A imagem é forte, impactante e deixa-nos a todos – homens e mulheres – de boca aberta. "She did it again", é só o que me vem à mente quando olho para a imagem promocional da nova linha de skincare e cuidados do corpo JLoBeauty – onde se pode encontrar óleos, bronzeadores, cremes, bálsamos, séruns, loções, protetores e esfoliantes – e onde a diva latina aparece em várias fotografias com muita pele à vista e pouca roupa, revelando um corpo perfeito e as suas famosas curvas quase esculpidas a cinzel.

Aquelas imagens procuram provocar-nos tudo isso. O espanto, a admiração, a reinvenção de uma mulher que, aos 53 anos, continua em perfeita forma física e que sabe que para continuar no topo – onde chegou a pulso – tem de continuar a mostrar ao mundo que, apesar de não ter bebido da fonte da eterna juventude ou feito um pacto com o diabo, sabe quais as  fórmulas e segredos para combater os efeitos da passagem do tempo e da gravidade. Sendo que, para isso, os seus produtos são os mais indicados, pois só assim podemos almejar chegar aos 53 anos como ela.

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A principal mensagem da nova linha de skincare de JLo tem tudo a ver com mensagens de “sentir-se bem na sua pele”, “confiança acima de tudo”, com promessas de firmeza e antiflacidez, mas as imagens que acompanham esta mensagem são tão fortes e impactantes – vindas de uma mulher que aos 53 parece continuar a ter um corpo que muitas, nem nos seus melhores anos, conseguem aspirar – que será que surtem o efeito desejado?

Dias após a campanha ter sido lançada, ela tornou-se viral – não só pelas imagens em si – que foram que nem um rastilho de pólvora, mas porque rapidamente houve quem criticasse a cantora pela edição excessiva das mesmas, dizendo que aquele corpo não é um corpo real e sim editado, e que se sentem enganados por isso, acusando a cantora de estar a ser desonesta quanto à eficácia do produto e de gerar falsas expectativas e frustração.

A escritora, jornalista e influenciadora brasileira Alexandra Gurgel, fundadora do Movimento Corpo Livre, que se bate pela defesa da auto-aceitação dos corpos tal como eles são, fez um vídeo que partilhou nas suas redes sociais e que em pouco mais de três dias já conta com mais de três milhões de visualizações. Nele são apresentadas as imagens reais de JLo na praia vs. as imagens supostamente editadas e manipuladas digitalmente para esta campanha.

Segundo vários cibernautas que partilharam imagens reais da cantora num momento de descontração na praia, e onde se pode ver o corpo real de JLo com celulite e alguma flacidez, seria mais honesto mostrar o seu corpo tal como ele é, para promover uma linha de produtos que promete acabar com a flacidez e sentir-se bem na sua pele, do que editar uma imagem ao ponto da perfeição e da impossibilidade inatingível para o comum dos mortais.

Não há creme, intervenção cirúrgica, dieta ou tratamento que nos deixe assim, porque aquela imagem não é real e sim manipulada. E não adianta pensar que aos 53 anos queremos estar com o corpo da Jennifer Lopez, porque o corpo que vimos da Jennifer Lopez naquela imagem também não é real, mas sim editado digitalmente ao ponto da perfeição.

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A discussão em torno das imagens manipuladas da campanha de skincare da cantora e atriz colocaram outro tema em cima da mesa – o do ageísmo – já tantas vezes aqui falado noutros textos #ÀFlorDaPele. Promovendo imagens digitalmente manipuladas de uma mulher com 53 anos ao ponto da perfeição, é-nos permitido envelhecer natural e graciosamente sem ter a pressão de aos cinquentas termos de continuar a parecer e aspirar ter vintes? Ou é, efetivamente, possível ter-se 53 e continuar a ter um corpo jovem, definido e atlético? A verdade é que a cantora já mostrou, por diversas vezes, os seus treinos no ginásio, os seus cuidados com a alimentação e o corpo, e o tempo que lhe dedica, sabendo que o mesmo é o seu instrumento de trabalho mais valioso.

Quanto a mim, se eu acredito que, comprando um creme da sua linha, vou ficar com o meu rabo com menos celulite e mais parecido com o dela? Não, não acredito, mas aquela imagem de uma JLo de costas e a mostrar um dos seus maiores assets tem um efeito quase hipnótico em mim, assim como em milhões de homens e mulheres em todo o mundo, despertando as mais diversas emoções… Mas que não significa que seja suficientemente forte para a seguir ir comprar um. Deve ser por isso que eu, aos 53 anos, não vou ter aquele corpo, de certeza – aliás, nunca tive – e está tudo bem. Vivo bem com isso.

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.