Uma “vacina anti-envelhecimento” pode ainda parecer ficção científica, mas já há investigadores a trabalhar em soluções para a tornar realidade.
Quando tudo começa nos nossos genes
Ao falarmos de Medicina Anti-Aging, temos que falar sobre epigenética, ou seja, como os genes podem retardar o envelhecimento ou reverter os desequilíbrios relacionados com o passar da idade. Não se trata de mudar o código dos nossos genes, apenas como eles são expressos: se os ligamos ou se os desligamos. À medida que começamos a envelhecer, o nível de genes-chave que ajudam a manter a vida começa a diminuir quando alguns deles são ativados, e o que se está a estudar é como reativar os genes que estimulam a juventude.
Se esta ideia estiver correta, devemos ser capazes de impactar todos eles ao mesmo tempo, quando focamos nas principais causas do envelhecimento. Quando rejuvenescemos as células, também estamos a aumentar todos os seus mecanismos de reparação.
As descobertas revolucionárias
Centenas de cientistas em todo o mundo estão atualmente a estudar os telómeros, pequenas unidades de ADN nas extremidades dos nossos cromossomas. São frequentemente comparados às pontas de plástico nas extremidades dos atacadores. Enquanto essas pontas (telómeros) permanecem intactas, elas evitam que os cromossomas se desfiem e os genes internos se desorganizem.
À medida que as nossas células se dividem, normalmente com o passar da idade ou em resposta a escolhas inadequadas de estilo de vida, esses telómeros vão ficando progressivamente mais curtos, até que as células se tornam disfuncionais ou morrem. Quando isso acontece, envelhecemos, sofremos com as doenças do envelhecimento e, eventualmente, morremos. Esse mesmo efeito degenerativo ocorre nas nossas células-tronco com o envelhecimento, o que as torna progressivamente incapazes de criar novas células saudáveis.
Há evidências de que alguns suplementos, como o óleo de peixe, a vitamina D, a carnosina e outros micronutrientes, e opções por estilos de vida saudáveis, podem diminuir a taxa de encurtamento dos telómeros. Isso ajuda a explicar por que as pessoas que nutrem de forma adequada as suas células desfrutam de benefícios na sua saúde e qualidade de vida.
Num estudo da Nature, ratinhos de laboratório prematuramente envelhecidos desenvolveram problemas degenerativos, como atrofia de órgãos, alterações na fertilidade e envelhecimento cerebral. À medida que esses ratos envelhecidos se aproximavam da morte, os cientistas induziram a reativação da enzima telomerase. Em resposta à reativação da telomerase, os telómeros no final dos seus cromossomas alongaram-se. Depois de apenas 30 dias, houve uma reversão das mudanças degenerativas em todos os sistemas testados.
Esses ratos inicialmente estavam à beira da morte, mas passaram a viver uma expectativa de vida mais longa e saudável do que se poderia imaginar, considerando a condição degenerativa em que se encontravam no início do estudo. Em humanos, isso seria como restaurar a saúde e o vigor de um doente de 80 anos à de um jovem adulto!
Para além da genética
O médico Nir Barzilai, diretor fundador do Institute for Aging Research da Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, estuda há anos várias das armas mágicas para a longevidade. Quando se trata de extensão da saúde, diz Barzilai, a genética é responsável por apenas cerca de 20%. O resto é meio ambiente e estilo de vida. Sendo um dos defensores do jejum intermitente, defende também que um padrão-ouro continua a ser a dieta mediterrânica: rica em vegetais, frutas, grãos inteiros, nozes, sementes e azeite, comprovados em pesquisas clínicas para diminuir a mortalidade cardiovascular.
Restrição calórica
A restrição calórica tem sido, ao longo de mais de 80 anos, a intervenção conhecida mais bem estudada para retardar o processo de envelhecimento.
Uma restrição calórica regular e de curto prazo, como a chamada "dieta 5:2" (comer normalmente por cinco dias e reduzir a ingestão de calorias por dois), tem fortes benefícios para a saúde metabólica, o que ajuda a controlar a obesidade e a diabetes.
Estudos em animais mostram uma extensão na expectativa de vida durante o jejum intermitente. Outros estudos mostraram alterar geneticamente a capacidade do corpo de responder à insulina, que é libertada quando comemos uma refeição, dobrando a expectativa de vida em animais.
Algumas moléculas anti-envelhecimento
Estão atualmente em estudo vários compostos que podem ativar um membro das sirtuínas, chamado SIRT1, para estender a vida em ratinhos e retardar os marcadores de envelhecimento. Essa enzima SIRT1 requer um combustível para a sua atividade, denominado NAD+, cujos níveis diminuem com a idade. O médico Jun Li recentemente mostrou que os níveis de NAD+ são essenciais para ligar o mecanismo de reparação do ADN, que diminui à medida que envelhecemos.
O resveratrol, um composto encontrado no vinho tinto, é também considerado um candidato ao anti-envelhecimento.
Outro potencial candidato será a metformina. O primeiro medicamento aprovado e já usado para tratar a diabetes, que existe desde 1950, é usado por dezenas de milhões de pessoas. Em animais, a metformina estende a vida útil e mantém a saúde, enquanto estudos populacionais mostram que reduz o risco de cancro. Acredita-se que a metformina atue ativando um sensor de energia nas células, chamado “AMPK”, que deteta situações de baixa energia e altera a resposta do metabolismo.
O efeito da metformina na saúde e na expectativa de vida em indivíduos mais velhos, e não diabéticos, é o tema do estudo TAME, em Nova Iorque. Se for bem-sucedido, esse ensaio pode levar à primeira pílula “geroprotetora” ou “anti-envelhecimento”, que poderia vir a ser considerada um profilático pela população idosa.
As autoridades reguladoras ainda não reconhecem o envelhecimento como uma doença, o que torna as terapias potenciais que o tratam menos viáveis comercialmente. Em vez disso, a maioria dos medicamentos está apenas a ser direcionada para doenças específicas do envelhecimento – por exemplo, artrite ou diabetes tipo 2.
Independentemente de se saber se algum dos medicamentos acima se mostrou seguro e eficaz em humanos, o conselho atual para manter a saúde na velhice é previsível, mas eficaz: exercício, alimentação variada e moderada, manutenção do contato social e prevenção do stress, trazem profundos benefícios à saúde, mais do que qualquer coisa que estará disponível numa cápsula.
Sermos a nossa melhor versão
É necessária uma revolução na Medicina para que seja possível desenvolver a combinação de terapias que levem, neste século, a impedir o envelhecimento humano.
Não é vergonha querermos ter a melhor aparência e vivermos com qualidade de vida por longos anos.
Evitar o envelhecimento não é algo de superficial, mas sim uma preocupação legítima, tal como termos uma aparência tão boa quanto como nos sentimos.
E não há nada melhor do que, como médica de uma medicina preventiva, fazermos os pacientes sentirem-se bem consigo mesmos e com melhor qualidade de vida.
Vamos ganhar mais uns anos ao tempo?
Comentários