Eu assumo-me, também sou boa ao longe – assim bem à distância – com um ligeiro filtro ou em ângulos mais ou menos estudados de fotografia. Ao perto, sei que o peso da idade já deixa marcas profundas – ou cicatrizes de “guerra” – que se traduzem em flacidez em determinadas partes do corpo, celulite, estrias, derrames, rugas, you name it. Há de tudo, é só dizerem e eu tenho. Eu e centenas de mulheres por este país fora que sabem aquilo que têm no corpo. E todas temos de começar a assumir, sem pudores, que a celulite é algo que nos assiste, assim como estrias, rugas ou varizes, até porque um corpo envelhece naturalmente e tudo isso são características de um corpo feminino (masculino também, não abram já as garrafas de champanhe a cantar vitória).

#ÀFlorDaPele: pintemos os lábios!
#ÀFlorDaPele: pintemos os lábios!
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Mas o que me agradou de verdade nesta exposição tão despudorada da Madalena Abecasis – que é uma mãe recente, do quarto filho, por sinal – é o assumir que sabe que consegue ser um mulherão independentemente de todos os males que considera que a afligem de momento. E isso não invalida que faça um vistaço, que gire cabeças – de homens e de mulheres – e que faça fotos que incendeiam a internet e o Instagram em particular, que seja capa de revista, ou que a sua honestidade, no seu jeito de humor sarcástico tão próprio, não ecoe em todas nós. Ecoa sim, e faz barulho. Levanta-nos a moral. Faz-nos rir e acreditar.

Porque, afinal, damos por nós a pensar: “Eu também sou boa ao longe”; “Eu também sei ser um mulherão”; “Eu também sei que com a roupa, a maquilhagem e os sapatos certos, sou um canhão” — desculpem-me a linguagem, mas acho que o tema pede um português mais intimista, daquele que usamos na gíria entre amigas. Porque, afinal, é destas coisas que as mulheres falam.

#ÀFlorDaPele: e tu, és boa ao longe?
créditos: @madalena_abecasis

E eu, enquanto mulher, identifiquei-me de imediato. Não lhe enviei mensagens, não coloquei nenhuma foto na internet com a hastag #souboaaolonge, não convoquei nenhum jantar de amigas sob a mesma égide, mas aqui estou eu, a escrever sobre o assunto e, de certa forma, a prestar-lhe a homenagem, meio em jeito de serviço público, que ela prestou à autoestima de todas nós.

Tiremos proveito e partido de todas as situações, mesmo que estejamos a amamentar e a sentirmo-nos com um peito a bater no queixo, de tão insuflado que está com leite – somos boas ao longe – mesmo que estejamos uns quilos mais pesadas, mas estejamos com o rabo do tamanho certo – somos boas ao longe – mesmo que tenhamos rugas no canto dos olhos de tanto rir – somos boas ao longe – mesmo que nas fotos as nossas pernas pareçam esguias e esbeltas, mas ao perto estejam carregadas de celulite e flacidez – somos boas ao longe.

Não deixemos por isso de festejar o verão, de ter a atitude certa sempre e para tudo na vida, e de saber que o nosso valor não se resume ao nosso corpo. Porque, afinal, somos todas boas – ao longe e ao perto.

De qualquer forma, espreitem o Instagram da Tia Lena e inspirem-se.

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.