Há mais de 40 anos que estudamos a ciência do envelhecimento e várias são as premissas que nos permitem maximizar a longevidade, de acordo com a melhoria dos padrões do envelhecimento. Entre as várias hipóteses, uma das mais promissoras é apoiada por evidências de que intervenções (como mudanças na dieta) podem melhorar a saúde e estender a nossa vida útil.
E como podemos avaliar de que forma vamos envelhecer? Há várias características objetivas e quantificáveis do processo de envelhecimento – conhecidas como biomarcadores do envelhecimento – que podemos rastrear.
Fazer as contas: idade biológica vs. cronológica
Quando falamos em idade cronológica, entendemo-la como a quantidade de tempo desde que nascemos, enquanto a idade biológica é aquela com a qual o nosso corpo e células se assemelham ou funcionam. Embora duas pessoas possam ter 30 anos cronologicamente, uma delas pode ter um perfil biológico mais próximo dos 25, enquanto a outra pode ter um perfil biológico de 35 anos.
Testes genéticos: a medicina do futuro nos dias de hoje
Apesar de ainda parecer algo distante no futuro, a genética permite-nos já prever como as nossas células estão a envelhecer. Para calcular a idade biológica, existem vários marcadores que podem ser estudados a partir de dados epigenéticos, como a metilação do ADN, através de uma amostra de sangue ou outra fonte, como a saliva.
A metilação do ADN é basicamente uma modificação química do nosso ADN, que regula quais os genes que são ativados e quais os que são desativados. Assim, de acordo com determinados gatilhos, há áreas específicas do genoma em que há um aumento da metilação com a idade, e outras áreas onde há diminuição da metilação com a idade. Simplificando, podemos ligar ou desligar genes ligados a algumas doenças e ao envelhecimento celular.
Hoje em dia, com testes genéticos específicos, é possível olharmos para esses padrões e predizermos a idade biológica de alguém. Há várias empresas que oferecem testes que podem ser realizados em casa e nos quais é possível medir com algumas escalas a idade biológica.
Na Medicina Anti-Aging e na prática clínica, usamos vários marcadores clínicos que avaliam a saúde e o funcionamento de diversos sistemas (imunológico, metabólico, cardiovascular, renal e hepático). Mas, mais importante do que isso, permitem-nos avaliar o risco e melhorar indicadores de risco de doença e mortalidade.
Embora os testes possam fornecer percepções interessantes para nos ajudar a entender a nossa composição genética, a realidade é que, entre os muitos genes, analisar o significado de cada um é quase impossível. Apesar disso, sabemos que apenas 20% das doenças são causadas pelos nossos genes, sendo os fatores ambientais responsáveis em 80% por ativar e desativar os genes.
Por isso, se optarmos por fazer um teste genético, os resultados devem ser tomados no contexto de riscos particulares de cada pessoa, e analisados com um profissional de saúde experiente, que entenda a interação entre a genética e o ambiente, e as limitações desses mesmos testes.
Perfil Healthy Aging: o que podemos testar
Um exame de sangue anual é uma estratégia simples, mas poderosa, que nos pode ajudar a controlar de forma proactiva a saúde atual e futura. Um perfil hormonal e bioquímico de exames de sangue pode detetar sinais de alerta silenciosos, que precedem o desenvolvimento de doenças graves, como a diabetes, a obesidade e doenças cardíacas.
Muitas doenças e distúrbios são tratáveis quando detetados precocemente, mas quando passam despercebidos podem prejudicar gravemente a qualidade e a duração da nossa vida se não forem supervisionados. Identificar esses fatores de risco ocultos permite-nos implementar estratégias poderosas, como uma nutrição adequada, exercícios, suplementos e, quando necessário, medicamentos, a fim de prevenir a progressão para doenças graves e potencialmente fatais.
Ou seja, todas as decisões que tomamos no nosso dia-a-dia vão interferir na forma como estamos a envelhecer. Trata-se, na verdade, de uma escolha nossa.
