Os estudos apontam que mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem da diabetes. Em Portugal, estima-se que cerca de um milhão tem esta doença, sendo que há um grande número que vive sem o saber.
A diabetes é caracterizada pelos níveis elevados de glucose (açúcar) no sangue, a hiperglicémia, e alterações na produção de insulina pelo pâncreas. “É uma doença crónica, pois uma vez diagnosticada, em regra, não desaparece até ao fim da vida”, revelam Ana Paula Pona (Assistente Hospitalar Graduada de Medicina Interna) e Magda Sofia Silva (Médica Especialista em Medicina Interna), autoras do livro “Diabetes de Bolso”, que adiantam ainda que “ao longo do tempo, em especial se não for controlada, podem surgir as chamadas complicações crónicas da diabetes, que aparecem por lesão ao nível dos vasos sanguíneos, coração, cérebro, olhos, rins e nervos”.
Tal como outras doenças, há mitos e verdades que têm que ser esclarecidas e, por isso, Ana Paula Pona e Magda Sofia Silva dão-nos as respostas.
Comer muito açúcar provoca diabetes?
Mito. Não é verdade que a diabetes surja apenas por comer muito açúcar. Na verdade, estão implicados muitos fatores. As pessoas com diabetes podem ter herdado a informação genética para vir a desenvolver a doença, mas este componente genético pode manter-se “adormecido” até existir um estimulo que transforma essa herança em diabetes. No caso da diabetes tipo 2 estes estímulos negativos incluem a obesidade, má alimentação e o sedentarismo, ou seja, estilos de vida pouco saudáveis. O consumo excessivo de hidratos de carbono, como o açúcar, leva à obesidade que é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes.
A diabetes é contagiosa?
Mito. A diabetes não é contagiosa. As doenças contagiosas propagam-se por contacto direto (pessoa – pessoa) ou indireto (superfícies – pessoa) são provocadas por microrganismos que podem ser bactérias, vírus, parasitas ou fungos. Ninguém desenvolve diabetes por contacto com uma pessoa com diabetes. Podemos dizer que os bons e maus hábitos ou estilos de vida são habitualmente aprendidos na infância em que o exemplo dos pais “contagia” os filhos
A insulina pode provar aumento de peso?
Verdade. A insulina usada para controlar a diabetes pode provocar aumento de peso. Em muitas situações é esperado que aconteça, pois, o diabético com quadro de descompensação em que haja perda de peso, ao começar a corrigir a sua diabetes com a introdução de insulina, vai ganhar algum do peso perdido. A insulina é uma hormona que tem alguns efeitos para além do relacionado com o controle da glucose no sangue, a insulina é uma hormona anabólica, quer dizer que ajuda a construção do nosso organismo, e é espectável o aumento de dois a três quilos. Um aumento maior será devido ao não cumprimento da alimentação correta e da atividade física.
Os sintomas da diabetes são evidentes?
Mito. Os sintomas da diabetes podem ser confundidos com os de outras doenças, e esse é o motivo pelo qual uma pessoa pode ser diabética, tipo 2, e só ser diagnosticada cinco anos após o início da doença. Muitas vezes o diagnóstico é feito em análises de rotina. São sintomas sugestivos de diabetes: boca seca e sede excessiva, urinar com frequência, sensação de falta de energia e fadiga extrema, tonturas, visão desfocada, fome constante, perda de peso repentina, dificuldade na cicatrização de feridas e infeções urinárias frequentes.
Pessoas com diabetes podem vir a sofrer de disfunção sexual?
Verdade. Com o passar dos anos, particularmente nas pessoas que não controlam bem a sua diabetes, o açúcar constantemente elevado no sangue vai estragando a circulação vascular, em especial as artérias, que levam oxigénio e nutrientes aos diversos órgãos, bem como os nervos. Como os órgãos sexuais são muito irrigados por artérias e têm muitas terminações nervosas, uma vez danificadas, surgem problemas de impotência sexual e falta da libido. Para evitar estas complicações é muito importante que a pessoa com diabetes, em conjunto com os profissionais de saúde controle os níveis de glucose.
Quem sofre de diabetes pode comer doces?
Verdade. Sim, em dias de festa, pode substituir, por exemplo, a batata na ceia de natal (só come o bacalhau, o ovo, a couve e um pouco de grão) por um doce típico da época. A ideia é substituir um hidrato de carbono por outro, e no caso de fazer insulina de ação rápida pode aumentar em uma ou duas unidades para compensar o que vai comer. É claro que não devem comer doces com frequência, não faz bem a ninguém. Em situação de hipoglicémia, valor de glucose no sangue menor que 70 mg/dl, o diabético pode comer um doce para corrigir rapidamente a hipoglicémia, uma situação que pode ser perigosa e levar ao coma.
É possível atrasar ou até mesmo impedir o aparecimento da diabetes?
Verdade. Apesar de não ser possível mudar a hereditariedade, a idade ou etnia, é possível melhorar a atividade física, a alimentação e mudar o peso. Existem estudos feitos em populações durante vários anos em que ficou demonstrado que se consegue, não só atrasar o aparecimento da doença, como também voltar para fases menos avançadas da diabetes, por exemplo passar para a fase de pré-diabetes. Para que isto aconteça é necessário cumprir as regras de auto vigilância e terapêutica medicamentosa da doença, e é fundamental mudar para os estilos de vida saudáveis.Também nesses estudos ficou demonstrado que os já diabéticos conseguem atrasar o aparecimento das complicações crónicas da diabetes (enfarte cardíaco, AVC, insuficiência renal, perda de visão, amputação por pé diabético). Sendo também importante controlar a pressão arterial, o colesterol e outras doenças crónicas que tenha.
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