Carolina Herrera, designer conhecida pela sua elegância inconfundível e sem esforço, assim como pelas suas coleções, perfumes, linha de noivas e acessórios, é uma referência no mundo da moda há mais de três décadas, sendo também conhecida pelo aceso debate que provocou, há uns anos, quando fez declarações polémicas sobre a beleza e a idade nas mulheres. Para Carolina, nada envelhece mais uma mulher do que fingir que ainda é jovem e, com base nisso, as palavras que proferiu sobre aquilo que faz uma mulher ser ou não elegante, tornaram-se referência em todas as revistas de moda e beleza pelo mundo inteiro. Para a designer, nenhuma mulher com mais de 30 anos deveria continuar a usar calças de ganga e nenhuma com mais de 40 anos deveria ter o cabelo comprido, considerando tal opção deselegante e sem classe.

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Atualmente com 84 anos, Carolina Herrera continua a ter na sua imagem diária as referências pelas quais se pauta, estando em conformidade com as suas convicções. Cabelo curto, imaculadamente penteado para trás, camisas brancas, saias pelo joelho ligeiramente rodadas ou compridas, são a sua imagem de marca de classe e de envelhecimento gracioso, numa referência que muitas gostaríamos de seguir. Mas… será que as palavras e conselhos de Carolina Herrera, em relação ao que uma mulher de mais de 30 ou 40 anos, deve ou não vestir, e a forma como apresenta o seu cabelo, sendo o comprimento do mesmo um sinónimo de deselegância, deverão ser levadas à letra no que toca às opções pessoais do que consideramos bonito, ou elegante para cada uma de nós?

Porque, convenhamos, por muito que perceba o ponto de vista de Carolina Herrera, exemplos de mulheres com mais de 40/50 anos com fabulosos e envolventes cabelos compridos, ou com simples camisas brancas conjugadas com jeans, conseguem ser um claro exemplo de um estilo effortless chic, cheias de classe e de uma elegância intemporal.

E basta-me ver exemplos como o de Sarah Jessica Parker, no remake And Just Like That, para me aperceber de como uma mulher com mais de 50 anos pode continuar a ser fiel ao estilo que marcou os anos da sua juventude – mas agora adaptado à sua idade – sem perder a sua identidade, irreverência e elegância. E de ser uma referência por isso mesmo.

Porque é que temos, ao chegar a determinada idade, de anular aquilo que nos definiu como pessoa e como mulher, simplesmente porque chegámos a um determinado número, referência, ou fase de vida? Felizmente, há cada vez mais mulheres a fazerem dos seus cabelos uma poderosa afirmação pessoal, de que podemos ter 40, 50, ou 60, e continuarmos a exibir fabulosos cabelos compridos, afirmando a nossa feminilidade como um marco de orgulho e, porque não, sinónimo de elegância?

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Veja-se exemplos como o de Amal Clooney, atualmente com 45 anos, onde o brilhante e cuidado cabelo comprido é uma das suas imagens de marca. Consideram-na deselegante? Ou Julia Roberts, com 55 e uma longa melena, agora iluminada com nuances louras. Deveria cortá-la por ter mais de 50? E o que dizer de Helen Mirren, com 78 anos, que apareceu na passadeira vermelha do Festival de Berlim, ostentando uma longa cabeleira que balançava à medida que ela rodopiava, exprimindo a sua confiança e arrogância. Não ficámos todos fascinados com ela?

Felizmente que existem mulheres que quebram regras e que mostram que a classe, de facto, pode não ser para todas, mas a autenticidade tem igualmente um efeito poderoso que permite que, em 2023, regras datadas de que mulheres com mais de 30 não usam jeans, ou com mais de 40 devemos todas deixar de lado o cabelo comprido – como se o mesmo fosse apenas um privilégio das mulheres jovens e na flor da idade – não façam parte do vernáculo do estilo e da decisão pessoal de cada uma. Até porque as regras existem para serem quebradas. Amén!

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.