Em Portugal, como em muitas partes do mundo, a conquista do direito ao voto foi uma jornada longa e árdua para as mulheres. Até meados do século XX, a participação política feminina era praticamente inexistente, refletindo a sociedade patriarcal da época. As mulheres enfrentaram uma série de desafios e obstáculos ao lutarem pelo direito ao voto, um dos marcos mais significativos na luta pela igualdade de género.

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A trajetória das mulheres portuguesas rumo ao voto foi marcada por resistência, mobilização e determinação. No início do século XX, a sociedade estava imersa em tradições conservadoras que limitavam o papel das mulheres à esfera doméstica. A ideia, que hoje nos parece tão banal, de ter mulheres a participar ativamente em decisões políticas era vista com desconfiança e até mesmo ridicularizada. Esse ambiente hostil dificultou enormemente a aceitação da ideia de sufrágio feminino.

A pioneira e corajosa Carolina Beatriz Ângelo, médica e ativista, entra para a história como a primeira mulher portuguesa a exercer o direito de voto nas eleições realizadas para a Assembleia Nacional Constituinte, no dia 28 de maio de 1911. Formada em Medicina e dotada de uma notável determinação, Beatriz Ângelo – que foi, igualmente, a primeira mulher a realizar uma cirurgia em Portugal – não se limitou apenas a ser médica. Foi, igualmente, uma defensora fervorosa dos direitos das mulheres.

Aproveitando o contexto efervescente do movimento sufragista, Beatriz Ângelo tornou-se um ícone ao desafiar as normas sociais vigentes, sabendo aproveitar um lapso na legislação vigente que regulava o direito ao voto. Viúva e com formação superior, Beatriz era o chefe da casa e reunia, dessa forma, as condições para votar, uma vez que a lei não especificava que apenas os cidadãos do sexo masculino tinham capacidade eleitoral. A sua conquista não foi apenas pessoal, antes representou um marco significativo para a luta das mulheres portuguesas por igualdade e participação política. A coragem de Carolina Beatriz Ângelo reverbera através das décadas, inspirando gerações subsequentes a continuarem a batalha por justiça e igualdade de género.

#ÀFlorDaPele: uma jornada pela igualdade
créditos: Joel Muniz / Unsplash

O movimento sufragista, que ganhou força em todo o mundo, também deixou as suas marcas em Portugal. Mulheres corajosas que se organizaram e, corajosamente, enfrentaram a oposição e o descrédito, para reivindicarem o  seu direito básico de participar na escolha dos representantes políticos. A batalha foi árdua mas, desde 1931 Portugal reconheceu o direito das mulheres ao voto nas eleições legislativas.

No contexto atual, é ainda essencial relembrar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na busca pela igualdade, especialmente quando celebramos o Dia Internacional da Mulher. Esta data não é apenas uma oportunidade para homenagear as conquistas das mulheres, mas também para refletir sobre a história por trás dela. O Dia da Mulher remonta ao início do século XX, com raízes nas lutas laborais e nas reivindicações por melhores condições de trabalho.

A tragédia de um incêndio em 1911, na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist, em Nova Iorque, que resultou na morte de uma centena de trabalhadoras, devido às condições de trabalho precárias e à falta de medidas de segurança, foi um ponto de viragem. Esse evento trágico deu origem a manifestações e protestos que posteriormente contribuíram para a consolidação do movimento pelos direitos das mulheres.

Relacionando a conquista do direito ao voto pelas mulheres com o Dia Internacional da Mulher, percebemos que ambos são símbolos da luta contínua pela emancipação feminina. O voto representa o poder de influenciar as políticas que moldam a sociedade, enquanto o Dia da Mulher simboliza a busca por igualdade em todas as esferas da vida.

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A emancipação feminina vai além do direito ao voto. Reflete-se no direito de escolha das mulheres em todas as áreas das suas vidas, desde o acesso a produtos de cosmética até ao direito de se vestirem como desejarem, sem serem julgadas ou limitadas por padrões impostos pela sociedade. É também a liberdade de poderem escolher as suas carreiras, receber salários justos e serem tratadas com igualdade no ambiente de trabalho.

A igualdade de género não é apenas uma questão de direitos políticos; é uma luta diária por reconhecimento, respeito e oportunidades iguais. Celebrar o Dia Internacional da Mulher é, portanto, um ato de reconhecimento da jornada das mulheres ao longo da história, destacando não apenas as conquistas, mas também os desafios que ainda persistem.

À medida que celebramos a coragem das mulheres que abriram caminho para a igualdade, devemos também lembrar que há muito a ser feito. A luta pela emancipação feminina continua, e é papel de todos, homens e mulheres, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, onde a liberdade de escolha e a igualdade de oportunidades sejam uma realidade para todos, independentemente do género.

Por isso, da próxima vez que decidir colocar um batom vermelho, ou uma máscara de pestanas para ir votar, lembre-se que houve mulheres que lutaram e foram contra a sociedade vigente para que esse gesto, e direito, fosse algo tão natural como é hoje em dia. E que mesmo em pleno século XXI, ainda há mulheres, em muitos países, onde isso não é permitido.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.