Mestre em Ciências Farmacêuticas e com três pós-graduações em Cosmetologia Avançada, pela Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Sara Fernandes não chegou agora ao mundo do skincare. Há quase 11 anos, criou o Make Down, que começou por ser um blog e que agora conta com uma página de Instagram que tem mais de 10 mil seguidores, e ainda um canal de Youtube. Estivemos à conversa com Sara Fernandes (a segunda vez, a primeira pode ler ali, mais abaixo, à esquerda), que nos contou como se apaixonou pela dermocosmética.
Começando pelo início: como surgiu o Make Down?
A ideia surgiu-me há quase 11 anos, enquanto tirava o curso. Cada vez mais percebia que gostava mais da área de dermocosmética do que de áreas terapêuticas. Já consumia muitos blogs e conteúdo online do género, mas havia muito pouca gente ainda a escrever em português de Portugal sobre o assunto. E assim começou o Make Down, como um blog no Blogspot.
Sente que as pessoas depositam em si mais confiança devido à sua formação?
Sinto que sim. Saber que sou profissional de saúde ajuda a criar confiança no que sei e na minha experiência.
Com a formação em Ciências Farmacêuticas e Cosmetologia, muitos pensam ser esta a chave para a Sara perceber os produtos, ingredientes e formulações, assim como perceber a pele. É verdade?
A minha formação deu-me algumas bases, especialmente no que toca à pesquisa científica e bibliográfica. Mas não foi na Faculdade que aprendi muito do que sei hoje. Foi, sim, nos quase 11 anos de interesse e pesquisa pela área, de uma forma individual. Também trabalhei quase três anos na indústria cosmética e tive a oportunidade, ao longo da carreira, de conhecer e até amigar pessoas que me ensinaram muita coisa também sobre os meandros desta indústria em todas as suas vertentes.
Há muito trabalho de bastidores que não passa pelo Make Down. A Sara também cria rotinas de pele especializadas e personalizadas, certo?
Este foi um serviço que criei, porque tinha muita, mas mesmo muita gente a pedir-me para as ajudar com rotinas, o que é sempre difícil e incompleto de fazer em avulso. Além disso, é muitas vezes necessário um acompanhamento e um esclarecimento de dúvidas mais pessoal.
O meu modelo é o de videochamada, em que a pessoa conversa sobre a sua pele e o que sente, bem como da sua vida e rotinas. Para assim perceber o que veria a encaixar-se no seu estilo de vida. Esta parte é crucial porque nenhuma rotina de pele faz sentido se não for adaptada à vida da pessoa. Seguidamente, envio um plano completo, com sugestão de rotina e múltiplas opções de produtos por onde escolher.
Planos para o futuro? "Chegar a mais pessoas e ajudar mais gente a cuidar melhor da sua pele, desmistificando erros e a Ciência da Beleza".
Os rótulos: um assunto para o qual se viraram todos os holofotes do mundo da cosmética. Hoje em dia, todos parecem "guiar-se" (ou querer guiar) por esse fator na escolha de um produto. Qual a opinião da Sara sobre este assunto?
Se, por um lado, acho magnífico, por outro, acho potencialmente perigoso. Acho magnífico porque cada vez mais vejo os consumidores informados. As marcas vêem-se obrigadas a deixar de falar na misteriosa "molécula X", que vem de um local exótico, e passar a falar em coisas que sempre existiram, como a niacinamida e o retinol.
Por outro, existe uma falsa sensação de conhecimento aprofundado (efeito de Dunning-Kruger), de ler um rótulo e conseguir fazer uma profunda análise de tudo o que aquele cosmético tem para oferecer ao consumidor, desde a sua tecnologia à sua textura. É como tentar adivinhar como é um bolo pela lista de ingredientes, sem sequer ter as quantidades. Temos a certeza que não será antes uma panqueca?
A comunidade de "especialistas em skincare" cresce a olhos vistos no mundo online. A consequência deste fenómeno pode resultar em alguma contra-informação ou desinformação?
Como é natural, com o aumento de volume de pessoas a falar sobre o assunto, isso começa a existir, o que não considero necessariamente mau. O que me assusta é ver cada vez mais pessoas a apresentarem as suas opiniões como certezas ou factos, e a apresentarem verdades absolutas que absolutamente não existem.
Qual(is) a(s) grande(s) "asneira(s)" que sente que muitas pessoas continuam a fazer na hora dos cuidados de pele?
Penso que a "asneira" mais moderna é o momento pós-fascínio da descoberta. Quando a pessoa descobre que o ácido glicólico esfolia e dá luminosidade, que o retinol reduz rugas e o ácido salicílico reduz comedões. E depois decide pôr tudo na cara ao mesmo tempo. Não corre bem, habitualmente, passar dos 0 aos 10 mil sem sequer ter as fundações construídas, como a limpeza, a hidratação ou a protecção solar. É como tentar decorar uma casa que ainda é só um baldio. No entanto, isto também faz parte da aprendizagem e descoberta do maravilhoso mundo da cosmética.
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