que a sua ausência imprimiu no meu rosto, mas, no início de 2025, quis matar saudades e deixei-a crescer novamente. Só a tenho cortado quando faço tratamentos estéticos.
Orelhas
Estes não vieram na puberdade, mas foram-se desenvolvendo ao longo dos anos. No início, a máquina aparadora fazia muito bem o trabalho, mas começaram a ser cada vez mais e mais grossos. Um horror! Há um ano e meio, avancei para uma solução mais drástica e “arranquei o mal pela raiz”. Todos os meses faço depilação a cera e bastam 10 minutos para ficar com umas orelhas apetitosas, de se querer beijar! Os créditos vão para a Georgea do MY, A Beauty Concept.
Cabelo
Acabo de fazer o meu segundo transplante, desta vez na área da coroa, e não podia estar mais feliz com a ideia de voltar a deixar crescer o cabelo. Voltei a fazer o mesmo método de há dois anos, baseado na tecnologia de células estaminais. Esta técnica é patenteada pela clínica Hair Science Clinic e o médico que a inventou, o Dr. Gho, atende sobretudo em Maastricht. Foi lá que fui e foi ele mesmo que me fez o transplante. A principal vantagem deste método é que são usadas agulhas mais finas, portanto menos invasivas, o que permite ser um procedimento bastante confortável e com uma recuperação muito fácil e rápida. Um transplante, porém, não invalida a importância de continuar a fazer os tratamentos médico-regenerativos que tenho vindo a fazer há sete anos na clínica 212.2 Ricardo Vila Nova. Se os faço na pele do rosto, porque não trataria o cabelo da mesma maneira? Há que manter o couro cabeludo num estado constante de regeneração celular, pois quero que o cabelo que não foi transplantado resista no tempo e esteja forte durante o maior tempo possível. Quero também que, nestes primeiros meses, não haja qualquer rejeição do cabelo transplantado.
Quem está parvo com a qualidade do transplante é o Miguel, o meu cabeleireiro, a quem confio o meu cabelo há mais de 15 anos. Ele é o verdadeiro arquiteto que conhece bem o formato do meu rosto, e que corta de maneira a esconder os meus defeitos e potenciar as minhas qualidades. A maneira metódica como corta o cabelo é verdadeiramente relaxante e digna de contemplação. Se quiserem premiá-lo e dar-lhe um momento de descontração, digam para rapar tudo. Foi o que fiz durante um longo período em que tive o cabelo pela hora da morte. Ele atende no Fiero Hair.
"Ainda fiz a experiência de os remover a cera, mas a experiência foi tão dolorosa e traumatizante que nunca mais me aventurei nessa peregrinação."
Ombros e omoplatas
Aqui é onde o meu trabalho está verdadeiramente inacabado. Os pelos mal semeados nos ombros, mal os consigo ver quando me olho ao espelho e, quando reparo neles, estão enormes. Fico logo com um sentimento de vergonha, pois detesto a ideia de pensar que o meu namorado os vê. Ataco-os imediatamente com a lâmina, mas sei que não é a solução mais inteligente a longo prazo. Cheguei a fazer três sessões de depilação a laser, mas interrompi. Preciso de encontrar o lugar ideal para continuar este projeto e ver-me livre de vez destas ervas daninhas.
Pernas
Admito que tive dificuldade em aceitar a quantidade exagerada de pelos que me cresceu nas pernas. Ainda fiz a experiência de os remover a cera, mas a experiência foi tão dolorosa e traumatizante que nunca mais me aventurei nessa peregrinação. Com o passar do tempo, passei a apreciar este apontamento de masculinidade que começa nos pés, sobe pelas pernas e pelas coxas até ao rabo.
Peito e abdómen e…
Se, nas pernas, tenho em excesso, no peito e abdómen não tenho o suficiente para considerar o todo harmonioso. Por isso, prefiro aparar com a máquina no pente zero ou um. Faz-me sentir que fico com a musculatura mais definida. Continuam-se a ver pelos, mas estão bem curtos. Gosto da ideia de me ver como alguém que tem a particularidade de ter umas pernas peludas, em vez de alguém que tem os pelos mal distribuídos.
E se leram até ao fim para descobrir o que faço na zona púbica, não guardo segredos: é a mesma lógica das orelhas — “apetitosas, de se querer beijar!” Rapo com a máquina no pente zero.
Além de discretamente estar a gerir e a criar para a sua própria marca de Moda (shhhh...), Bruno Reis é o responsável pelo Marketing e Comunicação de marcas de Beleza. Entre a criatividade e a estratégia, já foi actor, professor de yoga, gestor de redes sociais, fotógrafo e director de casting.
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