Parece ser um fenómeno que se instalou entre as atrizes com mais de 50 anos, o de finalmente assumirem que a vida é muito mais do que ser sempre capa de revista, vestir o tamanho S, ou XS, e de serem vistas como eternamente jovens e desejáveis. Uma aceitação natural, que vem com a idade e com a vontade de serem mais autênticas do que apenas referências de beleza, de desejo ou de elegância – afastando-as daquilo que é a sua verdadeira essência e tendo de, para isso, fazer sacrifícios que já não estão dispostas a fazer.

#ÀFlorDaPele: Pamela Anderson – a revolução da beleza natural já começou
#ÀFlorDaPele: Pamela Anderson – a revolução da beleza natural já começou
Ver artigo

Depois de Pamela Anderson, recentemente foi Brooke Shields que decidiu assumir que está na sua era "que se lixe" (a tradução é mais branda do que o original, que pressupõe um palavrão pelo meio - ‘fuck it era’ - mas que por razões óbvias me coibi de traduzir à letra). Shields, que desde muito nova sempre foi uma referência incontornável de beleza, tendo participado em filmes como 'Lagoa Azul' com apenas 14 anos, onde predominavam cenas de nu integral, algo que hoje em dia seria impensável, ou que, com apenas 16 anos, desfilava para Calvin Klein, decidiu gritar basta a toda a pressão a que as mulheres são sujeitas – especialmente aquelas que estão constantemente sob os holofotes e escrutínio público, onde se espera que sejam perfeitas: magras, sem rugas, sem sinais de envelhecimento e referências da eterna juventude.

Brooke Shields, que atualmente conta 58 anos, é muito mais do que apenas uma referência de beleza ou atriz. É também autora, modelo, licenciada pela Universidade de Princeton e mãe de duas raparigas. Depois de tantos anos, e desde tenra idade, a vivenciar a pressão da opinião pública e do estrelato, a atriz decidiu assumir que já não se encontra focada na pressão de ter sempre um aspeto jovem, tendo optado por concentrar a sua energia em sentir-se bem e em viver a sua vida ao máximo.

 “Adoro comida, gosto de beber e quero, acima de tudo, ser saudável para o meu coração. Estou cansada de não me sentir magra o suficiente durante demasiado tempo. É chato e é uma perda de tempo. Lamento não ter tomado esta decisão mais cedo.” Apesar de parecer uma decisão fácil, a atriz assume que levou muito tempo até conseguir estar confortável com esta nova atitude, tendo sido todo um processo necessário e pelo qual teve de passar até conseguir aceitar o tema com outras lentes.

#ÀFlorDaPele: envelhecimento – "outra vez arroz?"
#ÀFlorDaPele: envelhecimento – "outra vez arroz?"
Ver artigo

Admitindo que também ela tem vários momentos de insegurança, que a faziam vacilar e pôr em causa o seu valor, como se ele dependesse apenas da sua imagem física, a atriz assume, numa entrevista recente à revista Glamour, que teria sido mais benéfico se o tempo que levou a autocriticar-se, o tivesse aplicado de uma forma mais produtiva: “Tenho um pouco de barriga que nunca tive", acrescentou. "Podia perdê-la se realmente o quisesse, mas prefiro passar esse tempo a almoçar, a ler um livro, a passear ou a ir aos jogos da minha filha."

Shields assumiu ainda que a busca pela eterna juventude a estava a levar  longe demais no que diz respeito aos procedimentos e intervenções estéticas, assumindo que, apesar de não estar contra tal, aprendeu com os erros e que não tornará a fazer algo que a afaste daquilo que ela é e a torne irreconhecível para si mesma.

“Neste momento, estou num lugar a que nunca pensei que chegaria e em que consegui mudar a narrativa que fui criando na minha cabeça ao longo dos anos, o de não ser boa o suficiente, o de não ser magra o suficiente, o de não ser famosa o suficiente, ou o de não ser jovem o suficiente, e estou muito orgulhosa de mim mesma.”

#ÀFlorDaPele: a era da autenticidade
créditos: @brookeshields

Parecem ser novos tempos, estes, em que a autenticidade e a escolha pessoal de sermos quem e como somos, começam, lentamente, a marcar presença nos media, assumindo uma tomada de posição que visa o sermos fiéis a nós próprios. Se é algo que só chega com a idade? Talvez. Não é à toa que histórias como esta, de mulheres com as quais crescemos e que sempre vimos como referências e ícones de beleza, em que assumem, sem medos, que estão fartas de serem apenas vistas como ícones de beleza, tenham como protagonistas mulheres com mais de 50 anos.

A idade do “que se lixe”, a idade do "levei demasiado tempo a querer ser algo que não sou e isso nunca me trouxe plenitude ou felicidade", a idade de que a vida não pode ser apenas o parecer ser. Que se destruam falsos conceitos e estereótipos que nos fazem crescer a sentir-nos diminuídas e a querermos ser outra coisa que se afasta da nossa essência. Que se celebre a era da autenticidade e do ser. E se, para isso, for necessário chegar aos 50, que venham eles!

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.