#ÀFlorDaPele: tenho mais de 40 e gosto!

Mafalda Santos

6 dez 2021 12:10

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Cresci a ouvir que não se pergunta a idade a uma senhora. Como se fosse feio saber a real idade de uma mulher. Acredito, cada vez mais, que ter mais de 40 me trouxe um empoderamento e uma aceitação do que sou como mulher e que há algo muito forte e poderoso nesse conhecimento. É hora de a sociedade em geral passar a ver as mulheres de mais de 40 como elas realmente são: mulheres com desejos, sonhos e muita feminilidade ainda por sentir, mostrar e ser. Habituemo-nos a isso.

Paulina Porizkova, uma ex-supermodelo de origem checa que fez furor nos anos 80, tendo sido a mais jovem capa de sempre da prestigiada revista Sports Illustrated Swimsuit Edition – tinha então 18 anos – está hoje com 56. Paulina mantém a beleza que sempre a caracterizou, assim como um corpo elegante e magro, embora com os sinais da passagem do tempo e do envelhecimento natural.

Com mais de meio milhão de seguidores, ela continua a mobilizar o interesse das massas pela sua figura atraente e esguia, pelas fotos ousadas que coloca na sua rede social Instagram – onde quebra tabus associados à idade – e que mostram que uma mulher de 56 anos pode continuar a ser atraente, sexy, elegante, feminina, e a ter orgulho no seu corpo e na sua figura, seja em biquíni, fato de banho ou lingerie, a par de outras variadíssimas banalidades e partilhas do seu mundo, dia-a-dia e interesses.

Numa leitura mais atenta aos comentários das suas fotos mais ousadas, conseguimos ler variadíssimos testemunhos de ódio, onde a maioria das pessoas a acusa de querer atenção, de já ter idade para se focar nos netos e se resguardar, deixando-se de comportamentos dignos de uma adolescente de 16 anos. Por diversas vezes, ela mostrou como os comentários ofensivos que lhe deixam a perturbam, tendo destacado um recente, em particular, onde um homem lhe diz: “Com a sua idade, deve deixar de viajar pelo mundo inteiro e focar-se em comprar uma casa perto dos filhos, dedicar-se aos mesmos e aos netos, deixar de comportar-se como uma jovem focada na sua idade e na sua aparência e começar a viver uma vida dedicada aos outros”. Isso mesmo, uma vida dedicada aos outros.

Porque uma mulher a viver uma vida sua, na qual acredita, financeiramente independente e focada em si mesma, ainda é algo que, em pleno século XXI, incomoda muita gente. Este preconceito e estereótipo está associado à idade – principalmente na mulher – e ela, passado o seu "prazo de validade", atingido o seu auge de beleza e juventude, tudo o que deverá fazer é anular-se, deixar de atrair muita atenção, ser discreta e viver em função da família. Isto continua de tal forma enraizado na sociedade e na crença do que é ‘aceitável’, que todas as que saem desse padrão continuam a pagar um preço alto por viverem segundo aquilo em que acreditam.

Li recentemente uma entrevista de um CEO, que referia que as marcas, empresas e agências de publicidade, de um modo geral ainda continuam a ignorar as mulheres acima dos 45 anos, dando um verdadeiro tiro no pé, ao não terem noção do filão e do poder que a representatividade faz em termos de mensagem e conteúdos, se falar diretamente para as mulheres que chegaram a uma das suas melhores fases da vida e se encontram nesta faixa etária.

Em que a grande maioria já trabalha há mais de 20 anos, tem convicções definidas, poder económico, faz escolhas sensatas, é quem gere os bens de consumo para a casa ou, em última instância, já tem filhos criados e quer, simplesmente, voltar a focar-se em si e nas suas necessidades, permitir-se ser e sentir-se novamente feminina, ser o centro da sua vida e gastar dinheiro consigo, sem remorsos, depois de décadas a pôr a família e os outros em primeiro lugar. Em que sabem que não são mais as jovens com 20 anos, mas também não são as pessoas de idade que a sociedade se habituou a catalogar e a atribuir um determinado estereótipo, como se fossem assexuadas, não tivessem desejos ou sonhos ainda por cumprir, como se não merecessem continuar a sentir-se femininas, ousadas ou empoderadas.

Voltando à Paulina Porizkova, foi recentemente escolhida para ser o rosto da campanha #LetsGetOldTogether da marca Laura Geller Beauty – que, confesso, desconheço se é vendida em Portugal, mas que tem site online e onde logo na página principal nos convida a juntarmo-nos a Paulina e a celebrar a vida e a Beleza depois dos 40.

Uma prova de empoderamento e de que a Beleza não tem de declinar com o tempo, antes pelo contrário: podemos estar e sentir-nos na nossa melhor forma, mesmo que no nosso rosto se vejam rugas ou que o nosso corpo apresente sinais de flacidez. Que a idade e o sentirmo-nos bem é, acima de tudo, um estado de espírito, uma aceitação do que somos e do que já percorremos, um saber tranquilo das nossas qualidades e um olhar amoroso sobre os nossos defeitos. E que tudo isso, junto, tem muita força, muita convicção, muito poder.

Um olhar rápido pela página de Instragram ou site da marca e vemos inúmeras mensagens direcionadas a mulheres com mais de 45 anos, onde se pretende quebrar tabus e preconceitos. Vemos também o anúncio da campanha Lets Get Older Together (com a própria Paulina como protagonista) em inúmeras situações que demonstram o lado positivo da idade e que culminam com a noção de que podemos ser a melhor versão de nós mesmos.

Veja aqui o vídeo da campanha #LetsGetOldTogether:

Precisamos de mais campanhas e marcas e agências a fazerem o mesmo. E quando digo o mesmo, não é a utilizarem mulheres de 40 a passarem mensagens de cremes para mulheres de 60 ou mais. É dar rosto e cara à verdadeira idade das mulheres. Queremos representatividade para daí tirar força e exemplo e inspiração, não uma utopia que consideramos inalcançável.

Em Portugal, destaco a campanha #NoAgeCampaign, feita em parceria com a Universidade do Porto e vencedora de prémios, que pretende desconstruir o estigma da idade e a ideia de que as pessoas acima dos 40 são desatualizadas, não produtivas, mas sim fortes, criativas ou ansiosas por saber mais e por ainda irem a tempo de aprender coisas novas.

Que uma vida longa é um privilégio e que, numa altura em que a cultura de um corpo perfeito e da eterna juventude domina o nosso mundo e a nossa mente, está na hora de aceitarmos que isso é uma utopia que é preciso desconstruir. Porque somos, cada vez mais, uma população envelhecida e que dentro de poucas décadas o nosso país terá mais seniores que jovens, então, porquê combater isso? Porque não aceitar, abraçar e integrar nas mensagens a passar às gerações mais novas?

Eu, enquanto mulher com mais de 40, quero mais campanhas assim, verdadeiramente reais, que ajudem a quebrar o dogma e o estereótipo de que ser mais velho é ser desadequado e desajustado da realidade. É precisamente o contrário! Porque por mais anos que tenhamos, vamos sempre a tempo. Sejamos vozes ativas nesse processo.

Tenho 43 e adoro. E tu? Juntas-te a este movimento?