Estou a almoçar com um top model material alemão, de cair para o lado. É um date. Fizemos match no Tinder, passámos para o whatsapp e combinámos almoçar. Ele é tão lindo que me faz sentir um pouco inseguro comigo mesmo e para quem me conhece isto é raro. Até o ver ao vivo, achei que era alguém que se escondia atrás de um daqueles perfis falsos que se costumam criar por razões mais sombrias e muito pouco saudáveis. Tem 21 anos, 1,85m de altura, olhos azuis, nariz pequeno e uns lábios ai jesus; uma cara de adolescente num corpo de homem. Um misto de João Knorr e River Viiperi. Oh why me? Sabem aquele sentimento no filme Senhor dos Anéis, sempre que olham o anel? É magnetizante. Estou a lutar contra esse sentimento. Quero tê-lo para mim, passear com ele na rua, quero que seja o meu homem e poder mostrá-lo a toda a gente. Não me costumam calhar homens tão bonitos. O Tinder Euromilhões a fazer-me um excêntrico de um dia para o outro!

Paradoxalmente, uma boa parte da nossa conversa é sobre o facto de ele não se sentir bonito. Estou chocado. Diz que precisa retomar o ginásio, que a pele está péssima e elogia os meus olhos, como se os dele não fossem já suficientemente estupendos. É claro que fico derretido com isto.  Mas uma parte de mim não se conforma. Em plena era da democratização da Beleza, quem é que ainda tem o descaramento de se sentir feio?

Conhecendo o passado que teve, eu percebo que tenha falta de auto-estima, a qual facilmente se torna num padrão de comportamento quando crescemos em terrenos hostis. Também é tolice minha assumir que a beleza de alguém a faz um Santo Graal da Pureza e da Bondade e que me irá salvar de todas as minhas faltas neste mundo. Mas ser bonito e não ter auto-confiança pode chegar a ser ofensivo, bolas!

A Beleza agora é para todos, não só porque chegaram procedimentos estéticos muito pouco invasivos e que nos podem dar o melhor rosto de sempre (já nem queremos saber como eram antes a Ariana Grande ou a Bella Hadid, porque aquilo que lhes fizeram foi tão bem feito que temos de fazer todas as vénias aos deuses das facas e das agulhas que as operaram com mestria e perícia), como também se passaram a homenagear muitos mais padrões de beleza: plus size, albinos, vitiligo, pernas amputadas, celulite, ancas largas, homens magros, caras assimétricas, corpos andróginos, rugas… vale tudo!

#MirandaSkinStories: o que o vitiligo me ensinou sobre amor-próprio
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Há efectivamente espaço para assumirmos a aparência com que nascemos e sermos felizes com isso. Só não se apresentem mal vestidos. Mas isso já é uma obstinação minha. Acredito mesmo que pessoas que cuidam da maneira como se vestem são pessoas com carisma e personalidade, capazes de causar um grande impacto nos outros. É aí que as pessoas bonitas marcam a diferença entre as pessoas bonitas. Também é aí que as feias marcam o seu território no meio das feias. E também é aí que as feias se demarcam das bonitas. Apenas vestir bem como reflexo de ser-se autêntico e de usar a roupa como uma maneira expressão e, porque afinal de contas, é o nosso cartão de visita e a nossa imagem pode influenciar e falar por nós antes de abrirmos a boca. É uma ferramenta ao nosso serviço, mas também pode ser um prazer.

E podemos ser feios, vestirmo-nos mal e sermos confiantes? Podemos. O que importa é ser-se-feliz. Mas se nasceram agraciados pelos genes da Beleza, não percam tempo com inseguranças e vão conquistar o mundo, se faz favor.

Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e diretor criativo da Teeorema, marca de luxo de T-shirts.