No domingo passado, aquele mini-éclair de chocolate recheado de chantilly, que comi ao lanche com tanta cerimónia, ficou mais pesado no estômago quando me deparei com a selfie da J.Lo em bikini.

Mesmo sendo homem, não me posso desligar da ideia de que aquele ser humano tem 50 anos e está na melhor forma da sua vida. Viram a pole dance que ela fez no intervalo do Super Bowl? Definitivamente, hoje em dia chegar aos 50 deixou de ter o mesmo peso e J.Lo prova-nos isso mesmo, ela que está mil vezes melhor que há 20 anos. Os 50 anos de outrora já equivalem a uns bons 80 anos actuais. Vejam a Jane Fonda!

Por outro lado, a pressão para se estar bem aos 50 e ainda se ser um símbolo sexual passa a outro patamar. Não acham? Depois de testemunharmos aquela prova viva de energia, ritmo e sensualidade, já não há desculpa para nos deixarmos apanhar na inércia do sedentarismo. Temos todos o direito (e a obrigação) de levantar o rabo da cadeira e fazer aquilo que tem de ser feito.

Tik toks, por exemplo. Passo a explicar. Tenho passado mais tempo do que o desejável a percorrer os vídeos que me são sugeridos nesta aplicação. Uma hora não é exagero. A maioria dos conteúdos que me aparece são de jovens a fazer coreografias de músicas que já se tornaram populares por lá, e playbacks de situações caricatas de filmes conhecidos ou de vídeos virais do YouTube. Eu pessoalmente fico mais embevecido com as coreografias, tendo chegado ao ponto de dar comigo a filmar-me várias vezes a dançar e a entregar depois o resultado final aos algoritmos da internet.

#ÁguaPelaBarba: de Tóquio a J.Lo
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Perguntei-me muitas vezes se não estaria a ser ridículo ao expor-me desta maneira. É que, verdade seja dita, devo ter uns 20 anos a mais que os jovens que dominam a cena toda nesta rede social. Mas também dei com muitos miúdos que nitidamente não nasceram com o dom do ritmo. O que me leva a pensar que, tal como o Facebook e o Instagram nos tornaram mais conscientes da nossa imagem — ao ponto de nos cuidarmos muito mais — o Tik Tok irá tornar-nos mais conscientes do nosso género performativo. Vamos querer ser mais expressivos, vamos precisar de ser mais coordenados e isso fará de nós mais sensuais. Não acham um homem que dança mais sexy? E assim estará aberto o canal interior para fazer singrar a J.Lo que há em nós. Ser sensual ou sexy aos 50 anos já não tem de ser uma ridicularidade. Será a norma, certamente! E eu cá quero ser sexy até morrer!

Bruno Reis, colaborador da Miranda, é o fundador e diretor criativo da Teeorema, marca de T-shirts de luxo.