A Inteligência Artificial está a revolucionar a forma como percebemos e interagimos com a beleza. Hoje em dia, tornou-se cada vez mais comum e familiar, no nosso léxico e realidade, o uso de tecnologia que nos permite aprimorar, corrigir e até mesmo recriar características faciais e corporais com uma precisão impressionante. Esta tecnologia oferece um vasto leque de possibilidades criativas, permitindo às pessoas explorarem diferentes visuais sem os riscos ou limitações da maquilhagem tradicional ou cirurgia plástica, “brincando” com a sua imagem real, aprimorando-a, ou levando-a a níveis de beleza irreais, que consideramos perfeitos e onde, num mundo idealizado, gostaríamos que fosse o reflexo da nossa própria imagem. Mas será esta uma representação segura daquilo que somos? Ou uma projeção ilusória?

#ÀFlorDaPele: a beleza da imperfeição
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A manipulação digital de imagens pode criar padrões irreais de beleza, alimentando uma cultura de aspiração inalcançável e contribuindo para problemas de auto-estima e distorção da própria imagem. À medida que os filtros de beleza se tornam omnipresentes em aplicações de social media e de partilha de fotos, a linha entre a beleza real e a idealizada desfoca-se, levando a uma busca incessante por uma perfeição irreal e pouco salutar.

A proliferação de imagens manipuladas pode ter ramificações profundas na sociedade. A publicidade, os meios de comunicação e até mesmo as interações pessoais, podem ser afetados pela perceção distorcida da beleza, levantando questões sobre autenticidade, representação e até mesmo Ética. Como podemos distinguir entre o real e o artificial? Até que ponto a manipulação digital é aceitável? Estas são algumas das perguntas que devem ser cuidadosamente consideradas, à medida que avançamos para um futuro onde a linha entre o virtual e o real se torna cada vez mais turva.

Mulheres e jovens que crescem tendo como referência de beleza um universo de imagens alteradas e manipuladas, acabam por sofrer a pressão de atingir parâmetros inalcançáveis de perfeição, que as pressionam e lhes provocam sofrimento, considerando-se sempre inferiores face à realidade com que são impactadas – porque o que veem não é a realidade, mas sim a manipulação digital e distorcida daquilo que consideram a referência do que é considerado belo.

#ÀFlorDaPele: uma jornada pela igualdade
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Mas há esperança no horizonte. À medida que a consciencialização sobre os efeitos da manipulação digital cresce, há um movimento em direção à celebração da beleza autêntica, real e diversa. Marcas de beleza começam a adotar uma abordagem mais inclusiva, apresentando uma variedade de formas, tamanhos, cores e idades, havendo também um impulso crescente para regulamentar a manipulação de imagens em publicidade e campanhas de media, garantindo que as representações visuais sejam mais fiéis à realidade. A Dove é o exemplo disso. Recentemente, a marca anunciou o seu compromisso em proteger a Beleza Real – algo que tem sido o seu pilar e posicionamento ao longo dos últimos 20 anos – comprometendo-se, por mais 20 anos, em não usar IA para representar mulheres nas suas campanhas. Para a Dove, hoje em dia, a representatividade é mais importante do que nunca e, num mundo em que a tecnologia de IA continua a evoluir, torna-se cada vez mais difícil distinguir entre o que é beleza real e o que é falso.

Num estudo realizado pela marca a nível mundial, foi possível perceber como a beleza impacta as raparigas e mulheres nos dias de hoje, com os resultados a mostrarem que duas em cada cinco mulheres estão dispostas a prescindir de um ano de vida para alcançar a aparência ou corpo ideais, ou nove em cada 10 mulheres e raparigas a afirmarem já terem sido expostas a conteúdos de beleza prejudiciais online.

Consciente desta realidade, a Dove está a renovar os seus votos de proteger a beleza real, comprometendo-se a nunca usar IA para representar mulheres nas suas campanhas e a reforçar esse compromisso através da divulgação de um conjunto de Diretrizes de Prompt de Beleza Real, que consistem em dicas e orientações que ajudarão os utilizadores a usarem as ferramentas de IA de forma mais responsável e consciente, ensinando-os a criarem imagens que sejam representativas da beleza autêntica.

Em última análise, o futuro da beleza e da manipulação de imagens com recurso a Inteligência Artificial é um terreno fértil para o debate e a reflexão. Enquanto abraçamos as possibilidades emocionantes que a tecnologia nos oferece, também devemos permanecer vigilantes contra os seus potenciais efeitos negativos. Somente através de uma abordagem equilibrada e consciente podemos moldar um futuro onde a beleza seja celebrada em todas as suas formas, sem distorções ou ilusões.

Mafalda Santos fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.