Hoje vamos falar um pouco sobre os possíveis motivos de estar inchada e como podemos encontrar algumas respostas. De uma vez por todas.

A distensão abdominal e os gases acontecem a todos nós, de vez em quando; no entanto, se isso acontecer de forma consistente, então podemos estar perante um problema. Enquanto médica funcional, para realmente resolvermos qualquer problema, precisamos identificar primeiro a causa-raiz.

Quais são as causas da produção excessiva de gás? 

Lacticínios e alguns alimentos

Os lacticínios causam inchaço em pessoas que não produzem a enzima lactase, responsável por decompor a lactose em açúcares simples. A lactose não digerida chega até ao cólon, onde as bactérias podem começar a fermentá-la, criando gás. De forma semelhante ao glúten, isso pode causar inflamação e má digestão da lactose e dos alimentos que ingerimos, enquanto o nosso intestino está bastante inflamado. E se não for intolerante à lactose, pode ainda ser intolerante a duas outras proteínas encontradas no leite: a caseína e o soro do leite. Por isso, lacticínios... testem (ou evitem mesmo).

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Outros alimentos, como o feijão e alguns dos vegetais crucíferos, como a couve de Bruxelas ou os brócolos, têm maior probabilidade do que outros de causar gases, porque contêm substâncias que não podem ser digeridas. Esses alimentos contêm rafinose, um trissacárido que leva à fermentação e à produção de gases intestinais.

Outros factores, como os adoçantes – por exemplo, o sorbitol e a frutose – causam também inchaço e problemas digestivos em algumas pessoas, assim como excesso de gordura. Comecem a ler os rótulos dos “alimentos” que andam a comer.

Doença celíaca ou doenças inflamatórias intestinais

A doença celíaca é uma doença auto-imune, que pode causar mais de 300 sintomas (trezentos!), incluindo diarreia, fadiga, perda de peso, gases e distensão abdominal. Quando alguém tem esse problema, o glúten ataca o revestimento do intestino, causando inflamação percetível e sintomas agudos, que podem levar a doenças graves. Mas para além da doença celíaca, existe um quadro chamado de "leaky gut", ou intestino permeável, que é o começo de muitas das doenças auto-imunes.

Quer tenha ou não doença celíaca, recomendo a todos que evitem o glúten, pois este desencadeia a libertação de uma substância chamada zonulina, que causa permeabilidade intestinal. Por sua vez, esse intestino permeável leva à inflamação, que pode causar uma série de problemas em todo o corpo, incluindo inchaço e várias doenças.

Supercrescimento de Candida

Quando há desequilíbrios na microbiota intestinal, pode ocorrer uma hiperproliferação do fungo Candida, sendo muito comum causar sintomas como inchaço, prisão de ventre, infecções fúngicas, erupções cutâneas, cansaço e outros sintomas que nem sempre relacionamos com o intestino. O excesso de Candida pode iniciar um processo de fermentação no intestino, que causa esse inchaço na barriga, tal como quando observamos o pão a crescer na fermentação. Pessoas que já eliminaram vários alimentos e mesmo assim mantêm persistentemente uma distensão abdominal, com dor e desconforto, devem ser testadas.

SIBO (“small intestinal bacterial overgrowth”)

A maioria das bactérias intestinais deve estar localizada no cólon. Quando as bactérias normalmente encontradas no cólon começam a colonizar o intestino delgado, ocorre o supercrescimento bacteriano no intestino delgado, ou SIBO. O SIBO também pode ser causado por um crescimento excessivo de bactérias normais no próprio intestino delgado.

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Essas bactérias em desequilíbrio alimentam-se de alimentos não digeridos e produzem metano ou hidrogénio, dependendo da estirpe da bactéria que está em excesso, causando os sintomas de inchaço abdominal intenso, flatulência e arrotos. Algumas pessoas incham tanto que parecem estar grávidas de seis meses no final do dia.

Nestas situações, temos que fazer um estudo da microbiota intestinal (teste das fezes).

