Isto de somar anos à vida tem os seus benefícios porque, no final, o que nos trama é esta finitude de todos os corpos físicos. Falo de ageísmo e etarismo de forma recorrente por aqui. Mas o que ainda me continua a surpreender neste tema – para além de ajudar a quebrar preconceitos e a democratizar a aceitação do envelhecimento – numa altura em que somos, cada vez mais (pelo menos em Portugal), uma população envelhecida, é o facto de o processo de envelhecer ser diferente para todos.
Não falo de cronologicamente termos mais idade e vermos somar anos enquanto caminhamos para a finitude que todos sabemos certa, mas sim da forma como cada um de nós, emocionalmente, lida com o processo e como o aceitamos ou, pelo contrário, não nos resignamos, mesmo que nada possamos fazer para o evitar, mas onde a sede de vida e do espírito é maior do que a certeza de que tudo isto acaba.
Que o diga Cher, que do alto dos seus 77 anos, afirmou recentemente que dava tudo para voltar a ter 70 e que a ideia de ir fazer 80 anos não é de todo a que mais lhe agrada, já que, e cito, “não é propriamente amiga do envelhecimento”, fim de citação. Numa recente entrevista ao apresentador do Today Show, Harry Smith, quando questionada sobre o seu êxito de 1998, “Believe”, ter celebrado recentemente 25 anos, a cantora vencedora de um Grammy revelou o seu inconformismo, brincando com a passagem do tempo: “não é assim tão incrível, OK? Aliás, como é que é possível? Irrita-me, irrita-me como o caraças!”, brincou, dizendo que daria tudo para ter novamente 70 anos.
Já Jane Fonda, de 85 anos, afirmou recentemente no podcast Dear Media: "Não gosto de pele velha". E que na hora de escolher um namorado, "prefiro um de 20".
A forma como cada um, neste caso, cada mulher – porque é sobre elas que hoje escrevo este texto – lida com o envelhecimento é algo de muito intrínseco e pessoal. Porque podemos sentir a bênção de continuarmos aqui, neste mundo, com saúde e vitalidade e com vontade de contribuir com mais, de não deixar que o espírito se resigne e de utilizar toda a sabedoria e experiência adquiridas, e transformá-las em algo empoderador, que trabalha a nosso favor; mas, por outro lado, não aceitar e não gostar de ver o corpo físico a decair e a ser finito na sua capacidade de expressão. Não é que estas mulheres não aceitem a idade que têm, porque a verdade é que não a escondem, não se coíbem de dizer que têm 77 anos (no caso da Cher), ou 85 (no caso da Jane Fonda), mas se lhes perguntarmos honestamente se gostam de a ter, respondem-nos honestamente que não.
Confesso que aprecio essa frontalidade desarmante. Prefiro-a, honesta e frontal, do que hipócrita e modesta. Prefiro-a à teoria que nos tentam impor a todo o custo de que uma mulher não diz a sua idade. E eu questiono: porquê? Para não dar azo a comentários que nos podem ferir o ego? Ou porque é difícil à maioria das pessoas aceitar que uma mulher de determinada idade pode continuar a sentir como uma de 20, só que de forma diferente?
Que o diga Sharon Stone, que numa entrevista ao podcast de Keltie Knight, apresentadora do canal E News, afirmou que o facto de ter 60 anos não a tornou menos desejável perante os olhos do sexo oposto e que continua a ter tantas pessoas interessadas em dormir consigo, como quando tinha 20 anos. A diferença, refere, é que uma mulher mais velha é segura de si e não é tão fácil de conquistar pelo sexo oposto – e que os homens reconhecem isso – logo, não significa que não continue a ser atraente e desejável, o que acontece, pelas suas palavras, “é que não é tão fácil de levar para a cama”. E continua: “Assim como não é mais fácil de descartar uma mulher mais velha e segura de si, assim como não é mais fácil mantê-la calada contra a sua vontade, ou de deixá-la depois. Não significa que não sejas desejável, és e continuas a ser desejável, porque somos mais relaxadas, temos as nossas certezas e já não as questionamos, não temos a necessidade da aceitação ou de termos a preocupação se estou bem, ou se sou bonita. Porque já sabemos a resposta. Não tem a ver com a tua falta de nada. Tem a ver com o facto de que já não és um alvo fácil.”
E é por isso que envelhecer não tem apenas a ver com o físico – que, sim, é importante que estejamos em boa forma e que nos sintamos com vitalidade, mesmo que a idade cronológica nos pese – mas com esta atitude e consciência de espírito (mesmo quando não concordamos com o que aparece registado no nosso cartão de cidadão), que nos faz sentir seguras de expressar e manifestar tudo aquilo de que não gostamos.
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