Se há coisa que posso assumir que faz parte do meu portfólio de exímias qualidades é a minha arte de elogiar. Acreditem, é mais do que jeito: é praticamente um ofício full-time, aperfeiçoado ao longo destes 32 anos. Meio culpa do meu mapa astral, dominado pela presença do carácter diplomático das Balanças, meio pelas minhas tendências de gostar de agradar a tudo e a todos, desde que me lembro de ser gente que um dos meus pontos fortes é apontar os pontos fortes dos outros.
O que não significa que esta minha soft skill seja propriamente bem recebida pelos seus destinatários. Ainda há dois anos, escrevia exatamente sobre a dificuldade que as mulheres apresentam em receber elogios, e não que tenha tido acesso a mais informação sobre o tema, mas a avaliar pela pequena amostra feminina que me rodeia diariamente, diria que o caso não mudou de figura.
Desvalorizamos, menosprezamos, diminuímos ou rejeitamos muitas vezes as palavras boas que nos são dirigidas, quando tudo poderia terminar (começar?) com um simples "obrigada". Porquê? Ao que parece, a sociedade foi criada de forma a parecer que as pessoas que aceitam facilmente elogios são consideradas convencidas ou pouco modestas – pior ainda se forem do género feminino. Mas andamos aqui já há tanto tempo a falar de amor próprio, que é quase absurdo respondermos imediatamente “custou-me 2 euros na feira” ao primeiro sinal de apreciação externa.
É claro que toda a gente gosta de se sentir amada. É ‘tipo’ um dos nossos maiores objetivos de vida, mal damos a primeira inspiração de ar fresco depois de sairmos da barriga das nossas mães (mesmo que andemos aqui todos a fingir super bem que conseguimos perfeitamente viver uns sem os outros). Os elogios sabem bem, fazem bem, aumentam a felicidade de quem os dá e de quem os recebe – então por que não o fazemos mais vezes? Por que não os instauramos como regra social, como se de um ‘bom dia’ se tratassem? Quantas vezes o meu estado de espírito não mudou num dia mau por ter recebido uma palavra amiga? Quantas vezes uma palavra mais simpática não é capaz de mudar a vida até de um estranho?
Os elogios não nos fazem perder tempo, a última vez que verifiquei ainda eram grátis e, muito importante, também estão livres de COVID. Mas onde encontrar este elixir anti-ansiedade?
Primeiro, acho essencial rodearmo-nos de pessoas que nos façam sentir bem. Que não só realcem as nossas melhores características, como celebrem connosco cada vitória, oiçam os nossos medos e inseguranças, nos façam rir. Já passamos demasiados minutos a ter de lidar com pessoas com as quais não escolheríamos se tivéssemos opção 100% do tempo, por isso, que toda a vida que nos resta seja com quem nos traga algo de positivo. A começar por nós mesmos: quando foi a última vez que te elogiaste? Que salientaste algo de positivo?
Muitas vezes passamos pelos dias com listas de tarefas onde vamos fazendo 'check', sem parar para apreciar o esforço que cada uma delas precisou da nossa parte e o quão incríveis somos por as conseguirmos realizar. Uns dias passa por superar um desafio difícil, noutros retirar a maquilhagem do rosto ao final da noite. Acredita, és fantástica por fazeres qualquer uma delas. E se, pelo meio, ainda paraste para perguntar a alguém se está bem ou para elogiar o novo corte de cabelo de uma amiga, pontos extra para ti.
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