Assim, se tivermos essas informações sobre importantes biomarcadores podemos planear e executar uma estratégia que nos ajude a alcançar e a manter as nossas células mais saudáveis e equilibradas.
Este painel anti-envelhecimento pode conter os seguintes testes:
- Marcadores gerais de saúde, que nos permitem fazer uma avaliação mais abrangente, como um painel metabólico completo com lípidos, hemograma completo, função hepática e renal, minerais e proteínas do sangue, estado eletrolítico, entre outros.
- Hormonas da tiróide: T3 livre, T4 livre e Hormona estimulante da tiróide (TSH), responsáveis pelos nossos níveis de energia e metabolismo.
- Vitaminas: manter os níveis ótimos é crucial para optimizar níveis de energia, a função imunológica e a regulação do humor. Entre as mais importantes a avaliar, a vitamina B12, o ácido fólico, a vitamina D e a vitamina C.
- Marcadores de risco cardiovascular, como a apolipoproteína B, homocisteína, ferritina e Proteína C Reativa (alta sensibilidade).
- Marcadores de resistência à insulina (que nos auxiliam a compreender o metabolismo na perda, ou não, de peso e a maneira como o corpo usa os alimentos para obter energia), como a Hemoglobina A1C (HbA1C), HOMA-IR, glicose e insulina.
- Estudo das hormonas sexuais, como níveis de estrogénio, DHEA, testosterona, entre outros.
Atrasar o envelhecimento: por onde podemos começar
Já sentiram que não conseguem fazer o que costumavam fazer? O declínio na produção de energia, relacionado com a idade, pode ser o culpado e, quando esses níveis diminuem, o coração e outros órgãos não funcionarão como antes.
Por outro lado, o processo de senescência celular ocorre à medida que as células envelhecem e algumas delas deixam de funcionar de maneira ideal, o que pode causar problemas de saúde. Embora não possamos (ainda!) impedir o envelhecimento das células, podemos ajudar a aliviar a carga de células senescentes do corpo, através de senolíticos: nutrientes que estimulam as vias naturais do corpo para a remoção ou reciclagem dessas células senescentes.
A área da longevidade e envelhecimento ainda é um tema relativamente novo e, apesar de ainda não sabermos especificamente quais são as medidas ideais, sabemos que medidas como a restrição calórica, o jejum intermitente, exercício físico, um sono otimizado e certos suplementos, podem aumentar a longevidade.
Tal como afirma David Sinclair, professor de genética de Harvard, que diariamente procura quebrar a ciência por trás do processo de envelhecimento: “Apenas 20 por cento da nossa longevidade e saúde na velhice são determinados geneticamente”. Assim, quando descobrirmos como eliminar o stress oxidativo celular, e quais os suplementos e intervenções de saúde certos, será finalmente possível mantermo-nos jovens e esse será o caminho que mudará para sempre o futuro da Medicina.
Até chegarmos a esse dia, enquanto médica funcional e anti-aging, o que eu faço e recomendo a amigos, família e aos meus pacientes, é comer uma dieta pegan, à base de plantas, boas gorduras e antioxidantes. Faço jejum intermitente, comendo num período-janela de apenas 6 a 8 horas do dia. Bebo apenas socialmente, de vez em quando, e aposto em vinhos tintos, sempre que possível biológicos (ricos em resveratrol, uma molécula anti-envelhecimento). Tento dormir mais e melhor. Faço exercício o máximo que posso — pelo menos cinco dias por semana.
Como costumava ser nadadora, não consigo viver parada, mas atualmente mudei o meu plano para fazer mais HIIT (Treino Intervalado de Alta Intensidade), porque acredito que provavelmente tem um impacto maior no meu corpo e bem-estar. A verdade é que acompanhei os resultados das minhas análises nestas coisas básicas, como a glicose no sangue e vários marcadores de inflamação, e vi e senti as melhorias.
A questão que vos deixo hoje é: como querem envelhecer?
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