Seja à refeição com a família ou num serão com amigos, o vinho é presença comum no dia-a-dia dos portugueses. Com uma longa e conhecida história como produtor de vinho, Portugal tem esta bebida enraizada na sua história e cultura há séculos e assim continua, tornando as suas colheitas cada vez mais conhecidas e conceituadas por todo o mundo.

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A acompanhar um bom prato de carne ou uma boa conversa, o vinho tinto tende a ser um dos favoritos dos portugueses (e não só). Preferência essa que recai muitas vezes na premissa de que o vinho tinto faz bem à saúde. A questão é: será que faz mesmo ou não passa de um mito urbano? Todos nós já ouvimos isto de alguém e embora até digam que foi o médico que recomendou, as dúvidas permanecem, já que não deixa de ser uma bebida alcóolica.

Para que não restem mais dúvidas, estivemos à conversa com Inês Estrela, nutricionista da PersonalNutrition em Águeda e responsável pela Unidade de Alimentação dos Hospitais de Águeda e Estarreja, que nos respondeu a todas as questões sobre o vinho tinto.

Commumente diz-se que o vinho tinto faz bem à saúde. É mesmo verdade?

Quando falamos de alimentação, Portugal é conhecido pela sua Dieta Mediterrânica, que privilegia o consumo abundante de alimentos de origem vegetal, sazonais e de produção local mas não fica por aqui. Também inclui o consumo moderado de vinho às refeições devido à presença antioxidantes que nele se encontram presentes.

Por isso, sim. Podemos dizer que beber vinho tinto faz bem à saúde. Os compostos fenólicos têm uma ação antioxidante, possuindo um papel bastante importante no vinho pois estão relacionados com a sua qualidade e características organoléticas. Estes compostos antioxidantes têm um efeito protetor no nosso organismo que permite a prevenção do processo de oxidação das células, contribuindo para a saúde da nossa pele e reforço do sistema imunitário, por exemplo.

É importante reforçar que o consumo de vinho deve ser moderado e que existem outros alimentos, de consumo regular, onde podemos ir buscar estes compostos antioxidantes de forma mais saudável, nomeadamente a fruta e os hortícolas.

O vinho tinto é  muito calórico?

O álcool apresenta 7 kcal calorias por grama, variando consoante o teor de açúcar – frutose – da uva e a percentagem/volume de álcool. Este apresenta um valor energético superior ao dos hidratos de carbono e da proteína (de 4 kcal por grama) e é ultrapassado pela gordura ( 9 kcal por grama). Porém, a gordura, os hidratos de carbono e a proteína possuem funções fundamentais no nosso organismo, como o fornecimento de energia e coordenação de processos vitais, enquanto o álcool fornece calorias desprovidas de nutrientes, as chamadas “calorias vazias”.

Num futuro breve, tal como os géneros alimentícios, o vinho também irá ter informação nutricional completa (na garrafa ou por via eletrónica – código QR, por exemplo). Por direito, todos os consumidores devem conhecer a tipologia de produtos disponíveis no mercado, para que se possam realizar decisões mais conscientes e informadas.

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Qual a quantidade recomendada? Varia de homens para mulheres?

A ciência mostra-nos que as recomendações de ingestão de álcool são diferentes para os homens e mulheres. Isto porque o processo de metabolização do álcool é mais eficiente nos homens, ou seja, estes têm maior tolerância aos seus efeitos e vice-versa, muito devido à sua fisionomia. Sugere-se um copo pequeno para as mulheres e dois para os homens, por dia.

Lembrando que o vinho deve ser consumido com moderação, apenas às refeições principais e enquadrado num estilo de vida saudável.

 O vinho branco é tão saudável como o tinto?

A percentagem de polifenóis é superior no vinho tinto em detrimento do vinho branco, tornando o primeiro mais interessante a nível nutricional.

Qual a bebida alcóolica que deve evitar ao máximo e porquê?

O consumo de bebidas destiladas como aguardentes, licores e whisky devem ser evitadas, devido ao facto de possuírem um elevado teor alcoólico. O consumo de bebidas alcoólicas não é indicado a crianças, jovens, grávidas e aleitantes.

Quais os riscos de beber vinho tinto em excesso?

O consumo excessivo de álcool continua a representar um grave problema de saúde pública em Portugal. Existe cada vez mais evidência da relação entre o seu consumo excessivo e o desenvolvimento de inúmeras doenças, como por exemplo o cancro colorretal. Outro considerável problema incide-se no facto do seu valor energético ser altamente subvalorizado pela população em geral – ingestão de elevada quantidade de calorias sem ter a perceção efetiva.

É fundamental alertar a população para todas estas questões para que se possam fazer escolhas mais assertivas. É possível encontrar um equilibro de consumo: a ingestão moderada e consciente de vinho, a implementação diária de uma alimentação saudável e a prática regular de atividade física podem perfeitamente fazer parte de um mesmo mundo em que habitam, concomitantemente, a saúde e o prazer.