AS SOLUÇÕES: passos simples por onde pode começar

  1. Testes de intolerância alimentar.
    As alergias e intolerâncias alimentares são causas comuns de inchaço e problemas digestivos. Um teste de intolerância alimentar a diferentes grupos alimentares, ou procurar apoio médico/nutricional para uma dieta de eliminação direcionada para as suas necessidades, podem ser o primeiro passo.
  2. Comer devagar.
    Comer muito rápido fará com que engula uma grande quantidade de ar, que produz gases. Mastigue cada garfada com calma e deguste o sabor dos alimentos.
  3. Reduza a ingestão de álcool.
    Efeitos da pandemia? Alguém se identifica...? O stress e ansiedade dos últimos meses levaram muitas pessoas a aumentar o consumo de bebidas alcoólicas. Dependendo dos seus objetivos, pode decidir evitar o álcool completamente. A retenção de líquidos é um sinal de que o seu corpo está com défices de eletrólitos e que pode estar vulnerável a algumas alterações no fígado. Com uma alimentação e hidratação adequadas, pode repor os eletrólitos de que o corpo está em carência.
  4. Hidrate (mas não abuse!).
    Conforme bebemos mais água, o nosso corpo elimina mais líquidos e pode reduzir o inchaço. No entanto, muita água de uma só vez (principalmente para pessoas que bebem habitualmente pouca água) pode sobrecarregar o sistema e desequilibrar os níveis de sódio. Vá avaliando como o seu corpo se comporta e vá com calma.
  5. Identifique e elimine infecções intestinais.
    Muitas pessoas têm graves desequilíbrios da flora intestinal, que devem ser testados e tratados. Já identifiquei em centenas de pacientes na minha prática clínica, que tiveram infecções de SIBO ou de Candida, como muitos dos sintomas gastrointestinais (e outros) foram resolvidos rapidamente.
  6. Excessos na ingestão de fibra.
    O excesso de fibra pode causar inchaço, porque permanece no corpo por um tempo demasiado longo. As nossas bactérias intestinais podem alimentar-se dela, produzindo excesso de gás. No entanto, pouca fibra também pode causar inchaço, bem como prisão de ventre, porque isso pode desacelerar a sua digestão e dar aos alimentos mais tempo para fermentar enquanto estão no trato digestivo. Fazer um diário alimentar pode ajudar a encontrar o que não está a funcionar para si.
  7. Incluir os alimentos certos.
    Existem muitos alimentos funcionais que podem ajudar a aliviar a distensão abdominal. Inclua um sumo de aipo durante 7-10 dias, logo em jejum, todas as manhãs.

É aqui que uma avaliação funcional mais completa pode ser útil.

Uma consulta de medicina funcional inclui sempre uma avaliação alimentar e devemos tentar identificar junto dos nossos pacientes quais os alimentos, bebidas ou estilos de vida que podem estar a agravar a distensão abdominal. Também permite a avaliação de fatores como ingestão de fibras e líquidos, que podem contribuir para a prisão de ventre e distensão abdominal.

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Por vezes temos que ir mais longe, com testes funcionais, como uma análise abrangente das fezes e outros testes gastrointestinais, que nos ajudem a identificar infecções digestivas e/ou desequilíbrios na função ou na flora intestinal. Esses testes são muito mais abrangentes do que os testes-padrão das fezes, e podem ajudar a descobrir as variações fundamentais responsáveis ​​pela distensão e pelo desconforto abdominal. Soluções personalizadas, com os suplementos certos e mudanças na dieta, são fundamentais para restaurar a função gastrointestinal.

A medicina funcional também pode avaliar os desequilíbrios hormonais que contribuem para a distensão abdominal. Desequilíbrios no estrogénio e progesterona, ou um excesso da hormona do stress (o cortisol), podem contribuir para a retenção de água na cavidade abdominal e consequentemente aumento de peso. O primeiro passo é identificar as verdadeiras causas da distensão abdominal e promover todos os passos que apoiem o equilíbrio hormonal e da flora intestinal.

Sorriam para o vosso intestino, tratem-no com o carinho que ele precisa e vejam a vossa saúde e bem-estar a mudar.

A Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. Escreveu o livroSaúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.