O cansaço é uma das queixas de saúde mais comuns, mas nem sempre a sua causa é fácil de determinar. Convido-vos a ler este artigo para descobrirmos algumas causas pouco conhecidas de fadiga, que devem ser descartadas se já está a alimentar-se bem e a dormir o suficiente, mas mesmo assim ainda se sente cansado o tempo todo.

Quando pode ser síndrome da fadiga crónica

A síndrome da fadiga crónica é um desequilíbrio complicado, caracterizado por uma fadiga extrema que não pode ser explicada por outra qualquer condição médica subjacente. A fadiga pode piorar com atividade física ou mental, mas não melhora com o repouso.

A síndrome da fadiga crónica tem sinais e sintomas oficiais, além do sintoma central que dá o nome ao quadro:

  • Fadiga;
  • Perda de memória ou concentração;
  • Dor de garganta;
  • Gânglios linfáticos aumentados no pescoço ou axilas;
  • Dor muscular inexplicável;
  • Dor que se move de uma articulação para outra, sem inchaço ou vermelhidão;
  • Dor de cabeça de um novo tipo, padrão ou gravidade;
  • Exaustão extrema, que dura mais de 24 horas após um exercício físico ou mental.
Quando pode ser fadiga adrenal

Provavelmente já terá ouvido da síndrome de fadiga adrenal. Embora haja alguma controvérsia sobre se a fadiga adrenal é ou não um diagnóstico legítimo, não há dúvida de que os sintomas são muito reais.

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Com a fadiga adrenal, algumas pessoas são informadas sobre os sintomas permanecerem por meses antes de obterem um diagnóstico adequado. Outras apenas têm alguns dos seus sintomas “tratados”, sem nenhuma razão clara para terem tido esses mesmos sintomas. As análises de sangue nem sempre fornecem uma imagem perfeita do que está a acontecer no nosso corpo e, muitas vezes, quando o médico não tem conhecimento sobre um distúrbio como a fadiga adrenal, é muito fácil passar despercebido.

A verdade é que a maioria das pessoas passa por sintomas associados à fadiga adrenal pelo menos uma vez durante a vida. A fadiga adrenal pode começar por uma sensação de névoa cerebral, ganho de peso e depressão, podendo levar à queda de cabelo, cansaço extremo, apatia e até problemas intestinais.

Entre outros sintomas que indicam que pode ter fadiga adrenal:

  • Falta de energia;
  • Fadiga;
  • Diminuição da capacidade de lidar com o stress;
  • Sentir-se facilmente sobrecarregado;
  • Sensação de sonolência ou nevoeiro à tarde, das 14h às 16h;
  • Fadiga matinal – é difícil "acordar" até às 10h, mesmo que esteja acordado desde as 7h;
  • Ter uma explosão de energia ou cansaço extremo às 18h;
  • Sonolência das 21h às 22h, mas muitas vezes há uma resistência em ir dormir;
  • Desejo de alimentos ricos em sal;
  • Aumento da TPM (tensão pré-menstrual) ou sintomas da menopausa;
  • Depressão leve ou ansiedade;
  • Aumento de alergias;
  • Tonturas ao levantar de uma posição sentada ou deitada;
  • Perda de líbido;
  • Suspiros frequentes ou falta de ar.
Procurar respostas: perceber o porquê

Uma avaliação médica funcional pode ser o primeiro passo para encontrar algumas respostas, onde poderá junto do seu médico trabalhar na pesquisa da raiz do problema e testar algumas das causas subjacentes da fadiga. Entre alguns dos passos:

  • Abordar a inflamação.
    A inflamação crónica e latente destrói lentamente os nossos órgãos e a capacidade de funcionamento ideal do nosso organismo, e leva ao envelhecimento rápido – chamamos a isso o conceito de “inflammaging”.
  • Estudar problemas ocultos.
    Infeções virais, infecções intestinais ocultas, toxicidade por metais pesados e fadiga adrenal, são todas causas possíveis da síndrome da fadiga crónica e de outras doenças auto-imunes, fibromialgia e esclerose múltipla.
Segundo passo: reduzir o stress e fazer as escolhas certas!

