A forma como nos nutrimos, a nossa mente, o nosso corpo e alma, criam a base da nossa saúde e da saúde da nossa família. E como a mulher se prepara para uma gravidez é importante! Uma abordagem de Medicina Funcional na gravidez vai capacitá-la com um conjunto de recomendações e ferramentas para uma saúde ideal, para si e para o seu futuro bebé. Quer seja o que come, como lida com o stress, como se suplementa ou como move o seu corpo, tudo isso vai ter um impacto significativo numa gravidez.

O processo de engravidar e permanecer grávida nem sempre é um caminho fácil. Para alguns, significa tristeza, espera e antecipação.

A maioria das mulheres que têm dificuldade de engravidar, ou tem abortos recorrentes, está na verdade numa faixa de menos a mais fértil, em vez de ser totalmente infértil. A fertilidade é um reflexo direto da saúde global, hormonal e micronutricional.

Uma das primeiras etapas é testar os seus níveis hormonais. Especialmente para desequilíbrios na progesterona, uma hormona vital para preparar o revestimento do útero para a implantação bem sucedida de um embrião.

Muitos desequilíbrios hormonais são devidos a carências micronutricionais ou desreguladores endócrinos. Dar ao corpo um apoio natural pode ajudar a mulher a levá-la a um estado de equilíbrio.

Gravidez: como uma progesterona baixa afeta a sua fertilidade

Como diz o próprio nome, a progesterona (que significa literalmente “pró-gestação”) ajuda a mulher a engravidar e a continuar grávida. Se o seu corpo não está a produzir a quantidade suficiente, então pode sofrer abortos recorrentes ou nem sequer conseguir engravidar. Embora muitos fatores contribuam para a fertilidade de uma mulher, a progesterona é importante, tanto no ciclo menstrual normal da mulher, quanto durante a gravidez. Progesterona baixa pode estar associada a abortos espontâneos repetidos, infertilidade, depressão pós-parto e até mesmo problemas como baixa massa óssea e maior risco cardiovascular.

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Durante a fase lútea do ciclo da mulher, que começa na ovulação e dura até ao início do próximo período, é quando ocorre a produção de progesterona. Mulheres saudáveis devem ter uma fase lútea que dure 11 a 16 dias. Se a mulher tem uma fase lútea curta, “spotting” (perdas de sangue antes da menstruação) ou problemas de fertilidade, verificar os níveis de progesterona é um ponto de partida óbvio. Infelizmente, muitas mulheres nunca foram testadas, exceto quando já tiveram que passar por três abortos espontâneos ou pelo menos um ano a tentar engravidar sem sucesso. E, mesmo quando fazem um estudo hormonal, geralmente medem a progesterona no dia errado do ciclo da mulher.

Mas já sabe que tem baixa progesterona? E agora?

Se está a ter problemas para engravidar e confirmou que tem baixos níveis de progesterona, a modulação hormonal com uma progesterona bioidêntica pode ajudar.

Quando os níveis hormonais estão desequilibrados, é provável que existam também outros problemas subjacentes e é importante abordar esses problemas:

  • hipotiroidismo, que afeta muitas mulheres sem sequer o saberem;
  • nutrição inadequada, que pode impedir a gravidez ou colocar o feto em risco;
  • hiperinsulinismo, que pode coincidir com a síndrome dos ovários poliquísticos;
  • HPA (disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal), por stress, problemas de sono ou outros fatores a identificar.
Qual a ligação entre hipotiroidismo e infertilidade?

O que muitas mulheres não sabem é que uma tiróide hipoativa (hipotiroidismo) pode ser uma causa de infertilidade. Nestes casos, a glândula tiroideia não produz em quantidade suficiente certas hormonas importantes e esses baixos níveis podem interferir na libertação de um óvulo do ovário (ovulação), o que prejudica a fertilidade. Além disso, algumas das causas subjacentes, como certos distúrbios autoimunes (por exemplo, a doença de Hashimoto), podem prejudicar a fertilidade.

Entre os sintomas mais comuns do hipotiroidismo incluem-se:

  • cansaço extremo
  • ganho de peso
  • cãibras musculares
  • dificuldade de concentração
  • queda de cabelo, pele seca e unhas quebradiças
  • sensibilidade a temperaturas frias.

O problema é que os sintomas de hipotiroidismo são inespecíficos, geralmente desenvolvendo-se ao longo de vários anos, e até podem indicar uma série de outros problemas clínicos. Um estudo mostrou que 20% das pessoas com exames de sangue totalmente normais da tiroide tinham quatro ou mais sintomas de hipoatividade da tiroide.

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Quando o hipotiroidismo é a razão da infertilidade, tomar medicamentos para a tiroide permitirá que a maioria das mulheres engravide, logo seis semanas após o tratamento, de acordo com um estudo publicado em 2015 no Journal of Medical Sciences. O estudo também apontou que muitas mulheres que têm problemas para engravidar podem não ter sintomas aparentes de hipotiroidismo e apenas níveis ligeiramente elevados de TSH, tornando ainda mais importante fazer análises hormonais se a mulher estiver com dificuldade para engravidar e não souber porquê. Se a infertilidade permanecer após a correção do hipotiroidismo, outras intervenções podem ser necessárias.

Se tem hipotiroidismo e deseja engravidar, converse com o seu médico para avaliar os seus níveis hormonais (TSH, T3 e T4 livres, T3 reversa, auto-anticorpos, níveis de iodo) e ter a certeza de que o hipotiroidismo está sob controlo.

Se tem hipotiroidismo e engravidou, informe o seu médico imediatamente. A monitorização cuidadosa dos seus níveis hormonais durante a gravidez vai poder promover o desenvolvimento fetal normal e reduzir o risco de aborto espontâneo.

A minha mensagem final para as futuras mamãs

Não consigo num só artigo explicar todas as causas hormonais que possam estar na origem de um problema de fertilidade ou gravidez. Converse com o seu médico se estiver a tentar engravidar e tiver irregularidades menstruais, abortos espontâneos anteriores, problemas de tiroide ou alguma doença auto-imune subjacente, como a tiroidite de Hashimoto. A Medicina Funcional pode ser um suporte para programar todo este processo, sendo solicitados todos os testes apropriados para desenvolver um plano de gravidez saudável.

E não subestime a importância de comer de forma saudável, com um plano personalizado, exercitando-se regularmente, reduzindo os seus níveis de stress e fazendo um plano de suplementação adequado às suas necessidades.

A verdade é que não há duas mulheres iguais.

Dra Andreia de Almeida é médica certificada em Medicina Funcional e Medicina Anti-Aging, com treino especializado em Modulação Hormonal e suplementação avançada. Conhecida pela sua abordagem empoderadora e focada na pessoa, através da sua prática clínica procura inspirar as pessoas a encontrarem o equilíbrio, bem-estar e felicidade interior. É a autora de Saúde para ELAS: o kit de sobrevivência para mulheres dos 20 aos 60+”, um livro dedicado à saúde feminina.