Passei grande parte da minha vida adulta a sofrer de problemas nas pernas. Incham com facilidade, fazem imensa retenção de líquidos, doem, e a sensação de peso é de tal forma grande que me condiciona em dias de calor ou com temperaturas mais elevadas.

A juntar a tudo isto, os problemas vasculares também são constantes, tendo já sido operada, em 2016, e de agora, seis anos depois, estar em estado igual ou até pior do que o anterior. Limitações com a pernas sempre foram uma constante na minha vida, tendo sempre sentido que as mesmas são uma parte distinta do meu corpo que, muitas vezes, parece não corresponder à parte superior.

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Se tivermos em linha de conta que meço 1,74 m de altura e que as minhas pernas são dos membros que mais se destacam em mim, as mesmas estão constantemente a dar-me sinais que necessitam de atenção e cuidados regulares sem me dar tréguas. Sempre disse a brincar, desvalorizando a situação, que os meus tornozelos grossos e largos são “patinhas de elefante” e, confesso, sempre invejei secretamente mulheres de tornozelos finos que considero o epitome da elegância.

Só recentemente é que descobri que o que tenho – para além dos problemas vasculares – tem nome e é uma doença crónica, muitas vezes com origem genética, e que dá pelo nome de lipedema, que mais não é do que um edema gorduroso que normalmente se instala nas ancas, pernas, coxas e quadris, levando a uma acumulação de gordura na parte inferior do corpo.

O lipedema afeta sobretudo mulheres – estimando-se que cerca de 20% da população feminina mundial sofra do mesmo, prevendo-se que em Portugal afete quase um milhão de mulheres. Muitas vezes confundido com obesidade, o lipedema foi reconhecido pelos médicos pela primeira vez em 1940, e só em 2018 a Organização Mundial de Saúde o reconheceu como uma doença, estando presente na nova edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que entrou em vigor em janeiro deste ano de 2022.

É frequente as mulheres que sofrem de lipedema sentirem que têm o corpo “dividido”, com a parte superior normal e a inferior desproporcional. O diagnóstico nem sempre é célere ou imediato, e é frequente os médicos confundirem as pernas “gordas” com obesidade e recomendarem dieta e exercício físico. Atividades que aliviam e ajudam, mas que não são solução.

A maioria dos estudos afirma que o lipedema pode ter um cariz hereditário – em média 20% – sendo habitual as pessoas que sofrem desta condição afirmarem que o formato de perna, mais largo, inchado e com acumulação de gordura na zona acima dos tornozelos, ser uma característica familiar, presente nas pernas de várias mulheres da família. Como é frequente a perna não diminuir de volume, mesmo com dietas ou exercício físico, muitas mulheres acabam por resignar-se de que o seu corpo é assim, desproporcional, sem terem um diagnóstico correto ou acompanhamento médico adequado.

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O lipedema pode estar presente desde tenra idade e ir desenvolvendo-se, gradualmente, ao longo da puberdade, podendo piorar em determinados momentos – como a gravidez ou a menopausa – ou até com a toma de contracetivos orais. O lipedema também pode ter um desenvolvimento mais rápido e avançar para estádios mais graves da doença, quando relacionado com distúrbios hormonais, como Hipotiroidismo, Endometriose, Síndrome do Ovário Poliquístico ou até Diabetes.

O correto diagnóstico do lipedema é essencial para a atenuação dos sintomas e para uma maior qualidade de vida das pacientes. Cerca de 87% das mulheres afirmam que o lipedema afeta negativamente a sua qualidade de vida, com 90% a relatar situações de dor diária. Medicação, drenagem linfática manual e até intervenção cirúrgica, podem ser algumas hipóteses no alívio e tratamento desta doença, mas nada como uma consulta com um especialista na área da cirurgia vascular, para exames e um correto diagnóstico. Lembre-se: a doença é crónica, pelo que é importante o seu diagnóstico precoce, de forma a poder ser controlada.

No entanto, se sentir alguns destes sintomas e se sempre teve uma parte superior do corpo magra e a parte inferior mais volumosa, com especial destaque para a zona abaixo do umbigo – rabo, anca e pernas – é possível que tenha lipedema:

- Pernas gordas e inchadas

- Celulite agressiva

- Dor e hematomas com facilidade

- Problemas vasculares e de circulação

- Retenção de líquidos

- Sensibilidade ao toque e cãibras

Em pleno mês de junho, e a um dia do começo do verão, aproveite para olhar para as suas pernas, reconhecer se há algum sintomas ou problema que lhe chame a atenção para as mesmas, e procurar ajuda médica. Não se sinta dividida.

Mafalda Santos  fez das palavras profissão, tendo passado pelo jornalismo, assessoria de imprensa, marketing e media relations. Acredita em quebrar tabus e na educação para a diferença, temas que aborda duas vezes por mês, na Miranda, em #ÀFlorDaPele.