Escrevo este texto no mesmo em dia que faltei a uma aula de yoga, o que pode logo à partida anular qualquer credibilidade nas palavras que se seguem. Ou, pelo contrário, apenas contribuir para reforçar o título desta rubrica. É que no yoga, como na vida, nenhum de nós é perfeito, nem é esse o suposto. A ideia é irmos aprendendo a ouvir o nosso corpo, respeitar aquilo que ele consegue ou não fazer, enchê-lo de ar sempre que necessário e distrair os pensamentos menos bons durante o tempo que dura a prática — e se para quem possa está a ler lhe parece tão impossível quanto a mim há quase um ano, e ainda assim tão apetecível, saiba que uma nova relação com o seu corpo e mente pode estar à distância de uma aula de yoga.

De entre as 'equipas' em que se divide o mundo — cereais primeiro, leite depois vs leite antes, cereais depois, ou então pizza sem fruta vs pizza com ananás — eu pertenço claramente à das que odeiam qualquer atividade física. Faltei a todas as aulas de educação física que a minha caderneta de faltas me permitiu, lesionei-me outras tantas, e por muito que com o tempo percebesse que mexer o corpo é essencial para acalmar a mente e ter saúde, todas as minhas inscrições no ginásio trabalharam muito mais os músculos da minha parte financeira do que a física. Já não sei quantas vezes me tentei convencer a começar uma atividade física, e quantas vezes o fiz de facto, mas nunca cheguei a sentir aquela adrenalina e 'vício' pelo desporto de que tanto falam os aditos do ginásio. Isto é, até ter encontrado o yoga.

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Em maio de 2019, uma série de coincidências felizes levou-me até à Diana, a minha professora querida, e uma sala de pessoas com uma média de idades de 70 anos. E esqueci as roupas de ginásio novas, e as selfies no balneário e todas as preocupações extra que normalmente me acompanhavam até um ginásio cheio de gente e foquei-me apenas no essencial: estar presente. Para mim, a sensação que o yoga me dá é como uma dança coreografada por uma voz serena, que nos coloca em contacto connosco mesmos, enquanto transpiramos com a mesma intensidade como se estivéssemos a fazer 20 agachamentos com saltos, só que até podemos estar sentados em cima do tapete.

Os benefícios físicos acho que já todos conhecem — mais flexibilidade, melhoria do equilíbrio, tonificação — e sinto-os todos, mas foi ter feito match com um desporto que, acima de tudo, me respeita e acolhe, que me faz pela primeira vez ficar ligeiramente triste quando não consigo ir a uma aula (e se o "eu" do passado lesse isto iria soltar um grandioso LOL). Ainda assim, outra coisa fantástica do yoga é que podemos levá-lo connosco para todo o lado. É colocar uma música que gostem — ou não — estender o tapete e ligar um vídeo do Youtube para nos guiar, caso seja preciso (gosto muito dela, e tem um desafio de 30 dias para quem quer começar).

E o melhor vem sempre depois: consciência, calma, sensação de dever cumprido e um abraço gigante que nos vai subindo pelo corpo e nos acompanha o resto do dia. Ah, sim, é capaz de também se chamar amor-próprio.

Do jornalismo à comunicação, é na escrita que Patrícia Domingues espelha a sua natureza curiosa e bem-humorada. Na Miranda, a libriana partilha instantes de um eterno namoro pela Beleza, bem-estar e cosmética.