Começarmos pelas pequenas coisas parece simples, mas por vezes não é. Para começar:

  • Uma alimentação rica em alimentos cheios de antioxidantes e fitonutrientes. Incluir 8 a 12 porções de vegetais frescos, frutas, feijão, nozes, sementes e grãos todos os dias.
  • Dar suporte com nutrientes que protegem as mitocôndrias (a “casa das máquinas” das nossas células) para aumentar a nossa energia. Estes incluem acetil-L-carnitina, ácido alfa-lipóico, coenzima Q10, n-acetil-cisteína (NAC), resveratrol e magnésio. Embora não sejam uma cura para tudo, alguns suplementos, ingeridos em conjunto com uma dieta anti-inflamatória, podem fornecer suporte metabólico para pessoas com baixos níveis de energia.
  • Aumentar as gorduras ómega-3 para ajudar a regenerar as membranas celulares e mitocondriais. Peixes de água fria, como o salmão selvagem, sardinha e arenque, são boas fontes de gorduras ómega-3, assim como sementes de linhaça e ovos ómega-3. Os alimentos e suplementos certos ajudam a fortalecer as frágeis membranas celulares que fazem as nossas mitocôndrias funcionarem da maneira que deveriam.
  • Fazer da meditação uma prática diária: estudos demonstram que até 7 minutos por dia podem ser benéficos. Há várias técnicas possíveis, a ideia é encontrar uma fácil, que seja agradável e simples de aplicar no dia-a-dia.
  • Levar o sono a sério: não é apenas dormir 7 a 8 horas todas as noites, mas sim ter um sono de boa qualidade também. Fazermos do nosso quarto um santuário de sono com a temperatura certa, usar cortinas blackout e desligar quaisquer luzes de presença, podem fazer toda a diferença. Mas quando o sono é permanentemente perturbado, é importante excluir problemas respiratórios de sono não diagnosticados (como a apneia do sono) ou outros.
  • Exercício físico, mas com calma. Com muitos dos meus pacientes com disfunção do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), ou fadiga adrenal, frequentemente identifico pessoas que se exercitam em excesso. Embora o exercício seja ótimo, quando em excesso pode fazer com que as hormonas do stress e os processos inflamatórios sejam acelerados, promovendo mais stress oxidativo do que benefícios. Ouvir e respeitar o que o nosso corpo pede é essencial.
  • Seguir um cronograma e ouvir o relógio biológico: o corpo funciona em vários ritmos circadianos, incluindo as nossas hormonas. Quando seguimos um cronograma, os ciclos biológicos do nosso corpo encontram mais rapidamente o equilíbrio. Sermos rigorosos na hora de ir para a cama é importante.
  • Atenção plena (mindfulness): trabalharmos para estarmos presentes. É fácil envolvermo-nos em pensamentos, preocupações com o futuro ou uma obsessão pelo passado, que podem assumir o controlo. Quando imaginamos situações stressantes, causamos reações bioquímicas no nosso corpo e isso pode ativar uma resposta fisiológica ao stress, de que na maioria das vezes não temos consciência.

A realidade é que há soluções e não estamos destinados a sofrer obrigatoriamente de fadiga crónica. Uma abordagem da Medicina Funcional pode ajudar a identificar a causa-raiz do problema e fornecer uma orientação na implementação de mudanças no estilo de vida e outros planos personalizados para cada pessoa e para as suas necessidades.

Conhecimento é poder, e ter uma compreensão das possíveis causas pode ajudar a protegermo-nos melhor e a dar-nos pistas. Entretanto, bom descanso e bons fins-de-semana! 

A Dra. Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrar o seu equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. É a autora de Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.