Ter a coragem de assumir perante os outros e o mundo que não nos achamos bonitos, expondo as nossas fragilidades físicas perante o olhar de uma lente, não é fácil. Mas Anastasiia Marinich, uma fotógrafa polaca de 33 anos, quis adicionar mais beleza ao mundo, criando o projeto social fotográfico Beautiful Not Beautiful, onde fotografa pessoas que sempre se consideraram feias – devido a limitações ou imperfeições físicas – e que sempre viveram condicionadas por essa dor e infelizes consigo próprias, ajudando-as a ganhar mais amor-próprio e aceitação de si mesmas.
E aquilo que nasceu de um projeto nas redes sociais, um apelo a esta experimentação que quis materializar e pôr em prática, independentemente do país, nacionalidade, género ou idade, concretizou-se numa série de fotografias cheias de beleza, sem qualquer pós-edição, que contam um pouco da história por trás destes rostos e destes corpos que lhes dão vida – incluindo o da própria Anastasiia, que assume sem pudores que, aos 33 anos, é-lhe cada vez mais difícil, a cada dia que passa, ver-se ao espelho.
E é através da escolha da melhor luz, do enquadramento, da roupa – ou da ausência dela – que vemos, em cada fotografia, a sua escolha em captar estas histórias e em dar-lhes vida, de uma forma simples sem ser simplista, mas quase mágica: a essência sobressai.
Nelas os seus modelos encaram diretamente a câmara, falando daquilo que durante anos tiveram vergonha em revelar, abrindo a alma sobre as suas dores e relação com o seu próprio corpo e aquilo que a sociedade considera que é o estereótipo de beleza ocidental.
É nelas que ficamos a conhecer Anna, uma jovem rapariga que sempre se debateu com o excesso de peso desde os 11 anos de idade, e de que forma os comentários que ouviu a vida toda, a fizeram sentir complexada por ser maior e mais pesada que a maioria. Ao ganhar coragem para participar nesta sessão, conseguiu integrar em si a aceitação, trilhando mais um passo no caminho do amor próprio.
Ou Monika, que tem o olho esquerdo condicionado desde a infância pelo estrabismo, tendo inclusive já sido submetida a cirurgias, mas onde já aceitou que nunca terá a visão igual à maioria das pessoas e que isso é visível nos traços do seu rosto, mesmo significando que não consegue olhar diretamente nos olhos dos outros por pura vergonha.
Anastasiia conseguiu um total de sete participantes neste projeto, que se predispõe a continuar e a fazer crescer. Está recetiva a ser contactada por mensagem através das suas redes sociais e a adicionar mais retratos de pessoas que se predisponham a mostrar aquilo que consideram feio em si e que lhes provoca complexos, ajudando a empoderar outras e normalizando a diferença e a aceitação.
A sua intenção, quando lançou este projeto durante a primavera deste ano, era chegar a um total de 10 retratos, todos eles de pessoas reais, sem qualquer tipo de filtro ou edição. Seis meses depois, ainda não conseguiu concretizar esse objetivo. Considera que para a grande maioria das pessoas, é algo difícil de aceitar perante a pressão ocidental de cânones de beleza muitas vezes irreais e de perfeição. Mas não desiste e continua à procura de candidatos, apelando à partilha do projeto e aos critérios que pretende passar no mesmo, de fotos que ajudem a normalizar a imperfeição da beleza, sem edições ou filtros, e onde conta com os poderosos testemunhos de quem já passou por essa experiência e do que sentiu perante o resultado final.
O seu projeto Beautiful Not Beautiful já despertou o interesse e publicação em alguns jornais e revistas e, confesso, quando tomei conhecimento do mesmo, também eu fui impactada pelas suas fotografias e propósito, levando-me a querer ajudar a contribuir para a difusão deste projeto e, quem sabe, permitir que a Anastasiia consiga chegar aos 10 retratos/testemunhos. Ou duplicar esse número.
Se sentiram a beleza do mesmo, tal como eu, espreitem a sua página de Instagram, divulguem-na aos amigos ou, se por algum motivo acharem que são um bom candidato ao registo da sua lente, enviem-lhe um e-mail. Leiam informação mais detalhada na sua apresentação em canva. Ponham Portugal na lista da beleza natural, imperfeita e autêntica.
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