Na semana que passou, em conversa com uma amiga 13 anos mais nova que eu, falava sobre o que é isto de ter “quarentas” e o que gosto e não gosto ao ter esta idade. E apesar de hoje em dia o paradigma estar a mudar, e já se dizer que "os 40 são os novos 30", dei por mim a pensar e a transmitir que a verdade é que, quando temos “vintes”, e estamos no auge da nossa beleza física e juventude, lidamos com tantas inseguranças a maior parte do tempo, que nem nos damos verdadeiramente conta do nosso valor.
Nessas idades, até podemos dar conta da nossa beleza física, mas vacilamos tantas vezes com a insegurança e a vontade de querer ser amadas, ou que nos aceitem e apreciem – cometendo com isso alguns grandes erros – que nos esquecemos daquilo que nos define. Acabamos por fazer por agradar, por nos deixar impactar com as opiniões dos outros – que tomam grandes proporções e que muitas vezes nos destroem – ou, movidas pelos complexos daquilo que consideramos grandes imperfeições, nos camuflamos, afastamos, ou deixamos o monstro que paira nas nossas cabeças tomar proporções desmesuradas.
São anos, décadas, até chegarmos a uma plenitude de aceitação de que “somos como somos” e quem gostar verdadeiramente de nós que saiba aceitar e lidar com isso, porque se não sabe, então é porque não vale a pena.
Por isso, já o disse várias vezes – inclusive já abordei esta temática mais do que uma vez por aqui na Miranda – e reforço: gosto muito de ter ‘quarentas’. Há uma leveza que nunca senti antes. Uma aceitação comigo mesma. Uma confiança e uma paz.
It is what it is.
Mas não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que aos 40 tudo é maravilhoso e que atingimos o nirvana da aceitação pessoal, que deixamos de ter medos ou inseguranças, que não nos deparamos com outras vicissitudes físicas que nos testam e nos põem à prova. Estaria a mentir, descaradamente, se dissesse que ver cabelos brancos a nascer com uma rapidez surpreendente de semana para semana não me chateia. Que os meus joelhos e articulações não ‘adivinham’ que vai chover com uma precisão de relógio de cuco, ou que tudo aquilo que comemos se aloja nas coxas e na barriga.
Aos ‘quarentas’, ou somos regradas e disciplinadas em tudo – sem vacilar – ou pagamos uma cara fatura por isso: em celulite, em rugas, em papos, em flacidez, em varizes e quilos extra. Não há gravidade que nos sustente nem produto que nos salve.
Por isso, sim, esta coisa de envelhecer é um enorme privilégio, mas também é uma valente chapada na cara. Parece que estamos sempre em esforço, que nunca apanhamos o comboio, um pouco como o burro e a cenoura. Quando achamos que estamos quase a alcançar, deparamo-nos sempre com outros desafios.
Mas aos ‘quarentas’ também temos a maturidade para aceitarmos tudo o que já fizemos, os esforços pelos quais passámos e não nos privarmos dos prazeres da vida se nos fazem felizes, de dizer “Que se lixe!” e vivermos bem com isso. Sem medos.
Mas não deixa de ser irónico que, quando tínhamos tudo no sítio, não nos dávamos conta do quão bonitas éramos, por exemplo, ou magras (mesmo julgando que estávamos gordas), e que agora que caminhamos para o que a sociedade considera de ‘velhas’, fora de prazo ou já ‘maduras’ – nome que, confesso, sempre odiei – é que estejamos todas ‘confiançudas’.
A falta de autoestima é um problema real que nos afeta em todos os âmbitos da nossa vida. Nas nossas relações sociais, na nossa relação profissional, na nossa relação amorosa com um parceiro e na relação que temos com nós próprias e postura perante a vida. Se aos vintes tivéssemos a confiança, as certezas e a descontração que temos aos quarentas, certamente nos pouparíamos a muitos desgostos.
Por isso, se hoje pudesse dar um conselho à minha ‘younger self’, dir-lhe-ia para acreditar mais nela própria. Para saber reconhecer o seu valor e para ter mais amor próprio.
O amor próprio que nos dá colo e que nos prepara para os embates da vida. O amor próprio que nos faz levantar após um coração partido, um emprego que não nos tratou como devia, alguém que nos rebaixou ou desprezou. O amor próprio que nos diz: “Tu és muito mais do que aquilo que te querem fazer acreditar que não és.”
Aprendi a custo a cultivar esse amor próprio. Demorei anos a ouvir essa voz dentro de mim. Ainda há dias em que duvido dela, em que vacilo e luto por aceitar, para logo em seguida dizer: “Que se lixe! Eu sou muito mais do que celulite, cabelos brancos, o número de calças que visto, ou rugas.”
Deve ser essa a ternura dos 40.
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